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22/05/2013 - O Tambor de Mina do Maranhão e a Casa das Minas.

 

Prof.ª Joyce Oliveira Pereira

Licenciada em História - UFMA

 

Quando o Brasil ainda era um Império (1822-1889), a Província do Maranhão foi a segunda a receber o maior número de trabalhadores escravos, só ficando abaixo da Província da Bahia. Neste trânsito forçado entre o continente africano e o americano, os trabalhadores escravos trouxeram consigo suas marcas culturais. No Maranhão persiste uma dessas heranças, o Tambor de Mina. Esta denominação advém da origem dos praticantes desta religião e do principal instrumento utilizado nas festas: os trabalhadores escravos de origem sudamesa eram capturados e encaminhados para o forte São Jorge da Mina/ Forte El Mina no continente africano e, por isso, eram nomeados como “escravo mina”. E o tambor tem papel importante nas festas para que as entidades se manifestem.

Escrava mina

 

Aqui, falaremos sobre a Casa das Minas, que é o terreiro de religião africana mais antigo de São Luís (MA) que foi fundado no século XIX. Segundo Pierre Verger, há fortes indícios de que a Casa tenha sido fundada por Ná Agotimé, da família real de Abomey, esposa do Rei Agonglô (1789-1797) e mãe do rei Ghezo (1818-1858) que foi vendida como escrava por Adandozan (1797-1818) que ocupou o trono do Daomé após o falecimento de Agonglô. Mas os cultuantes da Casa levam em conta a memória histórica que aponta Maria Jesuína, africana consagrada ao vodum Toi Zomadonu como fundadora.

O símbolo do rei Agonglô: um abacaxi.

 

Por ordem de Toi Zomadonu, Mãe Maria Jesuína fundou a Casa e, por isso, esta pertence a ele. A casa é dedicada ao culto de voduns, entidades espirituais do antigo reino africano do Daomé, atual República do Benin. Na Casa das Minas é conhecido o culto a 45 voduns e 15 entidades infantis femininas nomeadas de Tobossis ou meninas, relacionadas ao culto de princesas infantis. Cerca de 20 entidades cultuadas na Casa pertencem à dinastia que governou o reino do Daomé entre os séculos XVII e XVIII. Dentre eles, podemos citar, além da família real de Davice, à qual pertence Toi Zomadônu, muitos voduns de outras famílias: Dambirá, Quevioçô, Aladanu e Savalunu, esta hospedada na casa por Zomadônu.

Casa das minas

 

Esta Casa é o único terreiro Mina-jeje do Maranhão e exerceu grande influência sobre as casas de Mina de outras ‘nações’. Mas, esta Casa não dá origem a outras, pois só familiares podem participar do culto (nas religiões de matriz africana, geralmente, os filhos-de-santo podem "abrir" seus próprios terreitos, que serão chefiados poe eles mesmos. Na Casa das Minas, isso não ocorre). Respeitando a tradição matriarcal vinda da África, a Casa sempre foi chefiada por mulheres, que são denominadas de vodunsis (são as devotas que recebem as entidades, os voduns, em transe). Desde sua fundação, a Casa foi comandada por seis vodunsis (após a escolha, estas vodunsis devem exercer a função de comando do culto até a morte), e, atualmente, quem comanda o culto é Dona Deni Prata Jardim, consagrada a Toi Lepón da família de Dambirá.

 

 

 

 

 

Vodunsis em transe com tobossis. As tobossis são entidades de princesas crianças, daí estarem com bonecas no colo.

 

Em 2002 o prédio foi tombado pelo IPHAN, mas hoje, infelizmente, esta Casa passa por um processo de declínio quanto ao número de vodunsis. Há mais de 80 anos, não se faz a iniciação completa na Casa das Minas, e o número de dançantes está pequeno, em sua maioria de pessoas idosas. Em 2010, Maria Celeste dos Santos, de Toi Averequete (mais conhecida como Dona Celeste) que era a responsável pela Festa do Divino faleceu aos 86 anos e restou apenas Dona Deni à frente do culto. Torcemos com muito fervor para que o som dos tambores da Casa das Minas não se calem após dois séculos de fundação.

Dona Celeste, falecida em 2010. Era responsável pela Festa do Divino.

Dona Deni, responsável pelo culto dos voduns, sendo entrevistada por pesquisadores. A Casa das Minas é objeto de estudo em todo o mundo.

 

Confira também:

- O museu afro digital do Maranhão possui um grandeacervo de fotos e vídeos sobre Tambor de Mina e outras manifestações. Acesse o link clicando aqui.

 

Assista:

Casa das Minas

Documentário Atlântico Negro - Na Rota dos Orixás