31/10/2012
CAPOEIRA NO BRASIL.
Como essa arte foi construída em nosso país.
Prof.
Carlos Alberto A. Lima
Ao
abordarmos a história da prática da capoeira no Brasil
devemos, antes de tudo, resgatar a história da
escravidão no país: quatrocentos anos de horrores e
serviços forçados, para alimentar uma elite rica e
gananciosa que vivia para o acúmulo de capitais e
manutenção de seus privilégios.
O escravo
negro não conhecia a terra brasilis e nem a
língua falada aqui, a região, o clima, animais, plantas,
nada disso ele conhecia. Separado da família e dos
amigos, o negro tinha um só direito: trabalhar,
trabalhar e apanhar... Nesse ambiente, nasce o espírito
de camaradagem entre os escravos de várias etnias
diferentes (Bantos, Sudaneses, Angolas, etc.) e é dessa
forma, nessa mistura de culturas africanas que nasce à
capoeira, que nasceu brinquedo, dança, jogo. Ajudava aos
escravos matar a saudade da terra e de seus ancestrais,
através da música, do batuque e das histórias contadas
nas rodas. Era um momento de alegria, um dos poucos...
(Imagem/reprodução: fotografia de
Pierre Verger)
Com o desenvolvimento dos ambientes citadinos – entre o
final do século XVIII e o século XIX - nasce uma nova
capoeira que agora sai das senzalas e chega as ruas,
praças e largos das principais urbes brasileira. A
intensidade das trocas comerciais e a conseqüente
atração de pessoas nessas cidades, contribuíram para o
desenvolvimento da diversidade cultural e também para a
expansão da Capoeira. Nesse contexto aprendia-se a
capoeira jogando e observando as rodas, com destaque
para as festas religiosas, não vista ainda como prática
criminosa. Porém, era tida como jogo de negros, o que a
tornava marginalizada pela sociedade branca das cidades.
Ao longo do século XIX a capoeira crescia, evoluía,
tornava-se arma das pessoas que viviam nas ruas: não era
só o negro praticante da capoeira. Ela era jogada também
por mulatos, mamelucos, brancos. O contato e a interação
desses grupos contribuíram para moldar a capoeira
moderna.
(Imagem/reprodução: fotografia de
Pierre Verger)
A partir da segunda metade do sec. XIX o berimbau passa
a figurar nas rodas de capoeira. Até então, as rodas
eram marcadas pelo ritmo do atabaque, pandeiro e outros
instrumentos de percussão. Com essa incorporação,
inicia-se o processo de desenvolvimento da capoeira
moderna, consolidada no século XX, pelos Mestres
Pastinha e Bimba. As Cidades do Rio de Janeiro, Salvador
e São Luís sempre se destacaram por serem os maiores
focos da prática da capoeira urbana. Assim, onde havia
concentração de pessoas, lá estava a capoeira.
Em 1892, a capoeira passa a fazer parte do código penal,
inclusa no artigo 402. De indesejável agora se torna
proibida e com status de crime. O individuo que fosse
surpreendido jogando a capoeira seria preso e, se
condenado, poderia ser punido a trabalhos forçados na
Ilha de Fernando de Noronha, com uma pena que variava
entre 4 e 6 meses.
(Imagem/reprodução: fotografia de
Pierre Verger)
Só no primeiro ano de vigência da lei o Chefe de Polícia
do Rio de Janeiro, Sampaio Ferraz mandou para Fernando
Noronha cerca de 400 capoeiristas, sendo que desses, 65%
foram considerados brancos, 20% estrangeiros e apenas
15% de negros. Como se vê, ela já não era apenas
restrita a população afro-brasileira. O que aproximava
esses “capoeiras” era muito mais a situação econômica e
o seu posicionamento social, marcadamente pobres e
marginais perante a sociedade brasileira.
Na década 1920 com o surgimento de um sentimento
nacionalista nas artes e na cultura do Brasil,
aglutinado e potencializado na Semana da Arte Moderna de
1922, que se destacou por um possível resgate da cultura
genuinamente Nacional, a capoeira recebe o status de um
símbolo de brasilidade, sendo tomada agora como
Ginástica Nacional Brasileira. Como parte dessa nova
fase,
Mestre
Zuma idealizou, em 1928, o primeiro manual da capoeira
sem
mestre,
método didático, onde o leitor através do livro tinha
conhecimento da capoeira como jogo e luta.
Nesse momento Bimba e Pastinha já são famosos como
Mestres. Em 1923,
mestre
Bimba, cria a capoeira Regional da Bahia, uma
ramificação da capoeira de Angola, que até então era
chamada apenas de capoeira e só. Uma curiosidade: quando
mestre Bimba alcunhou a sua ginga como Regional,
Pastinha então chamou a dele de Angola, para
diferenciar-se. Dentre algumas diferenças, nota-se a
preocupação de Mestre Bimba, tentando dinamizar,
acrescentando à Capoeira vários movimentos/golpes de
artes marciais.
(Imagem/reprodução: Mestre Bimba)
Em 1933, após uma apresentação de
mestre
Bimba e seus alunos para o então interventor da Bahia,
Juraci Magalhães, houve um movimento para
descriminalização da capoeira, iniciando assim, uma nova
era para a capoeira no Brasil.
A partir de Bimba e Pastinha a capoeira passa a ser
ensinada nas academias, com metodologia própria e
possibilitando a qualquer pessoa a prática desta arte.
Confira também:
Documentário "Mestre Bimba - A Capoeira Iluminada",
dirigido por Luiz Fernando Goulart.
Clique aqui
para assistir.
Filme
"Besouro", dirigido por João Daniel Tikhomiroff.
(Texto do
Prof. Carlos Alberto A. Lima, da redação d'O Historiante)
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