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30/09/2013 - Texto 3- A vingança neerlandesa contra os espanhóis: A VOC e a WIC.
Prof.ª Joyce Oliveira Pereira
Licenciada em História - UFMA
Antes da rebelião contra os espanhóis, muitos holandeses, zelandeses e frisões já navegavam como tripulantes em barcos espanhóis e portugueses, que iam com destino à África, à Ásia, à América e às Índias. Utilizavam mapas portugueses, que eram considerados mais confiáveis e precisos, e a prática do corso. A geografia acabou se tornando um dos temas mais debatidos e estudados dos Países Baixos. Podemos tomar como exemplo do desenvolvimento destes estudos o mapa de Mercator, que utilizamos ainda hoje e que foi elaborado pelo flamengo Gerardus Mercator (1512-1594), em 1569.
Mapa de Geradus Mercator
Os ataques neerlandeses mais pesados e contínuos concentraram-se nas possessões portuguesas do que nas espanholas. Esta ‘preferência’ ocorreu porque a América Portuguesa era o elo mais desprotegido do império espanhol: sendo uma possessão portuguesa tinha uma posição subalterna nas prioridades militares do governo castellano. Entre 1598 e 1599, ocorreram os primeiros ataques nas ilhas de São Tomé e Príncipe. Posteriormente, em 1612, os neerlandeses fundaram o forte Nassau na Costa do Ouro, que se tornou uma base estratégica para realizar operações no litoral da África e da América.
Mas isso não era suficiente. Capturar as rotas comerciais de longa distância do Oriente e da América era essencial para os neerlandeses afirmarem o domínio sobre o comércio mundial. Para tal, em 1602, os Estados Gerais, o Grande Prebendário Barneweldt e Maurício de Nassau criaram a Companhia das Índias Orientais (VOC), que quebrou o monopólio ibérico das especiarias do Oriente e capturou estas rotas comerciais promovendo o comércio e comercialização na Ásia, tendo o aval do monopólio outorgado pelo governo neerlandês. A VOC teve êxito no controle da comercialização do cravo, do macis, da noz-moscada das Molucas, da canela da costa do Ceilão e da pimenta de Malabar.
Símbolo da VOC na moeda da Companhia
Podemos citar três pontos que levaram ao sucesso neerlandês na Ásia. Os recursoseconômicos foram uma das primeiras barreiras se confrontarmos a riqueza da República das Províncias Unidas do Norte à pobreza de Portugal. Os contingentes militares também são incomparáveis, pois enquanto os portugueses mantinham o sistema de soldados e casados e o privilégio da fidalguia, os neerlandeses privilegiavam a experiência e acompetência profissional para a promoção dos comandantes a serviço da VOC, além dos treinamentos e disciplinas a que os soldados neerlandeses eram submetidos.
O envio de crianças e o costume português, por parte dos melhores soldados adultos, do abandono da guerra pela batina de jesuíta e noviço também contribuíram muito. Não havia tática de guerra; os portugueses eram geralmente os últimos a adotarem inovações nos treinamentos ou equipamentos, e tinham uma autoconfiança que os tornavam negligentes em ocasiões necessárias.
Soldado neerlandês
O impulso da navegação neerlandesa para o Novo Mundo deu-se pela guerra de corso e sal do Caribe. O açúcar brasileiro a esse momento era uma atividade controlada pelos judeus de origem portuguesa que habitavam em Amsterdã desde que fugiram das perseguições religiosas na Península Ibérica, e desde que a Espanha tinha reconquistado o porto de Antuérpia, que tinha sido até 1585 o principal entreposto português no norte da Europa. O embargo do sal promovido por Filipe II, em 1585, 1595 e 1598, acabou prejudicando a indústria de pescado que sustentava a República das Províncias Unidas. E não só isso, prejudicou as relações entre Brasil e os neerlandeses.
A assinatura da trégua entre espanhóis e neerlandeses (1609-21) permitiu um maior conhecimento das condições econômicas, sociais e geográficas do litoral nordestino, assim como de seus portos e do traçado urbano das cidades, como Olinda, que se tornavam essenciais para planejar uma invasão. Mas o acordo não foi renovado e a guerra foi reatada. Por forte insistência da Zelândia, reduto da “indústria do corso”, em 09 de junho de 1621 a Companhia das Índias Ocidentais (WIC) recebeu seu alvará detendo como monopólio a conquista, navegação e o comércio em toda a área compreendida entre aTerra Nova e o estreito de Magalhães, de um lado do Atlântico, e entre o trópico de Câncer e o Cabo da Boa Esperança, do outro.
Símbolo da WIC
A WIC foi fruto do empreendimento de um grupo de comerciantes calvinistas originários dos Países Baixos espanhóis, que emigraram para a Holanda depois que Flandres e Brabante foram reconquistados para a causa do catolicismo, em 1580. A WIC era organizada como “sociedade por ações”. Seus estatutos autorizavam alianças com os naturais da África e América, construir fortificações, nomear governadores, funcionários, enviar tropas, contratar soldados e realizar comércio.
O incentivo à organização da WIC levou-se em conta o odium theologicum (ódio religioso) entre calvinistas e católicos romanos, nesse caso o ódio à Espanha. Assim, investir na Companhia se tornou algo popular. Os pequenos investidores, mesmo sem poder de voz e voto, eram muitas vezes participantes ativos da Igreja Reformada Neerlandesa; e levavam a guerra contra o catolicismo e a Espanha como um dever religioso a quem Deus e seu dinheiro podiam ajudar.
Apesar desse incentivo e ajuda recebida, a Companhia levou dois anos para vender as ações. Este foi um sinal de que os grandes investidores não acreditavam na possibilidade de lucro através do corso. A WIC só conseguiu o capital necessário depois que o monopólio do sal de Punta-Araya entrou em sua carta-patente, além de investimentos franceses, genoveses e italianos.
Com tudo em ordem, era a hora de partir e vir para o Nordeste.
Vista de Olinda, capitania de Pernambuco no período colonial