Símbolo do Fascismo italiano, tendo ao centro o
fasces litoriae, um machado envolto por
vigas de madeira, símbolo de poder no Império
Romano.
Este era
o selo principal do Partido Nacional Socialista,
comumente chamado de Partido Nazista. O símbolo
ao centro, a suástica, é uma antiga insígnia,
utilizada em diversos tempos, por vários povos
diferentes.
Texto 1 - A ascensão dos ideais
nazi-fascistas na Europa.
Revanchismo, miséria,
golpes e "revoluções"... as ideias de Mussolini e um certo Adolph Hitler.
Prof. Pablo Michel
Magalhães
"VAMOS
COMEÇAR COLOCANDO UM PONTO FINAL"
Não
poderíamos começar esta série de outra forma: em 1919,
numa cinzenta manhã de junho, dia 28, o Palácio de
Versalhes, na França, seria palco (mais uma vez) para a
assinatura de um tratado de paz. Desta vez, não estão
presentes apenas duas nações, como ocorreu nas guerras
Franco-Prussianas, em que o então jovem Império Alemão
havia subjugado a França de Luís Bonaparte; desta vez, a
guerra tinha sido muito mais cruel, muito mais violenta
e, de fato, global. Até então, não havia
ocorrido nenhum conflito
que envolvesse mais que duas nações, tampouco alguma
guerra que perdurasse por mais que um ou dois anos
(franceses e prussianos combateram entre 1870 e 1871,
não mais que isso).
Pois é,
queridos, estamos tratando aqui do acordo de paz que
selou oficialmente o fim da Primeira Guerra Mundial e
que, sem dúvidas, forneceu argumentos para que sua
continuação ocorresse a partir de 1939.
Pela
primeira vez, várias nações haviam ocupado o mesmo palco
beligerante. Também pela primeira vez, uma guerra total
foi desenvolvida: toda a população estava mobilizada
para o conflito, e qualquer civil era um potencial
soldado; as produções de maquinário de guerra e
suprimentos para as tropas era desenvolvidas em grande
escala; não havia mais uma divisão clara entre campo de
guerra e campo civil, e cidades inteiras foram varridas
pela Grande Guerra.
Da esquerda para a direita: Lloyd George
(Grã-Bretanha), Vittorio Emanuele Orlando (Itália),
Georges Clemenceau (França) e o americano Woodrow
Wilson.
À ocasião da
assinatura do Tratado, em Versalhes, estiveram presentes
os representantes das 4 nações vitoriosas na Primeira
Grande Guerra: EUA, França, Grã-Bretanha e Itália.
Dentre as principais cláusulas (foram 440, um encargo
absurdamente pesado para a derrotada Alemanha),
destacamos as seguintes:
Admissão de culpa e responsabilidade única da
Alemanha pela ocorrência da Grande Guerra;
Proibição da união entre Alemanha e Áustria;
Compromisso de reparações financeiras a definir
(especialistas falam em uma quantia superior a 20
bilhões de dólares);
Concordância com julgamento internacional do Kaiser
e de outros líderes de guerra;
Devolução da Alsácia e da Lorena à França;
Cessão de Eupen-Malmedy à Bélgica, de Memel à
Lituânia e do distrito de Hultschin à Checoslováquia;
Entrega da Poznania, Silésua setentrional e Prússia
oriental à Polônia restabelecida;
Entrega das possessões ultramarinas na China, África
e Pacífico;
Transformação de Danzig em cidade livre;
Desmilitarização permanente e ocupação aliada por 15
anos da província do Reno;
Limitação do Exército Alemão a 100.000 homens, para
segurança interna, sem tanques, sem artilharia
pesada, sem suprimentos de gás, sem navios ou
aviões;
Limitação da Marinha Alemã a belonaves inferiores a
100.000 toneladas e proibição de submarinos.
Tais
imposições tinham um claro e evidente intuito: garantir
que a Alemanha jamais pudesse reaver sua posição de
grande potência mundial, abrindo maior espaço para os
países que saíam como "vitoriosos" da Grande Guerra
(vitória bastante relativa, pois todas as nações
envolvidas no conflito saíram destruídas quase que por
completo, à exceção dos EUA, distante geograficamente do
palco da guerra e que teria, até 1929, um boom de
crescimento sem precedentes). Subjugá-la, desmembrá-la,
reduzi-la economicamente e enfraquecê-la militarmente:
essas ações foram cuidadosamente tomadas para que um
novo enfrentamento bélico pudesse se repetir.
