Joyce Oliveira Pereira Mestre em História - UEMA Doutoranda em História - UEMA
Em meio aos textos acadêmicos, um dia deparei-me com um título interessante: “A mulher que pariu um peixe e outros contos de Severa Rosa”. De vez em quando, ao lembrar de comprar livros, esse vinha na cabeça. Logo tive a felicidade de encontra-lo e saber quais histórias estavam atrás da minha imaginação.
Eu não vou contar tudo, pois, como bons contos, eles deixam no ar aquela sensação de reflexão a partir de quem conta, o narrador. Entretanto, essas narrativas são excelentes contranarrativas ao que está estabelecidos aos marginalizados da história que, muitas vezes são estereotipados nos manuais didáticos: indígenas, africanos, afro-brasileiros em suas diferentes perspectivas de gênero, raça e classe.
Um dos principais desafios do ensino de história é humanizar os sujeitos através de narrativas que consigam representar os grupos sociais e sua memória para a formação de sujeitos cidadãos que reforcem a democracia. Mas como fazer isso sem formação específica?
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Retomando Benjamim, uma operação a contrapelo é necessária para encontrar nas narrativas orais (que foram transcritas e escritas) os núcleos duros de repetição que são os indícios necessários para a investigação da historiografia.
A mulher e o peixe
O que a “Mulher que pariu o peixe” nos traz de dados históricos? Relações com a natureza, dados sobre atividade econômica, vida social. Mais do que o fantástico, isso pode ser uma cosmogonia? Há relação direta com aspectos geográficos do território?
Aí está o trabalho do historiador e, todo professor/professora de História tem de sê-lo. A investigação é que leva nossos discentes a perceber que a história não está só nos livros, mas no cotidiano e, nessa relação é que a consciência histórica é construída.
Veja bem isso, a relação entre contos-grupo-território é essencial para a compreensão das estruturas sociais, políticas econômicas, religiosas e culturais.
O que “A cabaça de desejos” fala sobre as relações de gênero no tempo? Sempre foi assim? Quando mudou? Por quê? O que isso pode ensinar aos nossos discentes sobre relações afetivas saudáveis? Sobre a exploração do trabalho feminino?
O trabalho com os contos permite o uso de uma fonte histórica, a literatura, como recurso didático, além que der possuir uma linguagem que chama atenção pelo recursos literários da própria narrativa que instigam a curiosidade, a atenção, o questionamento.
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Severa Rosa e suas memórias, que vivem na memória nos seus descendentes, existiu, ou seja, é um sujeito histórico, como todos nós somos e produzimos história ao longo de nossa existência. Uma existência que agora vai ser perpetuar em mim e para quem eu contar esses contos. Não inventando e nem aumentando (os historiadores não fazem isso), mas tecendo pontos no grande tecido que é a História e o seu Ensino.