Música, história e cem anos de Gonzagão: conheça mais sobre o rei do baião e sua corte sertaneja.

     
  
 

24/11/2012

 

Centenário do Gonzagão

Música, história e cem anos de Gonzaga: conheça mais sobre o rei e sua corte sertaneja.

Prof.ª Josi Brandão

No dia treze de dezembro (dia de santa Luzia), a cidade de Exu, no semiárido pernambucano, vai ser palco da grande homenagem ao centenário do rei do baião, Luiz Gonzaga, cantor, sanfoneiro e compositor, que retratou o nordeste em suas músicas, a seca, a migração, a fé, o povo, a fauna e a flora, nunca esquecendo suas raízes. Foi ele quem consagrou o baião, um ritmo que passou a constituir um gênero musical, depois de ele ter se apresentado no programa de rádio do Ary Barroso, em 1941, e é a partir daí que a música nordestina extrapola o cenário regional e passa a ser amplamente divulgada no sul e sudeste do país.

Filho de família humilde, seus pais, dona Santana e seu Januário, foram referência para Gonzaga em toda a sua vida. Com o pai, aprendeu a tocar acordeão desde pequeno, e ajudava-o a fazer os consertos do instrumento.

Muito novo, apaixonou-se por Nazarena, moça filha de coronel, que não permitiu o namoro dos dois. Ameaçado, Luiz foge de casa e vai servir ao exército. Era o corneteiro e ficou por nove anos sem dar notícias à família. Ao dar baixa no exército, vai tentar a sorte no Rio de Janeiro e começa a tocar nas rádios, nas ruas, em casas de shows e, nesse cenário, ele conhece a dançarina Léia, por quem se apaixona, e desse amor nasce o primeiro filho Gonzaguinha (fato até hoje discutido se ele é ou não filho de Gonzaga). Logo ela morre de tuberculose e o filho, com dois anos de idade, vai ser criado pelos padrinhos.

O sucesso torna-se uma situação comum para o sanfoneiro, e a partir daí três parceiros musicais vão ser fundamentais na sua carreira: o primeiro foi o advogado Humberto Teixeira, onde em 1947 compõem a música Asa Branca, considerada um hino do povo nordestino, regravada por vários artistas. O segundo parceiro foi o médico Zé Dantas, e com ele vieram clássicos da música popular brasileira como Vem morena, Riacho do navio, Sabiá, O xote das meninas, Vozes da seca, entre outras. A terceira grande parceria de Gonzaga foi com o poeta Patativa do Assaré, com quem lança a música “A triste partida”, que retrata fielmente a migração do sertanejo nordestino, que por falta de condições para viver devido a seca que assola o sertão, vai para o sudeste em busca de melhores condições de vida. Mas a realidade que encontra, ao chegar, é outra. Sofre o preconceito, dificuldades financeiras e cria o sonho de voltar para a sua terra, obrigando o nordestino a “viver como escravo no norte e no sul”.

Em meio a tanta fama, Gonzaga conhece Helena, para quem fez a música “Madame Baião”, com quem se casa e, por não poder ter filhos, adotam a menina Rosinha, personagem comum nas letras do cantor. Mas a presença do filho Gonzaguinha era motivo constante de brigas do casal, e a própria relação pai e filho era repleta de conflitos, tanto que virou tema de um filme lançado este ano  (Gonzaga – de pai para filho), onde representa-se um pai de origem pobre e conservador,  e do outro o filho que se sentia rejeitado, universitário, de movimentos de esquerda e fazia da música seu melhor protesto. Nesse meio de brigas frequentes, o filme retrata o frágil relacionamento dos dois.

O rei do baião foi convidado a tocar em Paris, onde ficou por dez dias, deixando seus sucessos na capital francesa, para onde volta no ano seguinte, participando de um espetáculo que reuniu cerca de 15 mil pessoas no Halle de La Villete. Recebeu também o troféu NIPPER DE OURO, uma homenagem internacional da RCA a um artista da gravadora. Era o reconhecimento deste artista genial da música brasileira.

No dia 02 de agosto de 1989, na Veneza brasileira, a cidade de Recife, o rei do baião Luiz Gonzaga morria. Seu corpo foi velado na cidade e, posteriormente, seria levado para ser velado também em Juazeiro do Norte, por que em Exu não havia aeroporto. Porém, ao parar na cidade, o povo queria dar o último adeus ao seu nobre representante. O filho Gonzaguinha não teve escolha, e como ele mesmo disse, “se o povo quer o que podemos fazer?”. Já em Exu, um número infinito de pessoas apareceu para dar seu último adeus ao ídolo. “Nunca nesta cidade nós vimos tanta gente, sanfoneiros apareceram e a música tocou o tempo todo”, foi assim que definiu o vaqueiro de Gonzaga, seu Praxédes, vivo até hoje e exímio contador das historias do chefe e amigo.

As homenagens a Luiz não param e, mais recentemente, no dia 22 de novembro de 2012, ele foi homenageado pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) com o título Doutor Honoris Causa. Esta honraria é dada por instituições de ensino superior a personalidades em reconhecimento a sua importância em alguma área, com destaque na sociedade, sendo, portanto, Luiz um autêntico representante da cultura nordestina.

Em Exu, Gonzaga teve a preocupação de deixar seu legado preservado e teve a ideia de construir o seu próprio museu, hoje coordenado por uma ONG, que recebe todos os anos várias pessoas para conhecerem um pouco da vida do Rei do Baião.

(Texto da Prof.ª Josi Brandão, da redação d'O Historiante).

 
 

 

 

© Copyright 2012 O Historiante