Charles Darwin, escravidão e o Brasil do século XIX

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Natureza, injustiça e escravidão foram registradas pelo naturalista em expedições no Brasil. Sua passagem por Salvador e Rio de Janeiro seria crucial para a elaboração de sua Teoria da Evolução.

O navio H.M.S. Beagle deixou o porto de Plymouth, no sul da Inglaterra, carregando consigo um jovem cientista. Charles Darwin tinha apenas 22 quando iniciou as expedições pelo planeta.

Um de seus professores na Universidade de Cambridge, o botânico John Stevens Henslow, indicara seu nome para participar da expedição científica que iria rodar o mundo.

Amplie a imagem e veja os detalhes da viagem de Darwin

Dirigido pelo comandante Fitz-Roy, o navio em dezembro de 1831. Após passar por Cabo Verde e por alguns arquipélagos, enfim, ele chegou a Salvador, no dia 29 de fevereiro de 1832, ressaltando em suas anotações que todo o trabalho braçal era feito por negros e que os ingleses intolerantes não passavam de “selvagens polidos”.

Em terra firme, o jovem cientista gostava de embrenhar-se pelas matas úmidas e coletar bichos, plantas e rochas. A cada novo porto onde o Beagle atracava, Darwin enviava suas amostras, desidratadas ou conservadas em álcool, aos cuidados de seu tutor, John Henslow, em Londres.

Ao todo, catalogou mais de 5,4 mil peças, entre espécies fósseis e espécimes preservados.

Algumas das experiências que teve foram consideradas assustadoras, como uma tempestade tropical e, inusitadamente, o carnaval de Salvador: o inglês foi acertado por bolas de cera cheias de água, conhecidas como Limão de Cheiro.

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Charles Darwin e a escravidão no Brasil

O que Charles Darwin viu no Brasil – DW – 26/07/2017
Escravos no Brasil, em pintura de 1835: Darwin cita muitas vezes exemplos claros de crueldade contra negros (Imagem: DeutchWelle)

Em oposição à beleza preservada, a situação dos escravizados também chamou atenção do naturalista. Sua família, tradicionalmente, era anti-escravagista. Os avós de Darwin participaram ativamente dos movimentos abolicionistas do século 17. No Brasil, ele se deparou com uma escravidão que descreveria em seu diário como “infame”.

Alguns episódios, no entanto, lhe marcaram profundamente.

Um deles aconteceu na Fazenda Itaocaia, em Maricá, a 60 km do Rio, no dia 8 de abril, quando um grupo de caçadores saiu no encalço de alguns escravizados. A certa altura, os foragidos se viram encurralados em um precipício.

Uma escravizada, de certa idade, porém, preferiu atirar-se no abismo a ser capturada pelo capitão do mato.

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Outro caso, entretanto, vamos deixar o próprio Darwin relatar:

“Perto do Rio de Janeiro, minha vizinha da frente era uma velha senhora que tinha umas tarraxas com que esmagava os dedos de suas escravas. Em uma casa onde estive antes, um jovem criado mulato era, todos os dias e a todo momento, insultado, golpeado e perseguido com um furor capaz de desencorajar até o mais inferior dos animais. Vi como um garotinho de seis ou sete anos de idade foi golpeado na cabeça com um chicote (antes que eu pudesse intervir) porque me havia servido um copo de água um pouco turva…

(Charles Darwin, A Viagem do Beagle)

Desembarcar em um país onde ainda vigorava o comércio de escravos, de fato, foi um choque para ele. Darwin chegou a se desentender com o capitão do Beagle sobre o assunto e, por muito pouco, não voltou mais cedo para a Inglaterra.

E essas são coisas feitas por homens que afirmam amar ao próximo como a si mesmos, que acreditam em Deus, e que rezam para que Sua vontade seja feita na terra! O sangue ferve em nossas veias e nosso coração bate mais forte, ao pensarmos que nós, ingleses, e nossos descendentes americanos, com seu jactancioso grito em favor da liberdade, fomos e somos culpados desse enorme crime.”

(Charles Darwin, A Viagem do Beagle)

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Assim como as anotações sobre a exuberância dos trópicos, perceber de perto os horrores da escravidão, contudo, também foi crucial para o desenvolvimento de sua teoria da Evolução das Espécies, que coloca todos os seres humanos no mesmo grau de evolução, como descendentes de um ancestral comum.

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