Por que devemos usar a máscara?

Créditos: Shutterstock
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Entender como viver no coletivo e se relacionar com o Outro pode responder à pergunta dessa coluna. Colocamos sempre no colo do Outro aquilo que não gostamos ou não aceitamos.

Teresa Leonel
Mestra em Comunicação e Culturas Midiáticas (UFPB)
Professora no curso de Jornalismo em Multimeios (UNEB/Juazeiro-BA)

No capítulo 12 do livro Por que estudar a mídia (2005), Roger Silverstone[1] traz uma análise muito interessante sobre o Outro. Isso mesmo que você está lendo: o Outro com “O” maiúsculo. No jargão jornalístico a gente diz Caixa Alta.

O autor faz uma reflexão na perspectiva de que não vivemos e não podemos viver de modo isolado. A abordagem traz como guarda-chuva a questão do Outro numa relação simbiótica com a mídia (conglomerados de comunicação). No entanto, a mídia está inserida na sociedade que construímos, nos envolvemos, compartilhamos, trocamos de lugares e funções entre pessoas, plataformas, robôs e internet.

Silverstone (2005, p.248) diz que “eu e o Outro compartilhamos um mundo, que eu serei seu Outro tanto quanto você será o meu, mesmo que não o conheça […] Há algo aí fora que não sou eu, que não é de minha produção, não está sob meu controle. Mas, o Outro inclui outros”. Dessa forma, é necessária uma relação para se viver em sociedade. Isso é o grande desafio.

Por meio dessa relação, “sou forçado a reconhecer que não estou sozinho, que, de uma maneira ou de outra tenho de levar o Outro em conta”. (SILVERSTONE, 2005, p. 249). E quem é esse Outro? São pessoas que conhecemos ou não. Podem ser amigos e até mesmo os inimigos. Estão dentro do pacote os vizinhos, os que andam no ônibus ou trem, que circulam perto ou longe de você, que ocupam o mesmo espaço e fazem parte da paisagem social. Estão no passado e no futuro, nas fotografias, nas telas ou nas mídias sociais e compõem a formação societária.

Assim, como entender o Outro a partir de uma perspectiva individualista? Narcisista? Egocêntrica? É complicado e ao mesmo tempo desafiador. Juntamos os eventos do cotidiano com aqueles inesperados que chegam sem a gente planejar e que transformam nossas vidas num caldeirão de insegurança. A pandemia da COVID-19 é um deles. Colocamos tudo isso num processador social e o caldo é um caos progressivo.

Parece que não fomos preparados para problemas e desafios. Colocamos sempre no colo do Outro aquilo que não gostamos ou não aceitamos. Isso pode se chamar falta de empatia? Possivelmente. Entender como viver no coletivo e se relacionar com o Outro pode responder à pergunta dessa coluna: Por que devemos usar a máscara?

As associações na vida em sociedade são guiadas pela convivência das pessoas em grupos. Sejam elas familiares, de amigos, trabalho, igreja, academia, a turma da pelada na praia (jogo de futebol na areia), os senhores que jogam dominó final da tarde na praça, os colegas que marcam pra tomar uma toda quinta-feira ou as amigas que trocam confidências pelo WhatsApp.

É uma série de relações sociais que precisam, necessariamente, ser feitas em conjunto, com o Outro. Então por que é tão difícil respeitar o Outro, se o Outro é parte de mim dentro da estrutura societária? Voltamos à pergunta dessa coluna: Por que devemos usar a máscara?

Vamos tentar responder este questionamento a partir de uma perspectiva do Outro.

1º Porque ainda estamos numa pandemia que começou em março de 2020 e já ceifou mais de 540 mil brasileiros. É preciso registrar que depois de um ano e quatro meses de vida pandêmica, temos uma média móvel de mortes de 1.224 pessoas[2].

2ª Porque apenas 16,22%[3] dos brasileiros estão imunizadas de forma completa.

3º Porque essa pequena parcela da população (com as duas doses da vacina), não está livre da contaminação pela covid-19.

4ª Porque precisamos respeitar o Outro que vive comigo e com você em sociedade.

5º Porque precisamos exercer nossa cidadania por completo e isso inclui o Outro.

6º Porque a empatia é uma virtude que deve fazer parte do DNA da humanidade.

As respostas para a pergunta que abre esta coluna estão nos impactos dos processos de vivência em coletividade. No entanto, “tudo o que fazemos, tudo que o que somos, como sujeitos e atores no mundo social, depende de nossa relação com os outros” (SILVERSTONE, 2005, p. 249).

Para tanto, precisamos interagir, compreender, se colocar no lugar do Outro e ouvir, ouvir e ouvir… o Outro. Esses caminhos podem ajudar o humano que se diz “consciente” a entender não apenas a máquina como extensão da sociedade, mas o Outro como parte da nossa vida.

Como citar este artigo:
LEONEL, Teresa. Por que devemos usar a máscara? (Coluna). IN: O Historiante. Publicado em 21 de Julho de 2021. Disponível em: https://ohistoriante.com.br/blog/2021/07/21/por-que-devemos-usar-a-mascara/. ISSN: 2317-9929.

Sobre a colunista

Teresa Leonel é doutoranda em Comunicação no PPGCOM da UFPE. Mestra em Comunicação e Culturas Midiáticas pela UFPB. Jornalista e cientista social. Professora no curso de Jornalismo em Multimeios da Universidade do Estado da Bahia, em Juazeiro. Autora do livro Blog do Noblat: estilo e autoria em jornalismo (Appris: 2015). Área de pesquisa: jornalismo, mídias sociais, narrativas noticiosas em WhatsApp, Teoria Ator-Rede


Notas

[1]  SILVERSTONE, Roger. Por que estudar a mídia. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2005.

[2] Fonte: Consórcio de veículos de imprensa a partir de dados das secretarias estaduais de saúde. Disponível: https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2021/07/19/brasil-tem-mais-de-542-mil-mortes-por-covid-na-pandemia-media-movel-de-obitos-continua-em-queda.ghtml. Acesso: 19 julh 2021.

[3] IbidemPosted UnderColuna “Espaço das ideias”