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“Quem conta um conto, aumenta um ponto”: a História e o ofício do historiador.

 

Prof.ª Joyce Oliveira Pereira

Licenciada em História - UFMA

 

Durante alguns momentos de nossas vidas, nos deparamos com momentos de auto-reflexão, crítica e de mudança interior que se reflete externamente no nosso cotidiano. Essa série de textos que o Historiante vai lançar se refere à nossa paixão e causa de existência desse site: a História. Sim, é justamente isso! A partir de agora vamos conhecer, pensar, discutir, analisar questões sobre o que seria a própria História, o que um historiador faz e como ele faz. Assim, seremos capazes de entender quais foram os caminhos percorridos até hoje pela musa de Clio.

Primeiramente vou te lançar um questionamento: O que é História para você? Sugiro que anote sua idéia e, ao fim da leitura retorne a ela e, veja se terá a mesma opinião. Quero que entenda e nunca se esqueça de que História é uma ciência, e uma ciência do homem no tempo e no espaço. Nós estamos sujeitos ao próprio lugar a que pertencemos e no período em que vivemos, para exemplificar melhor, um sujeito que habitava a região da França no século XII não pensava ou existia da mesma maneira que outro sujeito habitante do Rio de Janeiro no século XIX. São temporalidades diferentes, com processos históricos distintos que influenciam na maneira de pensar de cada um.

A História sendo uma ciência possui o seu cientista que a produz (nesse caso, é o historiador) e os métodos e as técnicas para que ele possa cumprir o seu objetivo, que é o “fazer historiográfico”, ou em outras palavras, escrever os estudos históricos. Nosso objeto de trabalho é a experiência do homem no tempo, tentamos compreendê-la como ocorreu respeitando a lógica social em que ela está inserida, assim, temos que pensar e analisar os eventos com o mais próximo possível da mente dos sujeitos do período em que estou estudando. Mas aí, você pode me perguntar: “Por quê o mais próximo possível, Joyce? Por quê não pensar como eles?” Lembra do que falamos mais acima? Somos ligados ao nosso tempo e, como disse um grande historiador somos mais parecidos com nosso tempo, do que com nossos pais.

Outras questões referentes a isso é que o passado nos chega de maneira indireta, através dos vestígios deixados pelos sujeitos de outrora. Esses vestígios podem ser documentos (tais como aqueles que ficam em arquivos históricos), fotografias, livros, diários, roupas, monumentos, músicas... enfim, há uma infinidade de fontes para que o historiador possa usar em seu estudo. Essas fontes são importantes como “portal de acesso” às temporalidades por que elas também foram criadas dentro da experiência do vivido, ou seja, existiam com um objetivo, uma intencionalidade prática de uso, pois, tudo o que produzimos diz respeito à nossa existência.

Representação de Clio, a musa da História. Clio, Pierre Mignard (1689).

Como esses vestígios foram produzidos com um discurso social embutido neles devemos desconfiar, questionar, extorquir se necessário as informações necessárias. Essa relação entre os historiadores e as fontes de pesquisa é que permitirão a (re/de) construção da presença dos sujeitos nos fenômenos sociais e, de que maneira ocorreram esses processos. Assim, o historiador poderá construir racionalmente a experiência do vivido dos sujeitos históricos e, a concretização dessa ciência se dá pela construção de uma narrativa. Esse texto que você está lendo é um exemplo do meu processo de operação historiográfica sobre o tema aqui debatido, eu construí uma narrativa sobre os princípios teóricos básicos do que é a História.
Nós falamos até agora sobre procedimentos de pesquisa, isso tudo parece muito técnico e, na verdade o é, mas, ao contrário do que se pode pensar o trabalho do historiador não é objetivo no sentindo de ser neutro ou não se posicionar ideologicamente, pelo contrário, ela emana subjetividade, pois, desde o inicio, a própria escolha do seu objeto de pesquisa se dará pela afinidade que ele tem com tema, assim, o seu lugar social determinará o assunto, método, fontes que ele irá trabalhar no processo de pesquisa. O modo como ele escreverá terá seu próprio “estilo” de construção argumentativa. Tudo que ele fizer dentro do processo de pesquisa será marca de sua subjetividade enquanto pesquisador e, a construção de sua narrativa, será a sua interpretação sobre o tema abordado.

Esta subjetividade da narrativa de cada historiador é importante, pois, em História não há escritos de verdade absoluta, mas, interpretações relativas. Isso está relacionado às questões já que vimos anteriormente como as fontes, intencionalidades, do acesso indireto ao passado. Assim, o historiador constrói uma representação do real, o que trocando em miúdos pode-se dizer que ele só pode enxergar até a linha do horizonte deixa e, não mais que isso. O historiador constrói sua visão do que é possível ter acontecido, o verossímel. E, parando na primeira estação desta jornada sobre a história a História termino dizendo que cada historiador aumenta um ponto de seu conto e, é assim que tecemos e desmanchamos o fio da História.


Representação das Moiras, que segundo a mitologia grega eram responsáveis por tecer o fio da vida, tanto dos homens como dos deuses. As Moiras, Strudwick (1885)