12/06/2012

Namorados e amantes: alguns dos casais mais apaixonados da História e da Literatura.

Prof. Pablo Michel Magalhães

 

   Presentes, declarações, juras de amor, flores, mensagens: todas essas manifestações românticas se acentuam em dias como o de hoje, dia 12 de junho, Dia dos Namorados nesta Terra Brasilis. Apesar de ter um caráter bastante comercial (as lojas de ursinhos de pelúcia que o digam), é inegável que muitos namorados e namoradas buscam muito mais que apenas dar presentes: num dia especial, passar bons momentos com quem amam, assistindo filmes ou num parque, demonstrando carinho. É o que importa.

   Esta comemoração tão apaixonada é derivada do Dia de São Valentino, bispo do século III a.D., que passou por meio de lendas e crônicas a ser o santo protetor dos namorados e amantes. A Legenda Áurea de Jacopo de Varazze é uma das fontes em que a história desse bispo é contada.

   De acordo com a tradição (baseada em lendas), Valentino desafiava o impedimento imposto pelo imperador Cláudio II, de que não poderiam haver casamentos em período belicoso. Casado e apaixonado, Valentino continuou a celebrar enlaces matrimoniais, o que levou à sua prisão. Lá, o bispo recebia cartas e flores de apaixonados romanos, manifestação de apoio ao santo. No cárcere, Valentino tornou a se apaixonar pela filha cega de um dos carcereiros, à qual operou o milagre de devolver-lhe a visão. Na Legenda Áurea essa história também é contada, mas é a filha do pretor que é curada. Antes de morrer, o bispo teria enviado uma última carta à sua amada, assinada por "teu Valentim" (teria saído daí a tradição, em países europeus, da troca de cartas pelos amantes).

   Em nossa Terra Brasilis, a data dos namorados é dia 12, véspera do Dia de Santo Antônio, o santo casamenteiro. As explicações ainda são um pouco controversas, mas se atribui a sugestão da data à João Dória, comerciante paulista, que buscava em 1949, ao lado dos demais comerciantes da cidade de São Paulo, aquecer as vendas em Junho. Demorou algumas décadas, mas a ideia pegou.

   O Historiante, apaixonado que é, vem trazer aos seus leitores uma matéria em todos os aspectos diferente. Teremos a oportunidade de conhecer 10 de vários casais que, muito antes de existir apenas um Dia dos Namorados, transformavam todos os seus momentos em instantes especiais. Claro, haverá ainda aqueles casais envolvidos com disputas de poder e que se amavam justamente por esse fato. E, por fim, haverá exemplos de casais bastante improváveis e cômicos, que divertirão o leitor atento.

1- Tristão e Isolda.

Esse casal tem sua história contada por diversas canções medievais e encarnam completamente o ideal de amor cortesão: Tristão, enviado como campeão do Rei Marc da Cornuália, vai participar de um torneio na Irlanda, cujo prêmio é a mão da bela princesa Isolda. Como possuía habilidades e força incríveis, Tristão vence facilmente o torneio, e conduz a belíssima Isolda, de barco, para seu rei. Porém, no caminho, a dama de companhia da princesa resolve ajudá-la a apaixonar-se pelo Rei Marc, coisa que Isolda achava muito difícil acontecer. A dama, porém, fez uma poção e colocou em uma bebida. Isolda bebeu e, por ironia do destino, Tristão se serviu da mesma botilha com a poção, e acabaram se apaixonando imediatamente. Na Cornuália, os dois tiveram de esconder o amor que nutriam, e se encontravam às escuras no bosque próximo ao castelo. A história não terminou nada bem. Tristão morre em guerra, e Isolda só consegue encontrá-lo à beira da morte, após ter sido mandada embora pelo Rei Marc, para a ilha dos leprosos.

2- Romeu e Julieta.

Shakespeare, inspirado em cantigas medievais italianas, compôs um dos mais belos romances de todos os tempos. A história dos dois amantes desditosos é ainda inspiração para romancistas em nosso tempo. Julieta Capuleto e Romeu Montecchio pertenciam a duas famílias rivais por questões que ultrapassavam séculos de intrigas e desentendimentos. Ela possuía pouco mais de 12 anos quando, em uma festa, encontrou o jovem Romeu e, perdidamente, caiu em amores por ele. Em questão de um dia, os dois casam e tem a noite de núpcias, ajudados pela Ama de Julieta. No entanto, o assassinato de Mercúcio e Tebaldo (este último morto por Romeu) dão um outro rumo aos acontecimentos, e o jovem Montecchio parte para Mântua, sob ordem do Príncipe. Nesse meio tempo, com ajuda do padre amigo de Romeu, Julieta toma uma poção para fingir estar morta e escapar do seu casamento arranjado com Paris. Porém, notícias da suposta morte da menina chegam primeiro do que o mensageiro do padre, avisando sobre o plano para que eles possam se reencontrar. O desfecho, já sabemos: Romeu chega ao cemitério e se mata com um veneno. Julieta acorda logo depois e, desesperada, usa o punhal do amado para tirar a própria vida.

