Guerra total, guerra mundial: batalhas em todo o globo.

Texto 2 – Série Segunda Guerra Mundial

Prof. Pablo Michel Magalhães 
Licenciado em História - UPE 
Especialista em Docência da Filosofia - UCAM 
Mestre em História - UEFS

A Liga das Nações, criada após a Primeira Guerra Mundial, era uma instituição falida, não conseguia promover a paz que tanto almejava: Mussolini e seu exército fascista invadiram a Etiópia, conquistada na base de tiros e bombas; a Alemanha descumpriu todos os pontos do Tratado de Versalhes,  rearmando-se, saindo da Liga e questionando a soberania desta; alemães, italianos e sovietes testaram largamente suas armas na Espanha, durante a Guerra Civil que levou o ditador Francisco Franco ao poder. Para agravar a situação, Grã-Bretanha e França sequer pareciam ter lutado lado a lado entre 1914-1918.

O clima de instabilidade reinante possibilitou que Adolf Hitler promovesse uma verdadeira revolução desenvolvimentista na Alemanha, imprimindo uma política em tudo consoante com seus ideais. E pasmem: muitos líderes mundiais admiravam o führer!

Em questão de tempo, Hitler e a Alemanha conseguiriam retomar seu posto de potência no velho continente, e a ideologia nazista representava sua nova bandeira política.

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Lebensraum, blitzkrieg e outros nomes complicados: os nazistas tomam a iniciativa!

Em 1º de setembro de 1939, reclamando a existência de conflitos na fronteira, a Alemanha, sob as ordens de Hitler, enviou forças alemãs para invasão da Polônia. Com um grande número de tanques blindados de guerra, os chamados Panzers, uma infantaria poderosamente disciplinada e uma frota aérea invejável, os alemães rapidamente ocuparam o país vizinho, pegando os poloneses de surpresa e sem qualquer possibilidade de se defender da chamada blitzkrieg, a guerra relâmpago dos nazistas.

Sabemos que isso aconteceu, mas dificilmente nos perguntamos: por que? Por que logo a Polônia? Antes de mais nada, precisamos saber o porquê do expansionismo alemão. Primeiramente, Hitler e seu partido Nazista reivindicavam um sonhado “espaço vital”, oLebensraum, e pretendiam anexar países que tivessem significativa população germânica, como a Áustria (invadida em março de 1938, sem precisar disparar sequer um tiro, uma vez que o povo austríaco recebeu os soldados alemães com festa, como restauradores da união germânica), a Tchecoslováquia (Hitler reclamou a posse do território tcheco, e sem qualquer interferência da Liga das Nações, invadiu o país, dividindo-o ao meio, tomando posse de uma metade e transformando a outra em um país fantoche) e a Prússia Oriental. A Polônia estava literalmente no meio do caminho, entre Berlim e o território prussiano, e de fato dividia o território alemão.

Depois, era de conhecimento de todos que a Polônia possuía um grande número de habitantes judeus. Com a rendição polonesa, 20 dias depois da invasão alemã, as forças nazistas iniciaram a superexploração do território conquistado, usando e abusando da mão-de-obra de judeus, poloneses e demais etnias. A Polônia, assim, deixou de existir enquanto Estado independente.

Essa foi a primeira movimentação bélica que desencadeou a Segunda Guerra Mundial. Até então, acordos diplomáticos e muita conversa tinham permitido que Hitler e a Alemanha conquistassem espaço.

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Um a um, os pontos do Tratado de Versalhes foram sendo desobedecidos por parte da Alemanha: suas forças militares foram reativadas, e uma política de rearmamento passou a ser praticada às claras; sob a vista grossa da marinha britânica, Hitler promovia uma reorganização e modernização nunca antes vistas dos navios mercantes e de guerra alemães; diante da ocupação da Polônia, a Inglaterra e a França quase não se movimentaram, apesar de terem declarado guerra à Alemanha, tendo os franceses entrincheirado-se atrás da famigerada linha Maginot.

Os alemães, diante da linha Maginot, simplesmente “deram a volta” e invadiram a França. (Imagem: the-rioblog.blogspot.com)

Os franceses pensavam estar seguros por trás dessa linha de fortificações, erigidas após a Primeira Guerra Mundial, que separava a fronteira com a Alemanha. A ideia de André Maginot era a de construir uma super trincheira, invencível. Claro, ele ainda tinha em mente as longas batalhas de trincheiras da guerra anterior. Porém, a linha não cobria toda a fronteira francesa, apenas a parte em que fazia contato com a Alemanha. Isso permitiu que o exército de Hitler, literalmente, desse a volta e invadisse a França, em 1940.

