Golpe ou revolução? As disputas de narrativa sobre a Ditadura de 64

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Tanques do Exército em frente ao Congresso, após o golpe, em data indeterminada de 1964. Fonte: Agência Senado

Era o dia 02 de abril. Tanques faziam a patrulha em frente ao Congresso Nacional. A cena era inusitada. Tanques numa patrulha? Um dia antes, o país estaria no centro de uma das mais desastrosas manobras políticas da História brasileira recente.

Da redação

Aquela quarta-feira seria, de fato, completamente fora de qualquer sentido possível de normalidade. O general Cordeiro de Farias anotou: “A verdade (é triste dizer) é que o Exército dormiu janguista no dia 31 e acordou revolucionário no dia 1º”. Antes do meio dia de 1o de abril, o Forte de Copacabana e o QG da Artilharia de Costa foram tomados pelos golpistas.

João Goulart, no entanto, ainda estava despachando no Palácio Laranjeiras, no Rio de Janeiro, até o meio dia daquele mesmo dia. Pouco depois de uma da tarde, ele pegou um avião rumo a Brasília.

Não havia consenso, todavia, entre os militares de alta patente sobre realizar o golpe. O general Oromar Osório, comandante da 1ª Região Militar e o brigadeiro Francisco Teixeira, comandante da 3ª Zona Aérea são exemplos de militares que permaneceram fiéis a Jango.

Até mesmo Amaury Kruel, comandante do II exército de São Paulo, que de fato deu o golpe, ainda refletia sobre depor ou não João Goulart. Segundo o jornalista Mário Magalhães, o golpe teria se consumado no Rio às 16hs do dia 1o. Foi nesse horário que os tanques deixaram de defender o Palacio Laranjeiras, que simbolizava o poder republicano, e passaram a proteger o Palácio Guanabara, sede do governo carioca exercido naquele pelo golpista Carlos Lacerda.

Contudo, João Goulart partiria de Brasília, na noite de 1º de abril de 1964. No dia 2, já em Porto Alegre, decidiu não fazer resistência ao golpe.

João Goulart (no centro) foi presidente do Brasil de 1961 a 1964 e teve seu governo interrompido pelo Golpe de 1964 (FGV/CPDOC).

Golpe ou Revolução?

Diferentemente de outros países que passaram a limpo e puniram os responsáveis pelos regimes ditatoriais fascistas em seus respectivos territórios, o Brasil ainda conserva viúvos e viúvas da ditadura em nosso país.

Vamos ser bem didáticos para dar nome aos bois, a partir do livro “Dicionário dos Conceitos Históricos”, de Kalina Vanderlei Silva e Maciel Henrique Silva.

1. O que pode ser considerado como uma Revolução?
De acordo com Hector Bruit, revolução é um fenômeno político-social de mudança radical na estrutura social; um confronto entre a classe que detém o poder do Estado e as classes que se acham excluídas desse poder. Assim, estamos tratando de algo que transforma radicalmente as estruturas de uma sociedade. A Revolução Francesa, a Revolução Industrial e a Revolução Russa são exemplos disso.

2. O que é um golpe?
Uma tomada abrupta do poder por um grupo dominante, excluindo outros grupos, mantendo a estrutura social. Num golpe, o aparelho repressivo é amplamente utilizado contra a população trabalhadora, com o fim de manter a hegemonia da classe dominante, que se assenta na estrutura social inalterada.

Para Clóvis Rossi, os golpes militares na América Latina da segunda metade do século xx foram fundamentados em uma filosofia que se dizia contrarrevolucionária, pregando a tomada do poder por grupos de direita que procuravam impedir uma suposta revolução socialista.

No entanto, nem no Brasil, nem na Argentina, nem no Uruguai, por exemplo, havia uma revolução socialista em andamento. Os golpes militares foram desfechados contra a democracia.

3. Golpe ou Revolução de 1964?
Como já explicado, o que houve no 1o de Abril de 1964 foi um golpe (tomada abrupta do poder) de uma classe dominante (militar, com apoio da burguesia) que utilizou amplamente de seu aparato repressivo contra os trabalhadores, mantendo a estrutura social inalterada.

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