Rei dos Francos e
imperador do Ocidente, Carlos Magno foi o primogênito de Pepino, o
Breve, primeiro monarca da
dinastia Carolíngia. Recebeu a unção real na mesma ocasião em
que o papa Estevão 2º, mediante a sagração de Pepino, legitimou o
poder da nova dinastia e selou uma aliança entre a Igreja de Roma e
a monarquia franca.
Também o irmão de Carlos Magno, Carlomano, foi ungido - e, por morte
de Pepino, em 768, ambos partilharam a herança paterna.
Até 771, Carlos Magno reinou sobre parte do território franco cujo
núcleo era a Austrásia, a mais importante das províncias
merovíngias. Ao morrer Carlomano, porém, Carlos Magno usurpou a
coroa dos sobrinhos, unificando os domínios, e tornou-se o único rei
dos francos.
Como rei, Carlos Magno destacou-se pelo valor guerreiro e pela
habilidade política, realizando sucessivas campanhas militares que
lhe valeram o renome de maior soberano da Europa medieval.
Em 25 de dezembro de 800, o papa Leão 3º restaurou o império do
Ocidente em proveito de Carlos Magno, que, tal como os antigos
imperadores romanos, passou a ostentar o título de "Augusto".
Reunificação do Ocidente
Apesar de recolher as tradições de conquistas e façanhas guerreiras
dos primeiros merovíngios, a política de Carlos Magno fixou-se em
objetivos mais amplos, consoantes com as novas características
assumidas pela monarquia franca. Ele ambicionou, desde cedo, a
reunificação do Ocidente europeu sob sua autoridade.
Na nova concepção do poder real, encarado por Carlos Magno como
verdadeira missão de guia espiritual da cristandade, é perceptível a
influência de Alcuíno, seu principal assessor eclesiástico, que, na
revisão dos livros litúrgicos realizada a serviço do rei, empregou
pela primeira vez a expressão "império cristão".
Desse modo, a grande obra de expansão do reino franco, realizada
mediante as contínuas investidas contra o reino lombardo, os saxões,
os frísios e os avaros, aparece, no conjunto de sua política,
sobretudo como instrumento da unificação da fé.
Em conseqüência de suas vitórias, que garantiram a anexação de
regiões como a Saxônia, a Frísia e a Baviera, além de um domínio
temporário em territórios eslavos e árabes (que dominavam a
Espanha), tornou-se o primeiro monarca a reinar sobre a vasta área
que abrangia quase toda a Europa ocidental e central.
Paralelamente à efetivação das conquistas, o apoio dispensado à
realização da reforma eclesiástica em seus Estados reforçava o
prestígio de soberano cristão e conferia à sua autoridade uma base
cada vez mais teocrática.
Carlos Magno legislou sobre matérias disciplinares da Igreja e,
inclusive, sobre questões de dogma, participando do combate às
heresias da época. Assim, a coroação de 800 foi muito mais que o
resultado da extensão de seus domínios. Sugerida talvez pelo próprio
monarca, ela foi principalmente conseqüência da situação especial da
Santa Sé, ameaçada na Itália tanto pelos lombardos como pelo Império
Bizantino - e que buscou, em Carlos Magno, um protetor.
Renascimento carolíngio
Os últimos anos de vida de Carlos Magno, após a coroação imperial,
foram dedicados à consolidação do Estado. A instituição dos missi
dominici (enviados do
Senhor), importante para assegurar o cumprimento das determinações
reais em todos os condados do império, reorganizou-se em 802.
Não obstante a duração efêmera do império carolíngio, partilhado em
843 por seus netos, o reinado de Carlos Magno é considerado decisivo
na formação histórica da Europa Medieval. A política de aliança com
Roma e a estreita colaboração com os dignitários eclesiásticos em
seus territórios não apenas deram origem ao futuro conflito entre o
papado e o império, como firmaram a base da cultura estritamente
religiosa da Idade Média ocidental.
A preocupação de Carlos Magno com a organização eclesiástica e com o
soerguimento intelectual do clero levou-o a patrocinar o movimento
de pesquisas filológicas nos mosteiros e abadias do império, que se
tornaram grandes centros de cultura.
Para tanto, o imperador se cercou de eruditos religiosos
estrangeiros, que difundiram um ensino voltado às tradições da
latinidade cristã. A produção literária e, principalmente, a
instrução dispensada nos colégios das abadias e na escola palaciana
de Aix-la-Chapelle representaram o maior impulso que recebeu a
chamada Renascença carolíngia.
Embora de alcance limitado na época, a contribuição desses letrados
seria inestimável nos séculos subseqüentes. Para citar apenas um
exemplo, é à paciente e minuciosa atividade dos copistas dos
mosteiros carolíngios que se deve a preservação de grande parte da
literatura latina. A própria crítica contemporânea dos textos
clássicos baseia-se amplamente em seus manuscritos.