Mas,
precisamos fazer algumas ressalvas: primeiro, apesar de
algumas nações se considerarem vitoriosas, nenhuma saiu
do conflito triunfante sobre as demais. A Europa estava
completamente destruída, a economia extremamente
enfraquecida, muitos cidadãos em idade adulta haviam
morrido no campo de batalha, cidades estavam devastadas.
A belle époque havia sido varrida do mundo
civilizado europeu por meio de bombas, de gases
mortíferos, de granadas, de tanques de guerra e da
violenta disputa de baionetas nas trincheiras.
Que tal
darmos voz a alguém que esteve no campo de batalha?
Acompanhem um trecho da carta do estudante alemão Hugo
Steinthal, enviada do front a seus familiares,
presente no livro A Sagração da Primavera,
de Modris Eksteins, na página 223:
"Quem
quer que tenha estado nas trincheiras tanto tempo quanto
a nossa infantaria, e quem quer que não tenha perdido o
juízo nesses ataques infernais, deve ter pelo menos
ficado insensível a muitas coisas. Quantidade demasiada
de horror, quantidade excessiva do incrível arremessada
contra nossos pobres camaradas. Para mim é inacreditável
que isso possa ser tolerado. Nosso pobre cérebro
simplesmente não é capaz de absorver tudo isso".
Pois bem,
vemos na fala dessa testemunha ocular os estragos
físicos e psicológicos que ele e seus camaradas puderam
sofrer durante a Primeira Grande Guerra. Quem leu a
série anterior (clique
aqui para ler!) pôde ver que toda a sociedade
(intelectuais, políticos, militares, o povo comum) pedia
que sua nação disputasse uma curta e gloriosa guerra.
Mas, o conflito se revelou lento, traumatizante, cruel e
nada glorioso. De apoiadores da batalha, os cidadãos
europeus passaram a temer seus resultados e desejar que
seu fim chegasse logo. Uma triste conclusão de que tudo
estava indo errado.
Bem, por que
estou falando tanto, ainda, em Primeira Guerra? Simples:
é a partir dela que a Segunda Guerra Mundial tem seu
início. Vejamos...
Em 1914, em meio às comemorações pelo início da
Primeira Guerra Mundial, um jovem Hitler exultava de
alegria.
UM INFLAMADO ITALIANO,
UM JOVEM AUSTRÍACO.
Com o fim da
Primeira Guerra, uma série de fatores promoveu o
nascimento de ideologias nacionalistas, ligadas à
extrema direita em países europeus. Destes fatores, a
miséria e a depressão econômica, em especial na Alemanha
e na Itália, fomentaram ideais que, hoje, intitulamos de
fascistas. Mas, afinal, o que é
fascismo?
Comumente,
definimos este como uma ideologia de governo,
desenvolvida primeiramente na Itália e tendo como seu
principal líder político Benito Mussolini. Dentre suas
características principais, está a ideia de um Estado
forte, centralizado, controlador e repressor. Segundo o
próprio Mussolini, "tutto nello Stato, niente al di
fuori dello Stato, nulla contro lo Stato" (Tudo no
Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado).
Anti-socialista, apesar de o próprio Mussolini e alguns
dos seus aliados terem sido socialistas fervorosos até
1920, antiliberal, ao suprimir os direitos
constitucionais do povo e submetê-los ao poder do
Estado, o fascismo alinhava-se com a extrema direita,
sendo ultraconservador (mulheres, segundo a ideologia
fascista, deveriam estar em casa, cuidando do marido,
dos filhos, e tratando de engravidar mais: Mussolini
precisaria de soldados em grande quantidade!).
Devemos
notar, no entanto, algo que pode soar como novidade para
você, caro leitor: o fascismo criado na Itália, o
primeiro de todos os que iriam nascer e crescer na
Europa, não tinha, até 1940, a ideia de raça superior,
pura. De acordo com o historiador Eric J. Hobsbawm, esta
característica só viria a ser encontrada em seu partido
irmão, o Nacional Socialista (Nazista), na Alemanha, sob
a liderança de Adolf Hitler.
