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Torá em terras brasileiras: o Judaísmo no Brasil.
Quem
nunca ouviu dizer que não se deve deixar sapato virado
ao contrário, roupa pelo avesso, portas de armário
abertas, varrer o lixo pela porta da frente de casa,
dizer que alguém está “chorando a morte da bezerra” ou
apontar a primeira estrela no céu? Estas e outras
práticas do cotidiano de tantas famílias de Norte a Sul
do país encontram, muitas vezes, associação no judaísmo
que era praticado no Brasil. No caso da limpeza das
residências, por exemplo, é costume entre os judeus
manter sobre o batente da porta da entrada um mezuzá
– pequeno pergaminho contendo trechos da Torá, livro
sagrado dos judeus. Por isso, varre-se a casa, por
respeito e honra, da porta pra dentro, onde o lixo é
então recolhido, para que não passe pela mezuzá.
Após a segunda diáspora em 135 d.c, as comunidades
judaicas se espalharam por todo o mundo. Países como a
Alemanha, Polônia, Ucrânia e Rússia receberam grandes
números de imigrantes Judeus.
Em
1503, o cristão-novo (judeu convertido) Fernando de
Noronha enviou barcos para extrair pau-brasil da terra
descoberta por Cabral. Nas décadas seguintes, a colônia
serviu de refúgio para milhares de cristãos-novos,
perseguidos na metrópole por praticar um catolicismo
duvidoso. Esses imigrantes contribuíram com seus genes e
sua cultura para a formação do povo brasileiro.
Em
fins do século XVI, os cristãos-novos já eram donos de
boa parcela dos engenhos existentes no Nordeste e
ameaçavam os interesses dos cristãos-velhos,
incomodados com a concorrência. Esses cristãos-novos não
se limitavam ao açúcar: integrados na Colônia, eram
influenciados e influenciavam a vida e os costumes
locais. Eles exerciam funções na política, na
administração e na economia, participando, ao lado dos
cristãos-velhos, de várias atividades. Prova desse bom
convívio eram os casamentos entre as famílias. A falta
de moças cristãs para casar tornava as meninas judias
muito disputadas. Esses casamentos serviam para que os
antigos judeus pudessem provar que estavam convertidos
ao cristianismo, despistando as desconfianças das
autoridades da época.
A
primeira sinagoga do Novo Mundo foi edificada no Recife
pelo rabino Isaac Aboab da Fonseca, durante o domínio
holandês no Nordeste.
Com a criação do Santo Ofício no Brasil, esse quadro de
harmonia acabou. Vários cristãos-novos eram acusados de
continuar as práticas judaicas, e muitos foram enviados
para Lisboa, para julgamento e prisão ou morte na
fogueira.
As
acusações apresentavam uma grande variedade de
comportamentos vistos como denunciadores da ocorrência
do judaísmo vivendo na Colônia, como usar roupas limpas
e arrumas a casa às sextas-feiras em respeito ao
Shabat, não pronunciar o nome “Cristo”, preparar a
comida segundo a tradição hebraica, não ingerindo carne
de porco ou peixes sem escamas, entre outras práticas.
Com tanta perseguição, as casas das famílias judaicas
transformaram-se em únicos lugares para a prática dessa
religião, onde as mulheres exerciam o papel de mães,
professoras e rabis, contando para os filhos as
histórias dos povos judeus e ensinando as antigas
orações judaicas.
Veja mais em: Revista de História da Biblioteca Nacional
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