3- Abelardo e Heloíse.

Esses dois personagens reais lutaram pelo seu amor durante a Idade Média. Pedro Abelardo era um teólogo e grande pensador daquilo que hoje conhecemos como Universidade. Havia um impedimento para os teólogos, à época. Eles não poderiam, em hipótese alguma, ter relações com uma mulher. Neste período, um dos cônegos de París trouxe do interior sua sobrinha, Heloíse de Paráclito, uma freira escritora e erudita para trabalhar e viver consigo, ajudando-o nos trabalhos na capital. Tão logo Abelardo a conheceu, a paixão foi fulminante. Em vários cadernos e cartas, ele conta a história de como os dois se seduziram e se amaram por várias vezes, até Heloíse engravidar. Em fúria, Fulbert, numa noite, ordenou a castração de Abelardo. Após vários anos, os dois passaram a viver relativamente tranquilos, enquanto Heloíse era abadessa em Paráclito e Abelardo, monge. Trocaram correspondências até o fim da vida, e seus corpos foram sepultados na mesma cripta. Em vida, ninguém soube da existência do filho deles, o pequeno Astrolabius.

4- Lancelote e Guinevere.

Há várias canções de gesta, que compõem o chamado Ciclo Arturiano. Em boa parte, a rainha e o cavaleiro do rei aparecem como amantes. Guinevere nunca amara o Rei Artur, e Lancelote nunca amara outra pessoa além da Dama do Lago. Encontros furtivos, declarações de amor, e um título de campeão da rainha, esquentaram o sentimento que nutriam. em Lancelote, o cavaleiro da charrete, Lancelote dá várias provas de seu amor à rainha. O mais célebre: Guinevere disse que, para o cavaleiro mostrar que realmente a amava, deveria perder todos os seus embates no torneio que acontecia. Lancelote, amante resignado, passou a perder todos, sem resistência alguma. Depois, a rainha pediu que ele não perdesse mais, mas ganhasse todos os embates seguintes. Lancelote, mais uma vez, atende à sua amada, e passa a destruir todos os seus oponentes, um a um.

5- Ulisses e Penélope.

Umas das mais belas histórias de amor, o mito do amor fidedigno de uma espartana que, após ser pedida em casamento  pelo Rei de Ítaca, Ulisses, e ainda ter de enfrentar a intolerância do seu pai, Ícaro - um príncipe espartano, que diante da ideia de perder sua filha tenta persuadi-la a permanecer ao seu lado e não ir com seu marido à Ítaca, teve de suportar a separação do seu grande amor por causa dos acontecimentos que levaram Ulisses à Guerra de Tróia. Durante o longo tempo de ausência de Ulisses, Penélope foi importunada por diversos pretendentes, dos quais só poderia se livrar caso escolhesse um para seu esposo. Com a esperança de ter seu amado de volta, Penélope usou de todos os artifícios para ganhar tempo. Com a desculpa de estar empenhada em tecer uma tela para o dossel do funeral de Laertes, pai de Ulisses, comprometeu-se em fazer a escolha do pretendente a seu marido quando a terminasse. De dia tecia e à noite desfazia todo o trabalho feito. Toda sua espera foi recompensada com a volta de Ulisses, que a salvou da dura missão de escolher um novo marido e foram felizes.

6- Dom Quixote e Dulcinéia.

Um casal dos mais improváveis. Dom Quixote, o cavaleiro andante da Mancha, lutou contra moinhos de vento, dormiu em estalagens pensando serem castelos, montou em seu belo corcel Roncinante (que nada mais era que um magro burrico), sempre ao lado de Sancho Pança, seu fiel escudeiro, e, entre todas essas aventuras, declarou seu amor pela bela Dulcinéia de Toboso (que mal sabia que o pobre existia). Miguel de Cervantes compôs esse clássico, que é na verdade uma paródia dos romances cavaleirescos pomposos de sua época, ainda muito em voga até o século XVI. Na verdade, o cavaleiro da Mancha não chegou a viver seu amor por Dulcinéia, pois em todo o livro não chegaram a estar lado a lado, mas Dom Quixote cantou seus amores pela dama por todos os cantos em que esteve. Para ele, a donzela de Toboso era a mais bela de toda a terra. Para Sancho Pança, ela era a rapariga mais feia da vila em que viviam.