Precisamos
ressaltar também que os ideais fascistas tiveram grande
desenvolvimento, e adquiriram um caráter universal
(movimentos de cunho fascista passaram a acontecer em
diversos outros países, sem, contudo, tanta força
política como na Itália e na Alemanha), principalmente
durante o período de depressão econômica, após a
Primeira Guerra Mundial. Assim, diante da miséria
popular, do colapso das instituições nacionais e da
ineficiência do Estado em conduzir a nação, grupos
minoritários passaram a contestar a liderança política
de seus países e, de início, utilizaram-se dos
trabalhadores e operários (as massas pobres) para
alavancar seus ideais.
Tanto na
Itália quanto na Alemanha, os partidos com ideologia
fascista iniciaram suas atividades clamando a união dos
trabalhadores contra o governo ineficaz de seus
respectivos países. Com o passar do tempo é que os
fascistas, tendo posse do poder estatal, começavam a dar
mostras de que havia um abismo entre fascismo e classe
trabalhadora (impedimento de criação de associações e
sindicatos, proibição de greves, supressão dos direitos
trabalhistas dos operários e maior autoridade aos donos
de fábricas e empresas foram algumas medidas dos
governos fascistas).
Na Itália,
Mussolini chegou ao poder em 1922, após realizar a
famosa Marcha sobre Roma e fomentar o terror
contra os socialistas com sua divisão militar, os
camicie nere (camisas negras). Essas ações
renderam-lhe a nomeação como primeiro-ministro, e em
1925 já passava a ser chamado de Duce (líder). É
interessante notar que o estilo político fascista de
Mussolini era bem visto por nações como França e
Inglaterra, e havia grupos que simpatizavam-se com a
ideologia fascista. Isso só vai mudar em 1936, quando a
Itália se alinha à Alemanha nazista.
Bem, agora
falei outra coisa significativa. Por que Alemanha
nazista? O que seria esse Nazismo? Apenas
mais um regime fascista? Vamos refletir.
Mussolini e
seus partidários italianos exerceram uma influência tão
grande que seus ideais foram exportados para outros
países. Dentre eles, a Alemanha. Neste país, o fracasso
da República de Weimar, os estragos sociais, econômicos
e culturais da Primeira Guerra Mundial, o espírito
revanchista que pairava sobre boa parte da população e,
para completar, a crise econômica mundial na década de
1930, forneceram um ambiente propício para o
desenvolvimento de ideias radicais.
Em 1918, uma
agremiação política chamada Comitê Livre para uma Paz
dos Trabalhadores Alemães havia sido criada, e seus
fundamentos em muito se assemelhavam aos ideais
socialistas. Em 1919, seu nome foi oficialmente
modificado para Partido Alemão dos Trabalhadores,
e recebia em seu grupo um jovem membro austríaco, que
trabalhava para a inteligência alemã: Adolf Hitler.
Identificado com as proposições dos líderes do Partido
Alemão dos Trabalhadores, ele vem a filiar-se em 1920, e
em 1921 já é seu líder mais inflamado.
Carteira oficial de filiação, de Adolf Hitler, no
Partido Alemão dos Trabalhadores.
A partir
daí, o caráter socialista do partido se modifica, e o
grupo passa a adotar uma política violenta e radical,
baseada na intimidação pela violência. Preso em 1923,
após a tentativa frustrada de tomada do poder (o
golpe da cervejaria), Hitler escreveu o livro
Mein Kampf, onde delineia seus ideais principais e
que viriam a integrar o programa político Nazista, tal
qual conhecemos. Em 1925, saído da prisão, refunda o
partido, agora sob o nome de Partido Nacional Socialista
Alemão dos Trabalhadores.
Os
"trabalhadores" do título nada mais eram que uma
desculpa para mobilizar as massas. O partido apresentava
profundos ideais fascistas, em muito baseados no
fascismo italiano, de Mussolini: anti-socialismo,
antiliberalismo, ultra conservadorismo, centralizador e
totalitário. Porém, Hitler e seus aliados inseriram a
divisão racial como característica fundamental: a
Alemanha era uma nação superior, composta pela raça
ariana, que teria a responsabilidade de subjugar as
demais nações inferiores. Para tal, uma série de
minorias deveriam ser escravizadas (judeus, ciganos,
eslavos, homossexuais e doentes mentais) e exterminadas
(a Solução Final). Esse ideal racista é
decorrente, em muitos aspectos, da xenofobia que já
existia na Europa. Com a imigração permanente ou sazonal
entre nações, principalmente judeus, o sentimento de
ódio aos estrangeiros começou a desenvolver-se
fortemente, principalmente pelos abalos econômicos (o
estrangeiro tirava o trabalho do compatriota, pensavam).
