10/12/2012
Música na sala de
aula: uma proposta de ensino.
Prof. Carlos Alberto A. Lima
Ao trabalharmos com a música/canção temos que
reconhecê-las enquanto um objeto cultural – que por mais
que propicie uma dinâmica que favoreça seu uso em
momentos posteriores – datado histórico e socialmente,
da mesma forma que um historiador é um homem do seu
tempo, um compositor ou até mesmo um intérprete
resguarda na sua produção/performance marcas da
realidade social vivida. Dessa forma, a canção ganha
status de registro histórico e de valoração documental.
Assim, para trabalhar com a música na sala de aula, o
professor/mediador tem que se cercar de algumas
questões, que lhe servirão de farol e, ao mesmo tempo,
será parte integrante de sua metodologia. Nesse
processo, surgirão algumas inquietações: Qual o objetivo
da aula e do conteúdo específico e a importância do
recurso no processo de aprendizagem? Quais canções serão
escolhidas e o que será analisado na composição?
Respondido isto, o próximo passo seria a construção do
ambiente didático em si, privilegiando informações
acerca do compositor e intérprete das canções, bem como
a explicação das possíveis figuras de linguagem
utilizadas na composição – metáfora, hipérbole,
catacrese, etc. – além de oferecer a letra impressa e
proporcionar a audição musical, no seu formato original,
evitando assim, as novas versões.
Resguardado esses pontos metodológicos, proponho a
utilização da obra de Belchior. Cantor e compositor
cearense que deu os primeiros passos na música
participando dos badalados Festivais, podendo, por isso,
ser considerado como um reminiscente da MPB engajada.
Desde 1972 já é uma figura conhecida nacionalmente,
devido a Elis Regina gravar “Mucuripe”, uma composição
sua em parceria com Raimundo Fagner. Porém, foi em 1976,
com o lançamento do seu 2º álbum – Alucinação –
completamente autoral, que Belchior marcou de vez o seu
nome e suas letras nos corações e mentes da juventude
urbana. Será justamente esse álbum, que conta com
algumas canções clássicas do seu set list, com destaque
para: “Apenas um rapaz Latino Americano”; “Alucinação”;
“Como Nossos Pais”; “A Palo Seco”, que indico enquanto
recurso didático/pedagógico e fonte Histórica – a música
em particular e arte em geral, tem essa capacidade -
para analisarmos o processo de redemocratização e
abertura política no Brasil, enfatizando principalmente,
qual seria o sentimento daquela juventude, agora adulta
e envelhecida, que viveu resignada todo o período da
ditadura militar, com o futuro da nação, ante aquele
processo de liberalização dos instrumentos autoritários.
Ao propor o estudo sobre música, tive o intuito de
demonstrar caminhos e indicar trilhos, especificamente em
duas direções: 1º possibilidade em estudar a sociedade
brasileira e sua história, tomando como referência a
produção da cultura material, como marca de uma
especificidade. Assim, o compositor, intérprete e
musicista, muito mais que artistas, serão tomados e
apresentados como informantes privilegiados, verdadeiros
arautos de uma memória coletiva; 2º preocupação em
desenvolver inquietações e resolver angústias acerca do
ensino de nossa disciplina. Não podemos de forma nenhuma
renega-las a outros profissionais, se o ensino de
História vive uma crise, nós – estudantes, docentes -
temos a responsabilidade de propor mudanças e indicar
possibilidades.
Aproveite e baixe o CD Alucinação.
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Ler: FERREIRA, Martins.
Como Usar Música na Sala de Aula. São Paulo: Contexto,
2010.
(Texto do prof. Carlos Alberto A. Lima, da redação d'O
Historiante)
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