14/01/2013
A moderna música popular
brasileira
Prof. Carl Lima
Segundo o Historiador Marcos Napolitano, o Brasil é sem
dúvida umas das grandes usinas sonoras do planeta e um
lugar privilegiado não apenas para ouvir, mas também
para pensar música. Podemos assim, supor que a música
sempre esteve presente no cotidiano da sociedade
brasileira: dos cantos gregorianos/religiosos aos
lamentos dos escravos no eito do trabalho na
colônia/império, passando pelo século XIX
e a invenção da vida burguesa com suas expressões
artísticas de lazer, no qual destacam-se os musicais,
como a Modinha, Lundu, Polca, Choro, Maxixe.
É importante ressaltar que as classes populares também
mantinham seus espaços de diversão musical, a exemplo do
sarau doméstico, a rua, o pagode popular e as festas nas
Senzalas.
Chegando
ao século XX e ao desenvolvimento da música popular,
denominada particularmente de Canção, que serviriam
tanto para excitação corporal – música para dançar –
quanto para emocional – música para chorar de dor ou de
alegria – reelaborada e ressignificada pelos meios de
comunicação, primeiramente o rádio e em posterior a
televisão, a sua presença marcou época, cultivou
paixões, criou ídolos e, o mais importante,
relacionou-se intimamente com as fases de nossa
história, sendo caracterizada como documento
sócio-histórico e destacando-se pelos seus testemunhos
que contribuem para pensarmos as transformações na
sociedade brasileira por outro viés. Além disso, devemos
reconhecer que a música foi, ao menos em boa parte do
século XX, a tradutora dos nossos dilemas nacionais e
veículos de nossas utopias sociais.
Ataulfo Alves: grande sambista da década de 1930.
O período que proponho a reflexão principia na década de
1960, é o momento de gestação e modernização da música
popular brasileira (MPB). A MPB representa muito mais
que um gênero musical específico, define-se de alguma
maneira enquanto um complexo cultural que tem em suas
bases o fechamento de um processo
cultural/artístico/estético iniciado nos anos 20, que
tinha como objetivo final a busca e apreensão de uma
identidade nacional brasileira. Essa música popular é
reconhecida, por muitos, como a síntese genealógica da
experiência musical no Brasil, e a sua existência era
sustentada por um complexo hibridismo.
A MPB entendida como um movimento amplo e complexo,
responsável pela modernização da música tradicional,
incorporou durante esse período que estou enfatizando -
entre as décadas de 1960 e 1980 - dois outros movimentos
que reivindicavam para si a tutela desse processo de
modernização musical. O primero deles, os
Bossa-Novistas, que, nos fins dos anos 1950,
resolveram romper com o projeto de folclorização da
música popular e passaram a buscar, a todo custo, a
valorização da mistura dos gêneros musicais brasileiros,
com as tendências da música internacional do período,
que naquele momento convergiam no Jazz. Assim, João
Gilberto, Carlos Lyra, Edu Lobo e Nara Leão tinham como
características a sutileza interpretativa, a harmonia
valorizada e o adensamento dos elementos estruturais da
canção (harmonia, ritmo e melodia) sempre construído em
torno de temáticas intimistas (amor, sorriso, flor).
A Bossa-Nova mais que rompeu - como era dito por seus
artistas - com a tradição musical, a exemplo do
samba-canção dos morros cariocas; ela ressignificou,
incorporou elementos e proporcionou um dinamismo na
fixidez amalgamada cultural brasileira.
O
nascimento da Bossa Nova correspondeu ao período de
otimismo da ideologia nacional-desenvolvimentista,
emanada pelo governo de Juscelino Kubitschek, onde houve
construções de grandes parques industriais e a inserção
de fato, do país, ao capitalismo industrial.
Se no
início do governo Kubitschek ocorrera alguns problemas
na ordem de legitimidade ideológica ou de
econômica/fiscal, a segunda etapa de sua administração,
marcou-se pela calmaria ou por uma “harmonia forjada”,
em nome do projeto brasileiro de futuro, assegurado e
amparado pelo seu Plano de Metas. Portanto, momento mais
do que propicio para o desenvolvimento do campo cultural
e com uma temática voltada para modernidade.