Até 1936, a
Itália tinha entre seus políticos e entusiastas
fascistas grande parte de judeus. Após a aliança com a
Alemanha de Hitler é que a questão racial passou a ser
praticada também por Mussolini. Mas, em sua essência, o
fascismo não apresentava qualquer teoria racial.
Hitler e aliados, no dia do Golpe da Cervejaria.
Os nazistas tentaram, através de um golpe, tomar o poder
em Munique. O engraçado é que esse golpe falhou, mas os
nazistas conseguiriam, em 1933, chegar ao poder por meio
do voto!
Uma outra
diferença bastante clara: o fascismo de Mussolini via a
sociedade como submissa ao Estado, sendo este o único
fim para a atividade social (nada além do Estado). Já o
nazismo encarava a si e ao Estado como instrumentos para
um fim diferente: a soberania da população ariana, e o
bem estar desta. Resumindo: no fascismo, o Estado é o
fim para tudo; no nazismo, o Estado é um instrumento, um
meio, para um fim.
E ELES
CHEGARAM AO PODER... LEGALMENTE!
Do golpe
frustrado em 1923, até a votação e a maioria parlamentar
e Hitler como chanceler, em 1933, decorreram 10 anos de
campanhas nazistas e mobilizações políticas. É preciso
ressaltar que, nesse mesmo período, a República de
Weimar (Alemanha) andava de mal a pior, e a crise
econômica mundial havia complicado a vida de muitos
alemães. Os nazistas e seus discursos inflamados
adquiriram um grande espaço no país, até chegar ao poder
legalmente! (eleição após eleição, adquiriam números
expressivos de votos!).
Na Itália,
Mussolini já era líder máximo, adotando em 1936 o
tratamento de "Sua Excelência Benito Mussolini, Chefe de
Governo, Duce do Fascismo e Fundador do Império".
Com os
ideais fascistas e o poder do nazismo em uma nação
potencialmente grande, a Segunda Guerra começava a ser
encaminhada.
Para
finalizar, convido você a assistir aos seguintes vídeos:
os 2 primeiros mostram Mussolini e Hitler, diante de
platéias quase infinitas, vociferando seus ideais
fascistas (observem que os dois são oradores
habilidosos, e inflamavam o público com seus gritos); o
último, é a paródia que Chaplin fez sobre a Alemanha
Nazista, no filme O Grande Ditador. No filme,
Chaplin faz do discurso final um grande ataque aos
ditadores totalitários fascistas, em especial o próprio
Hitler, transmitindo uma mensagem de paz e democracia.
Discursos de
Mussolini
Discursos de
Hitler
Discurso de
Chaplin, no filme "O Grande Ditador"
Em breve, confira o texto 2:
Guerra total,
guerra mundial: batalhas aéreas, navais e terrestres
em todo o globo.
(Texto do Prof. Pablo
Michel Magalhães, da redação d'O Historiante).
Benito Mussolini, líder
do fascismo italiano.
Mein Kampf (Minha
Luta), livro escrito por Adolph Hitler durante o período em que esteve
preso, e que trata de boa parte de suas ideias raciais. Esta obra
tornou-se best seller na Alemanha Nazista.
CONFIRA TAMBÉM:
- No
Brasil, o Estado Novo de Vargas (1937-1945) apresentou claras
características do fascismo italiano, bem como do nazismo alemão. Porém,
foi um grupo minoritário que chamou ainda mais atenção: os
integralistas. Organizados sob um partido, aos moldes do Partido
Nazista, tinham uma ideologia em muito influenciada pro Hitler (porém,
não compartilhavam das teorias raciais, agregando em suas fileiras
afro-descendentes, como João Cândido, líder da Revolta da Chibata.
-
Vale
a pena conferir o livro História das Guerras, organizado pelo
sociólogo Demétrio Magnoli.
-
Recomendadíssimo é o livro Era dos Extremos, do genial
historiador Eric J. Hobsbawm, principalmente o capítulo A queda do
liberalismo.