Tendo firmado um tratado de não-agressão com a União Soviética, em 1939 (assinado pelos ministros das relações exteriores Molotov, russo, e Ribentropp, alemão, sob a aprovação de Stalin) Hitler evitava, assim, uma guerra de duas frentes. Apesar de se apresentar como um líder político pacífico, e pregar a não-violência publicamente, em segredo, para seu círculo de fiéis seguidores, ele arquitetava uma série de ataques relâmpago, que visavam a conquista do “espaço vital” (Lebensraum) e o triunfo sobre França e Inglaterra, seus principais algozes na Grande Guerra anterior e adversários poderosos na conquista da soberania mundial que tanto almejava. Além disso, era de seu interesse conquistar a União Soviética, pátria do socialismo e do comunismo, ideologias perigosas para o Nazismo que, na década de 1930, havia extirpado esses ideais de solo alemão.

Com tudo isso, sabemos que a Polônia pagou o pato. Conquistada, explorada, humilhada, ela foi submetida ao poderio alemão.

Uma vez que havia conseguido anexar o número de territórios necessários para o projeto da “Grande Alemanha”, e sem o perigo de ser atacado por leste, pela União Soviética, Hitler operou sua máquina rápida e letal, a Blitzkrieg, em direção à França.

No lado ocidental, até então, pouca ou quase nenhuma movimentação estava acontecendo. Nos mares, alguns navios franceses haviam sido abatidos, mas os alemães não conseguiam se sobrepor à marinha britânica, superior e melhor equipada. Impedidos de acessar os mares do norte, os nazistas invadiram a Dinamarca e Noruega, entre abril e maio de 1940, atrás de fontes para alimentar a indústria alemã. A partir daí, a campanha relâmpago contra a França seria infalível.

Como sabemos, pensavam os franceses que a linha Maginot os protegia. Mon dieu! Pobres franceses! Os alemães utilizaram-se de uma tática nada nova para superar a imensa trincheira francesa: a invasão da Bélgica e da Holanda. Mesmo tendo declarado a neutralidade destes dois países, Hitler enviou a temida Luftwaffe (Força aérea alemã) realizar uma série de bombardeamentos nas cidades holandesas e belgas, matando e assustando milhares de civis. Sem qualquer alvo militar em vista, a ideia era promover o caos, forçando a rendição.

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Diante desta movimentação, exércitos ingleses e franceses buscaram, a todo custo, conter a máquina de guerra alemã, que parecia mais um rolo compressor. Por onde passava, destruía e esmagava o que visse pela frente. Porém, a Blitzkrieg foi superior aos esforços dos aliados anglo-franceses, que bateram em retirada ainda na Bélgica (a marinha britânica conseguiu resgatar mais de 350 mil soldados aliados).

O derrotismo francês era muito forte, e mesmo na Inglaterra vários políticos e militares demonstravam certo sentimento de desistência diante das investidas alemãs. A desorganização francesa era tanta que não possuíam tática de contra ataque em pauta, e o marechal Pétain já mostrava certo conformismo com a iminente derrota. Em 4 de junho de 1940, os alemães marcharam pelas ruas de Paris, decretando sua vitória sobre os franceses.

Albert Speer, Adolph Hitler e Arno Breker em Paris, tendo ao fundo a Torre Eiffel.

Hitler utilizou-se da mesma prática aplicada à Tchecoslováquia em relação à França dominada: dividiu-a em duas partes. Uma, ocupada por nazistas, ao norte, e por italianos fascistas, no sudeste. A outra, ao sul, ficou conhecida como República de Vichy, ou França de Vichy governada, vejam vocês, pelo velho Petáin, o derrotista francês! Era um Estado fantoche dos Nazistas. A França de Vichy foi transformada em um país fascista, repressor e praticante das políticas raciais alemãs.

Com seus planos sobre a França concretizados, Hitler voltou suas atenções para a Grã-Bretanha. O próximo passo seria a conquista, por via aérea, da maior potência europeia, e que mais desafiava os planos alemães. Novamente, os nazistas lançaram mão de sua esquadra aérea, a temida Luftwafe. Os números impressionam: 1.400 bombardeiros e mais de 1.000 caças foram enviados para a Operação Leão-Marinho, despejando toneladas e mais toneladas de bombas em portos, aeroportos, vilas e cidades. Londres também foi atingida.

No entanto, diferentemente da França, os alemães encontraram resistência muito bem treinada. A Real Força Aérea com seus Spitfires enfrentaram os aviões alemães e os venceram. Mais de 1.700 aviões da Alemanha foram abatidos. A batalha aérea foi desastrosa para os planos de rápida vitória da Blitzkrieg.

