A história do Carnaval no Rio de Janeiro

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Desfiles das escolas de samba na Avenida Presidente Vargas, década de 1960 –  (Rio Antigo/Internet)

Carnaval: celebração de música, dança e fantasia! Conheça sua história e importância cultural neste texto informativo.

Da redação
Com informações da BBC

O Carnaval é uma festa popular que ocorre em muitos países, marcada por desfiles, música, dança e fantasias extravagantes. Geralmente realizada antes do período da Quaresma, é uma celebração de alegria e liberdade, onde as pessoas se reúnem para se divertir e expressar sua criatividade.

No Rio de Janeiro, desde o século XVIII, escravos produziam bolas de cera para o entrudo. Apesar da proibição das autoridades, essa tradição persistiu, misturando-se com outras práticas até se tornar o Carnaval carioca. As escolas de samba transformaram a festa, representando uma resistência cultural em tempos difíceis.

Punição ou Castigo

Desde o século XVIII, no Rio de Janeiro, escravos fabricavam bolas de cera para o entrudo, uma celebração europeia que remonta aos tempos pré-cristãos e é considerada uma das precursoras do Carnaval.

Ao longo de um século de Carnaval no Rio de Janeiro, conforme relatado pelo sambista e escritor Haroldo Costa, os chamados “limões-de-cheiro”, utilizados durante o entrudo, eram preenchidos com água ou urina e lançados pelos foliões uns aos outros.

As autoridades imperiais proibiram essa prática e reservaram punições severas para escravos que a infringissem: em 1857, um delegado determinou que eles deveriam receber cem chibatadas ou cumprir oito dias de prisão se violassem a regra.

Apesar disso, o entrudo persistiu e foi se mesclando com outras tradições, como as procissões católicas portuguesas, e práticas vindas principalmente do Nordeste, como as congadas, os autos de Natal, os afoxés e as lapinhas. Dessa maneira, o Carnaval carioca foi se formando.

Após a abolição da escravatura em 1888 e a proclamação da República no ano seguinte, a então capital federal viu um aumento populacional significativo com a chegada de migrantes, muitos dos quais ex-escravos em busca de trabalho.

O carnaval e as escolas de samba

As escolas de samba alteraram a música do Carnaval e a geografia do Rio de Janeiro.

De acordo com o historiador Luiz Antônio Simas, as escolas de samba trouxeram os morros e subúrbios para o mapa, em contraposição ao discurso oficial que associava o Rio apenas à orla e ao Centro da cidade. Ele exemplifica com o caso da Mangueira, um morro na zona norte do Rio, que abriga uma das escolas de samba mais populares da cidade, a Estação Primeira de Mangueira.

Tanto novos quanto antigos moradores paravam para assistir aos ranchos nos primeiros carnavais do século XX, os primeiros grupos a desfilar com mestre-sala e porta-estandarte.

Até então, segundo Simas, não havia nada verdadeiramente original no Carnaval do Rio, era uma mistura de manifestações de várias culturas.

O ponto crucial ocorreu nos anos 1930, com as primeiras competições entre grupos de sambistas surgidos nos morros e subúrbios de maioria negra.

A partir daí, o samba urbano, nascido décadas antes no Rio, se tornou a trilha sonora principal da festa.

O mesmo aconteceu, afirma o historiador, nos bairros suburbanos como Oswaldo Cruz, berço da escola Portela, Madureira, local de origem da Império Serrano, e Padre Miguel, onde nasceram a Mocidade e a Unidos de Padre Miguel.

Simas ressalta que, mais do que simples grupos artísticos e musicais, as agremiações eram instituições comunitárias que fortaleciam os laços entre os moradores e ofereciam uma rede de apoio social para pessoas marginalizadas.

O momento não era propício para o surgimento das escolas. Durante a ditadura do Estado Novo (1937-1946), o governo de Getúlio Vargas revigorou o projeto de embranquecimento físico e cultural da população, iniciado por D. Pedro II, desta vez impedindo a entrada de imigrantes negros, judeus e japoneses.

Para Simas, o surgimento das escolas de samba nesse contexto foi “um verdadeiro milagre”. Ele atribui a sobrevivência dos grupos à “cultura da malandragem”, que sempre soube negociar com o Estado e com a contravenção representada pelo jogo do bicho, uma fonte tradicional de recursos para as escolas.

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