Uma série de seis desenhos do final da Segunda Guerra Mundial, do autor norte-americano August M. Froehlich, aborda o genocídio judeu
Da redação
Com informações de El País
Em 1945, em pleno conflito e com parte da Europa ainda ocupada, a máquina de matar nazista foi refletida nos Estados Unidos em um folheto com seis desenhos que inclui uma das primeiras ilustrações de uma câmara de gás em um campo de extermínio visto neste tipo de formato.
Quem afirma é o historiador holandês Kees Ribbens, que encontrou a página e agora publica um estudo no qual argumenta que uma apresentação típica da cultura popular foi usada para abordar o dilema ético do espectador de um genocídio em andamento.
A sequência dos desenhos sobre o genocídio é assinada pelo ilustrador austríaco August Froehlich, que chegou aos Estados Unidos em 1909. Intitulado Nazi Death Parade (desfile da morte nazista), reúne as últimas horas dos prisioneiros judeus e da comunidade Roma e Sinti aniquilados em Majdanek, no sul da Polônia ocupada.
Na história, pode-se ver como eles são forçados a entrar em trens de carga; a remoção de suas roupas, sapatos e outros pertences; a entrada de crianças e adultos nus em chuveiros supostamente preparados para eliminar piolhos; a liberação do gás ZyKlon B —nome comercial de um pesticida à base de cianeto— e a terrível agonia dos prisioneiros, que são vigiados de fora por um oficial nazista; a subsequente extração dos dentes de ouro dos cadáveres. O último quadrinho é o dos crematórios: um soldado coloca um cadáver no forno enquanto outro homem uniformizado segura a porta de metal.
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O que foi o Holocausto
Câmaras de gás foram utilizadas no Terceiro Reich como parte da Aktion T4, um programa público destinado a eliminar pessoas com defeitos físicos, mentais ou “morais” e políticos indesejáveis nas décadas de 1930 e 1940.
Em junho de 1942 centenas de prisioneiros do campo de concentração de Neuengamme, entre os quais 45 holandeses comunistas, foram mortos em Bernburg. Naquela época, o gás usado era o monóxido de carbono, do escape de carros movidos a gasolina, caminhões ou tanques do exército.
Durante o Holocausto, câmaras de gás foram projetados para aceitar grandes grupos, como parte da política nazista de genocídio contra judeus. Os nazistas também tinham como alvo ciganos, homossexuais, deficientes físicos e mentais, intelectuais e do clero. De acordo com o Projeto Nizkor, em 3 de setembro de 1941, 600 prisioneiros de guerra soviéticos foram gaseados com Zyklon B em Auschwitz I, esta foi a primeira experiência com o gás em Auschwitz.
As câmaras de gás foram desmantelados ou destruídas quando as tropas aliadas chegaram. A câmara de gás em Auschwitz I foi reconstruída após a guerra como um memorial, mas sem a porta e sem o muro que originalmente separava a câmara de gás de um banheiro. A porta que tinham sido adicionada, quando a câmara de gás foi convertida em um abrigo antioxigênio, foi deixada intacta.
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A história por trás dos quadrinhos
Froehlich começou fazendo pôsteres e colaborando em livros e revistas, e depois trabalhou com cinema, em produtoras como a Universal. Embora tenha desenhado biografias a partir de 1940, incluindo a do primeiro-ministro britânico Winston Churchill, e em vários quadrinhos de aventura, aplicou seu conhecimento de histórias em quadrinhos ao Holocausto quando pouco se sabia sobre o que acontecia nos campos de extermínio.
A história, sem diálogo, apareceu em um volume de 50 páginas intitulado The Bloody Record of Nazi Atrocities (o sangrento registro das atrocidades nazistas), preparado em 1944 e publicado no início de 1945.
Froehlich baseou sua história gráfica nos testemunhos coletados na imprensa russa após a libertação de Majdanek, que foi o primeiro dos campos de concentração abertos pelos aliados.
Na opinião do historiador holandês Kees Ribbens, que trabalha no Instituto de Pesquisa sobre Guerra, Holocausto e Genocídio (NIOD), em Amsterdã, é estranho que o cartunista não mencione a fonte jornalística russa da história. Talvez fosse para não soar propagandístico, “porque os repórteres russos estiveram com as tropas de seu país na Polônia em 1944, e tudo relacionado aos campos de concentração poderia parecer contaminado pela propaganda”.
O impacto dessas ilustrações foi relativo porque chegou às ruas duas semanas antes da libertação de Auschwitz, em janeiro de 1945, um evento que por si só justificou o esforço de guerra dos Estados Unidos e obscureceu o trabalho de August Froehlich.