Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil foi um dos países que mais recebeu espiões nazistas na América do Sul. Dois desses agentes foram Albrecht Gustav Engels e Herbert Von Heyer, que realizaram operações de espionagem para o regime nazista em território brasileiro.
Da redação
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil se tornou um importante ponto estratégico para as operações dos Aliados, já que o país possuía uma posição geográfica privilegiada para a defesa do Atlântico Sul. No entanto, também se tornou um alvo para as atividades dos espiões nazistas que tentavam minar a aliança entre Brasil e Estados Unidos.
Segundo Stanley E. Hilton em seu livro “Suástica sobre o Brasil: a história da espionagem alemã no Brasil, 1939-1944”, “a espionagem nazista no Brasil tinha como alvo principal os movimentos navais dos aliados. Navios carregados com minério de ferro, manganês, borracha e outros produtos estratégicos eram especialmente vulneráveis”.
Em 1942, um grupo de espiões nazistas foi descoberto no Brasil pelas autoridades brasileiras em colaboração com os serviços de inteligência norte-americanos. O grupo, liderado pelo agente alemão Herbert von Heyer, atuava em diversas partes do país, coletando informações militares e sabotando instalações importantes.
Von Heyer, enviado ao Brasil pelo serviço secreto alemão, trabalhava disfarçado como diretor de uma companhia de navegação alemã. Ele recrutou outros alemães e brasileiros simpatizantes do nazismo para o seu grupo, que se comunicava através de rádio com a Alemanha.
A descoberta do grupo, contudo, ocorreu após a captura de um espião alemão em Natal, no Rio Grande do Norte, que revelou informações sobre a rede de espionagem em operação no Brasil. Com a ajuda dos Estados Unidos, as autoridades brasileiras iniciaram uma investigação que resultou na prisão de von Heyer e outros membros do grupo.
Albrecht Gustav Engels, o outro espião
Albrecht Gustav Engels foi um dos espiões nazistas que atuaram no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial. Nascido na Alemanha em 1910, Engels veio ao Brasil na década de 1920, buscando emprego em uma terra próspera. Em 1940, após viagem de férias à Europa, entrou para o serviço da inteligência nazista, retornando ao Brasil com a missão de obter informações estratégicas sobre a navegação marítima no país e sabotar os esforços dos aliados na região.
A atuação de Engels no Brasil, no entanto, foi breve, durando apenas alguns meses. A Polícia Federal brasileira o descobriu em 1942, após uma denúncia anônima, mantendo-o detido em um presídio no Rio de Janeiro.
Durante o interrogatório, Engels confessou sua atividade de espionagem para os nazistas e forneceu informações valiosas sobre a rede de espionagem nazista no Brasil. Ele também admitiu, por conseguinte, ter recebido treinamento na Alemanha para sabotar navios, com a intenção de prejudicar a navegação dos aliados na costa brasileira.
A repercussão da impresa sobre a espionagem
As atividades nazistas e a ação da polícia, de fato, estamparam os jornais da época. como o jornal O Estado de S. Paulo, que publicou uma longa matéria no dia 31 de março de 1943, onde apresenta as principais novidades no caso envolvendo Heyer, apontado como um dos principais agentes de espionagem alemã.
O jornal A Noite também noticiou as ações dos espiões nazistas em sua edição de 8 de fevereiro de 1943, com uma matéria intitulada “Enviaram a Berlim ‘croquis’ de aeroportos brasileiros!”. A reportagem apresenta o número de agentes processados pela Delegacia Especial de Segurança Política e Social: 64.
Organizados em subgrupos chefiados por diversos agentes, os nazistas infiltrados (alemães e húngaros) desenvolvera, dessa forma, uma rede de comunicação e reportavam à Alemanha informações vitais do país. O grupo utilizava telegramas codificados para informar o deslocamento de tropas e envio de navios para o front de guerra.
A descoberta do grupo de espiões nazistas no Brasil, dessa maneira, demonstrou a importância da colaboração entre as nações no combate ao terrorismo e à espionagem durante períodos de conflito.
Os processos contra a espionagem
Após a Segunda Guerra Mundial, os agentes alemães foram, finalmente, julgados e condenados por espionagem e traição. O episódio ficou marcado como um dos momentos mais tensos da história do Brasil durante o conflito e um lembrete das ameaças que a democracia e a liberdade podem enfrentar.
Engels, enfim, foi processado e condenado a 30 anos de prisão pelo crime de espionagem. Ele cumpriu sua pena em presídios no Brasil, sendo transferido diversas vezes devido a tentativas de fuga e conflitos com outros detentos. Em 1949, contudo, após quase oito anos de prisão, Engels conseguiu sua liberdade no Brasil e chegou a ser presidente da empresa Telefunken no Brasil, em 1961 — era uma empresa alemã fabricante de rádios, televisores e componentes eletrotécnicos, fundada em 1903. Anos mais tarde, Engels retornou à Alemanha e morreu em junho de 1977, aos 78 anos.