Seus
alunos estão vidrados em Assassin's Creed? Calma! Isso
pode ser o princípio de uma ótima aula.
Prof. Pablo Michel
Magalhães
Há
quem reclame. Há quem ache que os alunos estão cada vez
mais indisciplinados, e que passam mais tempo jogando em
seus videogames e computadores do que estudando. "Jogos
violentos! Essas crianças perdem tempo e não aprendem
nada!". Reclamações são as mais variadas,
diversificadas. No entanto, que tal parar de lutar
contra, e utilizar as ferramentas do "inimigo" a nosso
favor? Não estou convidando-os para transformar
suas aulas em sessões de jogos, e seus alunos em gamers.
Pelo contrário: gostaria de indagar, junto com vocês,
sobre o que há de bom nos games mais jogados por nossos
alunos, e o que pode ser incorporado em nossas
sacrossantas aulas de História.
A
princípio, exponho minha opinião: é ilusão acreditar que
podemos utilizar tudo em nosso favor. Boa parte dos
jogos desenvolvidos para os principais consoles de games
(Playstation, Xbox, Nintendo Wii) versam em sua maioria
sobre alienígenas, vampiros, explosões, zumbis e ficção
científica. O amplo investimento em gráficos capricha
num visual bastante realista, e a aplicação dessa
tecnologia com cenas de assassinatos e sexo faz com que
muitos jogos sejam proibidos ao público infantil e
adolescente; porém, ainda assim, é esse mesmo público
quem mais desfruta desses games ditos "violentos".
Então, o que fazer, caro(a) professor(a), quando seu
aluno disser que está jogando Assassin's Creed? Talvez,
sua primeira reação seja "O que diabos é Assassin's
Creed?!". Confesso, foi a minha reação. E a todo
momento, meus alunos me diziam que um tal Altair tinha
assassinado o capitão da cavalaria de Ricardo, rei da
Inglaterra, pois este era um cavaleiro templário. Mas,
quem seria Altair? E porque este cidadão odiava tanto
cavaleiros templários?
Bem,
vamos ao jogo.
Altair Ibn-La'Ahad, protagonista do primeiro jogo,
ambientado na terceira cruzada.
Assassin's Creed é um game que mais parece um seriado
medieval. O pano de fundo é a Terra Santa (Jerusalém e
cidades como Damasco, Acre, Trípoli) em pleno século
XII. Saladino havia retomado o controle de Jerusalém, e
um exército cristão, liderado pelos reis Ricardo I
Coração de Leão, da Inglaterra, Felipe II Augusto, rei
da França, e Frederico I Barba-roxa, Sacro-imperador
Romano Germânico, dava início a um conjunto de batalhas
pela reconquista do terreno perdido, a que historiadores
chamam de 3ª cruzada.
Neste
contexto, uma trama, envolvendo cristãos e muçulmanos,
se desenrola na surdina, em torno de uma relíquia da
Terra Santa conhecida apenas como A Maçã. Sem ter
noção disso, um jovem membro da seita dos Assassinos,
Altair Ibn-La'Ahad, realiza missões a mando do seu
grão-mestre, buscando recuperar a confiança da ordem em
si mesmo. Aos poucos, a cada missão que realiza, Altair
vai descobrindo segredos que o fazem compreender uma
ligação entre cada um dos inimigos eliminados por ele.
Por fim, o próprio grão-mestre da ordem dos Assassinos
revela ser um dos envolvidos na trama sobre a relíquia,
objeto que confere estranhos poderes ao seu detentor.
Até
aqui, vários elementos históricos foram apresentados ao
jogador: As tenções entre cristãos e muçulmanos nas
cruzadas, a atuação das ordens militares religiosas
(templários), a existência de uma ordem
religioso-militar muçulmana (a Ordem dos Hassassins ou
Assassinos, fundada no século IX por Hassan ibn Sabbah,
o velho da montanha). Para completar, Altair era membro
assassino sob a ordem do castelo medieval de Masyaf,
localizado nas proximidades do rio Orontes, a 60 km da
cidade de Hama.
História e ficção caminham juntas, de maneira que nem
uma nem outra prevaleçam. Assassin's Creed não propõe
intervenções de seus personagens fictícios no desenrolar
da história das cruzadas. Ainda que Altair encontre-se
constantemente com personagens históricos, como o
próprio Ricardo Coração de Leão, suas aventuras não
interferem na história do rei, ou de suas batalhas.
Posso afirmar que este é um dos pontos mais positivos do
jogo.
Além
disso, Assassin's Creed é um convite a conhecer a
Jerusalém do século XII: por meio do personagem Altair,
o jogador pode caminhar pelas ruas e becos da cidade,
subir em torres e observar muralhas, casas, mercados. E
não só Jerusalém. Acre e Damasco são outras duas cidades
históricas que são visitadas, bem como o castelo
medieval de Masyaf, onde Altair retorna para travar
conversas com seu mestre.
