Calabar - o elogio da traição.

                                                                                                                                                  

  

 

10/05/2013

Calabar - o elogio da traição.

 

Prof. Neto Almeida

(Clique aqui e confira os textos deste autor)

 

           

O período da História colonial do Brasil é por todos conhecido como um momento de forte controle português e intenso conflito pelo domínio da terra a ser explorada. Alvo da cobiça de inúmeras nações, o Brasil foi invadido diversas vezes, além da investida de Portugal, em 1500. Estes visitantes chegaram às terras brasílicas não com uma intenção de cordialidade com os nativos, mas com intuito parecido com os de Portugal, explorar para obter lucratividade dentro de um sistema mercantil; povos como os ingleses, franceses, espanhóis e holandeses foram visitantes constantes por esses lados do Atlântico.

 

Domingos Fernandes Calabar – era um mulato, pobre, nascido na província de Porto Calvo, atual Estado das Alagoas, e tornou-se, durante o ano de 1632, sujeito histórico durante uma dessas invasões, a investida holandesa às terras da colônia portuguesa.

 

Para contextualizar, a Holanda tentou por duas vezes ocupar as terras do atual Nordeste do Brasil, durante o período colonial, as chamadas Invasões Holandesas, que não tiveram o sucesso desejado no ano de 1624, quando invadiram a Bahia e foram expulsos daquela região.

 

 

Representação de Calabar. Fonte: ONordeste.com

 

 

Você pode estar se perguntando: “mas qual o interesse dos holandeses em invadir a Bahia durante o Brasil Colonial?” Principalmente, aumentar seus lucros e fortalecer a Companhia de Comércio das Índias Orientais. Interessante observar que, nesse mesmo período, Portugal e Espanha estavam passando pelo período de união de suas coroas, a chamada União Ibérica, que perdurou entre os anos de 1580 e 1640, permitindo assim algumas investidas por nosso litoral de outros exploradores daquele período.

 

A segunda tentativa de invasão ao Brasil colônia seria no ano de 1630, dessa vez na região de Pernambuco – maior mercado açucareiro da colônia; é justamente nessa segunda invasão que Calabar começa a ser um sujeito singular em nosso estudo, pois era profundo conhecedor da região invadida. Os holandeses obtiveram sucesso e se fixaram na região até o ano de 1654, sendo expulsos somente após conflitos violentos e sangrentos com os portugueses.

 

 

A conquista e a dominação holandesa. Fonte: dominiopublico.com

 

 

Mais tarde, os holandeses ainda tomariam as províncias de Itamaracá, Paraíba, Rio Grande do Norte, passando pelo Ceará e chegando ao extremo Norte da colônia, no atual Estado do Maranhão, dominando toda a parte litorânea e promovendo mudanças estruturais na colônia. (Veja o mapa ao lado)

 

A estadia holandesa desse lado do Atlântico nos revela alguns capítulos importantes da formação do Brasil, por isso trataremos aqui do caso já apresentado de Domingos Fernandes Calabar, ou simplesmente Calabar, que no ano de 1632, antes mesmo do Governo de Mauricio de Nassau, deixou de combater pelas tropas de Portugal, passando a apoiar e a servir às tropas holandesas – Calabar, desse momento em diante, seria visto como um traidor da pátria pelos portugueses, porque mudou de lado em pleno período de combate aos holandeses.

 

Até hoje não se sabe por que Calabar mudou de lado; qual teriam sido os motivos de combater pelo lado holandês? Bem verdade é que algumas hipóteses são apontadas como justificativa de resposta.

 

Primeiro, teria Calabar uma grande ambição em conquistar títulos e riquezas em um curto período de tempo. Combatendo ao lado dos holandeses, isto seria mais fácil, por ser o próprio Calabar um dos mais valorizados soldados nas tropas da Companhia das Índias Ocidentais do que nas tropas portuguesas de Matias de Albuquerque, que lutou para expulsar os flamengos.

 

Segundo, acreditaria Calabar que a vitória holandesa seria certa, e isto, na opinião dele, era melhor para o Brasil. Contudo, essa hipótese parece ser mais fraca, pois, no período, a resistência aos holandeses ainda era intensa, e não havia uma consolidação nem militar, nem em termos de aceitação por parte dos moradores de Pernambuco, muito menos dos comandantes portugueses. O governo de Nassau ainda não tinha se iniciado e as conquistas no litoral ainda não apontavam para um sucesso da investida holandesa.

 

Contudo, esse estudo não busca uma verdade sobre as causas da luta de Calabar ao lado dos batavos, como eram conhecidos os holandeses, e sim problematizar a questão da traição feita por este sujeito.

 

Será que já havia nesse momento, em pleno século XVII, um sentimento de pertencimento a uma nação? É possível encontrar no Brasil desse período o sentimento nacionalista?  Por conta de sua ação a favor da Holanda, Calabar seria banido por muito tempo dos livros de História do Brasil. Além disso, a nomeação dos espaços que se utiliza de sujeitos históricos para nomear as praças, ruas, escolas públicas e prédios pouco citam Calabar em suas homenagens. Talvez seja um resquício de seu esquecimento na História do colonizador que se considerou traído.

 

           

 

(Texto do Prof. Neto Almeida, da redação d'O Historiante)

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Confira também:

 

- LOPES, Ana Cristína Caminha Viana. Calabar, o elogio da traição : um novo drama histórico. 2006. 182 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Ceará, Departamento de Literatura Brasileira, Fortaleza-CE, 2006.

 

- MENEZES, Washington Mota. As máscaras enunciativas do discurso dramático-musical de Chico Buarque. 2005. 124f. Dissertação (Mestrado) em Lingüística. Universidade Federal do Ceará, 2005. 

 

 

 
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