Da redação
Fome, sujeira, tristezas… Medo, explosões, saudades… Um misto de várias emoções e tiros. Eis aí um quadro bastante comum durante a fase de entrincheiramento da Primeira Guerra Mundial. A guerra curta e gloriosa, esperada por muitos dos seus entusiastas, passou a demonstrar ser muito mais lenta, encarniçada e longa.
Mil, dez mil, cem mil, o número de mortos e feridos só aumentava, e os generais que esperavam uma guerra “romântica”, aos moldes das batalhas dos séculos XVIII e XIX, com hora marcada e chá para discutir os rumos do conflito, tiveram que se adaptar a ordenar aos seus comandados que atacassem cidades, matando civis, caso isso fosse necessário.
Num momento como esse, um fato destoante chama a atenção: em uma noite de Natal, em 1914, soldados até então inimigos fazem uma trégua e confraternizam. Saudosos de suas casas, desgastados com o conflito, enfiados em trincheiras lamacentas e povoadas por ratazanas, estes soldados franceses, escoceses e alemães questionavam a si mesmos os motivos de estarem digladiando-se naquele lugar.
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Após uma noite em companhia uns dos outros, em paz, o dia seguinte foi de futebol e conversas. Aos poucos, voltar aos postos de batalha e ter de matar o “inimigo” parecia, cada vez mais, uma tarefa pesada, dificultosa, impossível.
Aos mais atentos, o filme Feliz Natal (Joyeux Noël), dirigido por Christian Carion, ao relatar a trégua (verídica!) no Natal de 1914 entre soldados de ambos os lados, na Frente Ocidental, através dos olhares de cada um, busca mostrar ao espectador que, para além de homens com a obrigação de tirar a vida do inimigo, havia ali pessoas de carne e osso, que sofriam com a distância de casa, com a saudade dos entes queridos, com a vontade de levar suas vidas normais, seus cotidianos comuns, nas cidades de onde vinham.
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Numa produção em conjunto (França, Bélgica, Alemanha, Inglaterra e Romênia), o filme é um registro interessante, que mostra uma Grande Guerra que muitos ignoram, por não ser aquela das grandes táticas de guerra, dos tanques, aviões e submarinos, dos generais e sua sede por vitória.
Pelo contrário, é um filme até mesmo sobre a rejeição à Grande Guerra, sobre o desejo de retorno o mais rápido possível daqueles que devem cumprir o pesado dever de carregar armas.