Em
sua sequência, Assassin's Creed II, somos
inseridos na Itália renascentista, em específico na
cidade de Florença do século XV. Dessa vez, acompanhamos
a história de Ezio Auditore da Firenze, um jovem
conquistador e briguento, que tem o pai e os irmãos
assassinados em praça pública, sob a falsa acusação de
traição. Fugindo com mãe e irmã para as possessões do
seu tio, Mario Auditore, Ezio descobrirá o passado de
seu pai como membro da ordem dos Assassinos, e iniciará
seus treinamentos, na tentativa de tornar-se também um
assassino e vingar sua família. De acordo com suas
missões, Ezio também se vê envolvido com a trama em
torno da relíquia conhecida como A Maçã.
Enfrentando supostos inimigos templários, Ezio viaja
para Veneza e Roma, em busca de novas pistas.
Lourenço de Médici, um dos personagens históricos que
cruza com Ezio durante o jogo.
Também nessa sequência, o jogador, por meio de Ezio,
interage com personagens históricos. Lourenço de Médici,
Rodrigo Bórgia, Leonardo da Vinci, Nicolau Maquiavel e
Catarina Sforza são alguns deles. Da Vinci, inclusive, é
um dos que mais aparecem durante as missões, e é
responsável por traduzir os códices que Ezio encontra
nos locais onde investiga. No ateliê do artista, o
jogador pode ver os manuscritos de Leonardo, com vários
dos seus inventos reais.
Assassin's Creed II também trata de assuntos históricos
relativos à época em que é ambientado. A ascensão dos
Borgia na Itália, as disputas políticas entre as
famílias Medici e Sforza, o renascimento das artes e as
obras de Leonardo da Vinci. Uma outra peculiaridade
proporcionada ao jogador é ouvir comentários políticos
da boca do próprio Nicolau Maquiavel.
Com
Ezio, o jogador pode conhecer Veneza, Florença e Roma,
caminhar pelas ruas e inclusive navegar pelos canais
venezianos em gôndolas. Com uma arte gráfica estupenda,
as cidades são retratadas fielmente, revelando uma
profunda pesquisa histórica.
Ezio Auditore, no ateliê de Leonardo.
Usos do jogo
A
proposta que buscamos apresentar não pode ser tomada
como substituição da aula propriamente dita sobre os
assuntos abordados nos jogos. Vemos a utilização do game
como instrumento lúdico facilitador do aprendizado e,
por que não, divertimento (divertir-se faz parte de um
bom ensino). Indicamos nossa sugestão didática, a
princípio, para as aulas de História no Ensino Médio.
Obviamente, introduzir um recurso tão complexo em sala
requer jogo de cintura do professor. Direcionar o game
para que este sirva como suporte ao assunto abordado é
fundamental. Para isso, a interatividade deve ser
mediada e limitada, e o material (o jogo propriamente
dito, ou imagens dele, vídeos) bem visto previamente.
As
possibilidades de uso de Assassin's Creed são
múltiplas. Como curiosidade, o professor pode levar
algumas imagens e trechos de vídeos das missões e
diálogos de Ezio e Altair com personagens históricos.
Outra sugestão, é a demonstração do jogo, convidando um
dos alunos para controlar o personagem (Ezio ou Altair)
durante uma de suas missões. O mesmo pode ser feito na
sala de computação da escola, para que mais alunos
possam brincar com o personagem.
Ainda
que as condições sejam desfavoráveis em alguns casos, há
outras maneiras de usar o jogo em seu favor: o simples
falar sobre ele pode despertar a curiosidade da turma, e
lembre-se que muitos dos seus alunos podem ser gamers
vidrados em Assassin's Creed. A curiosidade sobre
o jogo poderá se tornar aliada nos estudos.
Há
vários vídeos no Youtube que poderão ajudar. São
pequenos trailers do jogo, onde Ezio e Altair aparecem
em cenas de ação, ou interagindo com personagens
históricos. Um desses vídeos, especificamente, é um
curta-metragem, de 20 a 30 minutos, que conta um pouco
da história de Giovanni Auditore, pai de Ezio, e suas
batalhas na cidade de Florença nos eventos que
precederam o assassinato de Galeazzo Maria Sforza, duque
de Milão.
E
para aqueles professores que se interessaram no jogo,
tanto pra usar em aula quanto pra se divertir, baixem ou
adquiram os games da franquia Assassin's Creed, e
desbravem a história através de Ezio Alditore, ou
Altair, ou até mesmo Connor Kenway, herói da mais nova
aventura, Assassin's Creed III, ambientada nas
guerras de independência dos Estados Unidos da América.
Confira abaixo os trailers de Assassin's Creed II
(Texto do Prof. Pablo
Michel Magalhães, da redação d'O Historiante).
Um jovem Leonardo da Vinci é apresentado
em Assassin's Creed II
A tenaz Catarina Sforza em Assassin's
Creed II
CONFIRA TAMBÉM:
- Assassin's Creed
Lineage: vídeo que conta a história de Giovanni Auditore, o pai de
Ezio, herói de Assassin's Creed 2.
- Foram lançados 3 livros, baseados na
sequência de jogos. Irmandade, A cruzada secreta e
Renascença são os títulos, todos escritos por Oliver Browden,
roteirista do game.
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