7- Sansão e Dalila.

Amor e interesse. Sansão, juiz dos povos hebraicos, era o forte e belo representante do povo de Israel, e havia sido chamado pelo seu Deus para libertar seus fiéis do julgo dos filisteus, algo que Sansão conseguiu. Temendo a força e a virilidade do heróis, os inimigos aliciaram sua jovem esposa, Dalila, para que esta pudesse descobrir os segredos que escondiam a fonte do poder de Sansão. Por 1100 moedas de prata, Dalila sondou por várias vezes o marido para descobrir seu segredo. Ao saber pela boca dele que era em suas tranças que mantinha seu poder, a jovem cortou-lhe o cabelo enquanto dormia, o que facilitou a captura do herói pelos filisteus, que perfuraram seus olhos. Ao fim de tudo, depois de tempos de escravidão, Sansão derrubou o templo dos inimigos, matando inclusive Dalila.

8- Dom Pedro e Inês de Castro.

Amor e vingança, com requintes de crueldade. A princípio, Dom Pedro, filho de Afonso IV, casou-se com Dona Constança, em 1336. Entre as damas de companhia da princesa, uma moça de Castela chamou a atenção do jovem príncipe: Inês de Castro. Com o tempo, o jovem Pedro caiu de amores pela bela Inês, perseguindo-a pelos jardins do castelo, e sendo retribuído. Dona Constança, com o tempo, adoeceu (tristeza pela traição?) e veio a falecer. Pedro, longe de ficar triste, aproveitou o momento para evidenciar ainda mais sua paixão por Inês, com quem trocava cartas e juras de amor. Seu pai, o rei Afonso, não gostou nada da atitude do filho e, após reunir-se com seus conselheiros, decidiu dar um fim à Inês, matando-a. Pedro, louco de raiva, levantou-se em armas contra o pai, jurando-lhe de morte. No entanto, abrandado por sua mãe, Dona Beatriz, o infante desistiu, por hora, de sua vingança. Em pouco tempo, ele ascendeu ao trono, e deu início ao seu ataque vingativo: perseguiu os conselheiros e deu fim às suas vidas de maneira cruel. Ainda apaixonado por Inês, mandou construir duas criptas, uma para o corpo da amada, um para si mesmo, quando morresse.

9- Lampião e Maria Bonita.

Maria Gomes de Oliveira foi a primeira mulher a aparecer no cenário do cangaço. Ela casou-se aos 15 anos com um sapateiro, com quem vivia brigando. Durante uma das separações de seu marido, o que era constante, Maria Bonita conheceu Lampião e apaixonou-se pelo homem e pela lenda. Lampião, nesta época, tinha quase 33 anos e Maria um pouco mais de 20. Esta paixão desenfreada os uniu até a morte. Tiveram uma única filha (oficialmente conhecida), Expedita Ferreira, nascida em 1932. Lado a lado, o famigerado cangaceiro e a sua rainha dominaram os sertões nordestinos, até a morte.

10- Napoleão e Josefina.

A elegante, bem-vestida e voluptuosa Josefina de Beauharnais era a viúva de um visconde morto na guilhotina durante a Revolução Francesa quando fez a cabeça de muitos homens na França, principalmente do general corso Napoleão Bonaparte. Por influência de amigos, ele desposou a bela Josefina. Amando-a loucamente, durante suas campanhas, não deixava de enviar-lhe cartas apaixonadas e quentes, enquanto ela nadava em pompa e riqueza, em festas e traindo-o. Obcecado, ao descobrir dos amores escondidos da esposa, buscou dar o troco, desfilando suas próprias amantes abertamente. Porém, o homem mais poderoso de toda a Europa sucumbia diante das lágrimas de sua amada: ao pedido de perdão de Josefina, que se desfazia em prantos em seus braços, Napoleão a perdoou das faltas. Um homem apaixonado, deveras.

 

(Texto do Prof. Pablo Magalhães, da redação d'O Historiante)

 

 
 
 
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