O outro
movimento reivindicatório do modernismo musical foi o
Tropicalismo ou simplesmente Tropicália. Inaugurado
na virada de 1967 para 1968, período historicamente
conhecido como do “golpe dentro do golpe”, desenvolvido
a partir da instauração do Ato Institucional 5 (AI5) e
que radicalizou o processo ditatorial em andamento,
caracterizando-se por proibir toda e qualquer forma de
oposição e manifestação contrária ao regime. O
Tropicalismo nasce inicialmente crítico à MPB,
principalmente à sua faceta nacionalista engajada. As
críticas, conforme Napolitano (2005) seriam as
seguintes: a MPB privilegia o conteúdo e não a forma;
folcloriza o subdesenvolvimento, Xenófoba, era
mistificadora e idealista, pois se voltava apenas para o
“dia que virá nos libertar”. Além do caráter
crítico, a Tropicália demonstrou desde o seu nascimento
personalidade, particularmente por incorporar outros
estilos e materiais sonoros renegados tanto pela Bossa
Nova, quanto pela MPB nacionalista, para os quais eram
denominadas de cafonas e difamadas pelo mau-gosto, a
exemplo do bolero e das marchinhas populares; ou por sua
inserção ao Pop e aos modismos fonográficos
internacionais, como destaque para o Rock’n roll dos
Beatles. Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato
Neto, Tom Zé, Jorge Mautner, Capinam, Gal Costa –
líderes do movimento – tornam-se vanguardistas de uma
estética nacional, que agora, se queria também
internacionalista.
O primeiro time da Bossa Nova: Tom,
Vinícius, Bôscoli, Menescal e Lyra.
O
nascimento da Bossa Nova correspondeu ao período de
otimismo da ideologia nacional-desenvolvimentista,
emanada pelo governo de Juscelino Kubitschek, onde houve
construções de grandes parques industriais e a inserção
de fato, do país, ao capitalismo industrial.
Se no
início do governo Kubitschek ocorrera alguns problemas
na ordem de legitimidade ideológica ou de
econômica/fiscal, a segunda etapa de sua administração,
marcou-se pela calmaria ou por uma “harmonia forjada”,
em nome do projeto brasileiro de futuro, assegurado e
amparado pelo seu Plano de Metas. Portanto, momento mais
do que propicio para o desenvolvimento do campo cultural
e com uma temática voltada para modernidade.
O outro
movimento reivindicatório do modernismo musical foi o
Tropicalismo ou simplesmente Tropicália. Inaugurado
na virada de 1967 para 1968, período historicamente
conhecido como do “golpe dentro do golpe”, desenvolvido
a partir da instauração do Ato Institucional 5 (AI5) e
que radicalizou o processo ditatorial em andamento,
caracterizando-se por proibir toda e qualquer forma de
oposição e manifestação contrária ao regime. O
Tropicalismo nasce inicialmente crítico à MPB,
principalmente à sua faceta nacionalista engajada. As
críticas, conforme Napolitano (2005) seriam as
seguintes: a MPB privilegia o conteúdo e não a forma;
folcloriza o subdesenvolvimento, Xenófoba, era
mistificadora e idealista, pois se voltava apenas para o
“dia que virá nos libertar”. Além do caráter
crítico, a Tropicália demonstrou desde o seu nascimento
personalidade, particularmente por incorporar outros
estilos e materiais sonoros renegados tanto pela Bossa
Nova, quanto pela MPB nacionalista, para os quais eram
denominadas de cafonas e difamadas pelo mau-gosto, a
exemplo do bolero e das marchinhas populares; ou por sua
inserção ao Pop e aos modismos fonográficos
internacionais, como destaque para o Rock’n roll dos
Beatles. Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato
Neto, Tom Zé, Jorge Mautner, Capinam, Gal Costa –
líderes do movimento – tornam-se vanguardistas de uma
estética nacional, que agora, se queria também
internacionalista.
Mesmo
que, esteticamente, houvesse diferenças explícitas entre
essas canções - representantes legítimas da gênese da
MPB - algo as unia: a temática, oriunda de um conjunto
de preocupações sociais e ideológicas. Isso já é o
bastante para colocá-las como símbolos da memória
artística nacional.
(Texto do prof. Carl Lima, da redação d'O
Historiante)
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