Leia também o texto
1 - Sacramentum gladiatorum: os gladiadores dos circos
romanos.
ESPECIAL GLADIADORES - TEXTO 2
20/11/2011
FASCÍNIO E HORROR: A ATRAÇÃO QUE
A GLADIATURA EXERCIA NO POVO ROMANO.
Prof.
Pablo Michel Magalhães
Seriam os romanos viciados em sangue, mortes e lutas?
Apreciar um combate entre gladiadores representaria um
gosto desmedido pelo horror dos combates sangrentos e
carnificina?
Essas perguntas fazem parte da curiosidade do público,
em face de produções como a série Spartacus ou o
filme Gladiador, onde os espectadores desses
embates gritam, urram e reclamam mortes e muito sangue
como resultado dos golpes desferidos. Entretanto, até
que ponto essas produções cinematográficas estão certas
ou erradas? Qual a motivação dos cidadãos do Império
Romano em assistir jogos de luta?
Imagem:
cena da série "Spartacus: Blood and Sand"
Aqui vamos além do primeiro texto desta série especial:
os combates já não são realizados apenas como homenagem a
honoráveis cidadãos nos funerais, mas representam também uma
estratégia eleitoral. Os embates passam a crescer, e os
locais onde ocorrem também. Anfiteatros são erguidos,
pouco a pouco, nas cidades mais proeminentes, como
investimento de famílias mais abastadas, tendo em vista
o apoio popular e a exaltação do nome do
paterfamilias, que oferece embates por ocasião
das eleições, ou em homenagem a seus antepassados
heróicos.
ROMANIDADE
O gosto por estes espetáculos já era algo comum entre os
romanos, e esses espetáculos adquiriam um público
grande, que costumava lotar as arenas. Para além de
Roma, as demais cidades da península itálica seguiram o
ritmo de sua capital, e a gladiatura começou a
significar fama e sucesso para aqueles envolvidos em seu
exercício.
O Império excede seus limites: na Hispânia, anfiteatros
são erguidos, fruto do contato das culturas tribais
hispânicas com o ideal romano de civilidade, como bem
explica a historiadora Renata S. Garaffoni. Os romanos
não impõem sua cultura em suas possessões. Eles
assimilam a cultura de seus dominados e, dentro dessa
realidade, aplicam a romanidade na vida urbana. A
exemplo disso, podemos citar a relação destes
conquistadores com os deuses locais: nunca destruíam os
cultos e impunham seus próprios deuses, pelo contrário,
os magistrados romanos enviados para governar o local
realizavam sacrifícios a esses deuses locais, para que
não se voltassem contra si próprios.
Imagem:
Ceia de Trimalciao
Ser romano é ser, acima de tudo, cidadão de uma Urbs (ou
seja, ser urbano), e viver os prazeres de sua cidade
(aqueles que viviam fechados em casa eram vistos com
desconfiança). O privado, nesse momento, se confunde com
o público, como bem define o historiador Paul Veyne.
GLÓRIA E FAMA
Não se engane: poucos ou quase nenhum escravo que exerce
a gladiatura está lá obrigado pelo seu senhor. Ninguém
obriga um homem a treinar, aprender a arte da batalha e
lutar. De acordo com Paul Veyne, os gladiadores são
voluntários na maioria das vezes, exceto quando a
justiça encaminha um criminoso para a gladiatura como
opção, ao invés de enviá-lo aos campos de concentração e
trabalhos forçados.
Dentre os escravos, também, os senhores observavam os
mais ligeiros e espertos, com potencial ao combate, e
encaminham-nos para os ludus, locais de treino dos
combatentes. Para o escravo, isso significaria um passo
para a glória, caso realmente tivesse habilidades de bom
gladiador: dinheiro, fama, mulheres, essas eram as
recompensas de um lutador bem sucedido, além da
possibilidade de aposentadoria (caso sobrevivesse,
claro).
Os gladiadores eram, também, super estrelas, como os
grandes jogadores de futebol na atualidade. Eles são
louvados pela população, seus fãs os eternizam nas
paredes das cidades, com desenhos de suas batalhas,
principalmente no momento em que ele decapta seu
adversário. A população ama seus gladiadores, mas também
os rejeita: é péssimo ser visto ao lado deles, pior
ainda visitar um ludus. Mas não são poucas as moças de
elite que buscam prazeres sexuais com gladiadores, esses
personagens sagrados e profanos.
O
ÊXTASE DE UMA ADORAÇÃO
Conta Tácito, membro da elite romana, que em 59 d.C,
durante o principado de Nero, uma troca de injúrias
provocou um embate colossal entre colonos de Pompéia e
Nucéria. Provavelmente, esse enfrentamento teria sido
motivado pela preferência por um ou outro gladiador que
estavam, naquele momento, se enfrentando na arena.
Em seu relato, Tácito diz que esse evento ocorreu
durante o espetáculo de gladiadores organizado por
Livíneo Regulo, magistrado local que teria sido retirado
de seu cargo pouco depois por ordem de Roma. A
princípio, alguns espectadores começaram a divergir
sobre o melhor gladiador em batalha, indo rapidamente de
uma simples divergência para discussão e troca de
injúrias, e logo pompeianos e nucerianos armaram-se com
paus e pedras, e a batalha começou.
Os nucerianos foram massacrados pelos torcedores de
Pompéia, e o caso foi parar em Roma, que resolveu punir
os agressores de ambos os lados, além de dissolver os
colegiados pompeianos. Em Pompéia, também, foram
proibidas as reuniões públicas para os próximos 10 anos.
Realmente, falar em gladiadores em pleno Império Romano
era mexer com os brios de vários torcedores.
Texto do Profº Pablo Magalhães, da redação d'O
Historiante.
EM
BREVE, TEXTO 3 -
ARMAS, SUOR E SANGUE: COMO
FUNCIONAVAM OS LUDUS.
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