Hitler adiou seus planos de conquista da Grã-Bretanha. Em 27 de setembro de 1940, ele, Mussolini e Hirohito uniam seus Estados no Pacto Tripartite, ou Pacto do Eixo. Assim, Alemanha, Itália e Império Japonês formavam uma aliança militar.

Poucos sabem, mas até Junho de 1941, os alemãs gozaram de certa tranquilidade e soberania no continente. Os ingleses buscavam se recuperar do recente ataque alemão, a França livre já não existia (De Gaule organizava a resistência na Argélia contra os nazistas) e a União Soviética, apesar de se sentir ameaçada pela Alemanha (a aliança com os japoneses, inimigos recentes dos soviéticos, não cheirava nada bem), fiava-se no acordo de não-agressão assinado em 1939. Uma péssima escolha a dos soviéticos.

Hitler queria conquistar a URSS, e pôs seu plano em prática em 22 de Junho de 1941, com a operação Barbarossa.

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GUERRA TOTAL, GUERRA MUNDIAL

Chamamos guerra Total uma batalha que envolva todos os habitantes de um país, que mobilize todas as classes, e que não faça distinção entre campo de batalha e campo civil ou neutro. Dessa maneira, tal como na Primeira Guerra, a Segunda Grande Guerra foi uma guerra total: enquanto os homens em idade militar fora ao campo e batalha, as mulheres foram responsáveis pela produção industrial dos países, e eram elas quem forneciam, por exemplo, fardamentos e munições à frente de combate; cidades foram totalmente destruídas como parte de estratégia de guerra, mesmo sem possuir qualquer foco militar ou presença de soldados inimigos, fazendo milhares de civis vítimas.

Desde a agricultura, passando pela indústria, todos os setores econômicos, por exemplo, da Alemanha, França e Inglaterra foram envolvidos nos esforços de guerra. E os líderes mundiais sabiam de uma coisa: venceria a guerra quem produzisse mais. Uma das potências do Eixo, o Japão, trabalhava em cima disso. Ele buscava espaço para desenvolvimento de sua indústria, bem como fontes de matéria prima para abastecê-la. Sua geografia o impedia disso, e a solução foi conquistar novos territórios. As guerras sino-japonesas, contra a China (1937-1945), e os conflitos com a União Soviética (entre 1932 e 1939, e logo depois, a partir de 1941, após a invasão alemã do território soviético) são fruto da ideia expansionista japonesa.

Mais território, mais espaço, mais desenvolvimento. Foi pensando nisso que, em 7 de dezembro de 1941, os japoneses promoveram o ataque surpresa à base americana de Pearl Harbor, no Havaí. Os americanos exerciam grande influência nos mares do Pacífico, e os japoneses queriam ter essa supremacia para concretizar seus ideais expansionistas. Não contavam que fossem despertar um gigante adormecido contra si próprios.

Aos poucos, a guerra que envolvia alguns países no continente europeu foi tornando-se mundial. Podemos sinalizar o ano de 1942 como ponto de partida para a ampliação da Segunda Guerra Mundial, com a criação da Aliança (EUA, Inglaterra e URSS) e a entrada de uma série de países do lado dos aliados (China, Austrália, África do Sul, inclusive o Brasil).

A exemplo da Ásia e dos mares do pacífico, onde o Japão desenvolvia suas atividades bélicas, a África foi palco de várias batalhas entre alemães e italianos, de um lado, e britânicos e americanos, além de várias tropas de demais países aliados, do outro.

O gerenal alemão Erwin Rommel (em destaque), a Raposa do deserto.

Diante da tentativa de expansão italiana, da Líbia ao Egito, os britânicos agiram e rechaçaram os combatentes de Mussolini. Na tentativa de auxiliar seus aliados, os alemães enviaram o general Erwin Rommel, a Raposa do deserto, hábil estrategista. Apesar de ter conseguido várias grandes vitórias, ele não foi páreo para as ofensivas britânicas em 1942, municiadas pelo farto material de guerra fornecido pelos americanos. A batalha de El Alamein e a ofensiva de ingleses e americanos no Marrocos foram decisivos para a derrota da Alemanha e da Itália.

Continua…

Nosso próximo passo, a Operação Barbarossa. Os alemães se preparam para invadir e derrotar os russos, seguindo seu ideal de guerra rápida, temendo o potencial que a União Soviética tinha, pelo seu espaço geográfico e fonte de riquezas. Mal sabiam que seria nesse confronto com os vermelhos que começaria o princípio do seu fim.

Em breve, confira o texto 3: E os aliados vencem (quando inimigos se unem contra um mal comum).