Ditadura e golpe de 1964: por que não devemos comemorar?

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Tanque do exército próximo à casa do presidente deposto, João Goulart, nas Laranjeiras. O Golpe militar de 1964 mergulhou o Brasil na ditadura até 1985. Foto: Estadão Conteúdo

A Ditadura Militar no Brasil foi um período sombrio da história brasileira, marcado por violência, censura e repressão política. Durante anos, o regime violou os direitos humanos e cometeu uma série de atrocidades.

Da redação

A resposta é lógica: não devemos comemorar o golpe de 1964 porque ele foi um ato antidemocrático que violou os direitos humanos e a constituição brasileira, instaurando uma ditadura militar que reprimiu a sociedade civil, torturou e matou opositores políticos, além de ter deixado marcas profundas na história do país. Comemorar esse evento é, portanto, um desrespeito às vítimas e uma forma de celebrar a violação dos valores democráticos e dos direitos humanos.

Os motivos para não celebrar a Ditadura

Uma das principais formas de repressão utilizadas pelo regime foi a tortura. Presos políticos eram submetidos a diversas formas de tortura, incluindo choques elétricos, afogamentos simulados, privação de sono e alimentação, entre outras. Muitos dos presos acabaram morrendo sob custódia ou sofrendo sequelas permanentes.

Além da tortura, o regime também praticou execuções sumárias e desaparecimentos forçados. O número exato de vítimas ainda é desconhecido, mas estima-se que mais de 400 pessoas morreram ou desapareceram durante a Ditadura. Muitas dessas vítimas eram jovens ativistas políticos, sindicalistas, estudantes, artistas e intelectuais que lutavam pela democracia e pelos direitos humanos.

Movimentos populares nas ruas contra a Ditadura (Nair Benedicto/N Imagens)

O regime também impôs uma forte censura à imprensa e aos meios de comunicação. Jornais, revistas, livros e programas de televisão eram rigorosamente controlados e muitas vezes proibidos de serem publicados ou transmitidos. A censura também se estendeu às artes e à cultura, com muitos artistas sendo perseguidos e presos por suas opiniões políticas.

A perseguição e a discriminação contra minorias étnicas, como os povos indígenas e os negros marcaram a Ditadura. Muitos foram deslocados de suas terras e comunidades, enquanto outros foram presos ou mortos por resistirem à opressão.

Tortura na Ditadura

A tortura foi uma das principais formas de repressão política utilizadas pelo regime militar contra presos políticos e dissidentes. O objetivo desta prática era obter informações ou confissões dos prisioneiros, bem como para intimidar e desencorajar a resistência ao regime.

De acordo com o relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), criada em 2012 para investigar os crimes cometidos durante a Ditadura, o número de pessoas torturadas durante esse período supera os 20 mil. A maioria dos casos ocorreu entre 1968 e 1974, quando a repressão política estava no auge.

As técnicas de tortura utilizadas eram diversas e cruéis, incluindo choques elétricos, afogamentos simulados, privação de sono e alimentação, suspensão por cordas, espancamentos, queimaduras com cigarros, entre outras formas. Muitos dos presos políticos foram submetidos a mais de uma técnica de tortura, o que aumentava ainda mais o sofrimento físico e psicológico.

Os presos políticos eram mantidos em celas insalubres e superlotadas, sem acesso a cuidados médicos adequados e muitas vezes sem poderem se comunicar com suas famílias. Muitos foram mantidos em isolamento por longos períodos, o que aumentava ainda mais o sofrimento psicológico.

Os relatos de tortura durante a Ditadura são chocantes. Presos políticos relatam terem sido espancados com palmatórias, pau-de-arara e cassetetes, terem sido submetidos a choques elétricos nos genitais e em outras partes sensíveis do corpo, terem sido sufocados com sacos plásticos, terem sido obrigados a permanecer em posições desconfortáveis por horas a fio, entre outras práticas degradantes.

Além do sofrimento físico e psicológico, a tortura também deixou sequelas permanentes em muitos dos sobreviventes. Muitos sofreram problemas de saúde mental, incluindo depressão, ansiedade e síndrome do pânico. Outros tiveram lesões físicas permanentes, como perda de visão ou audição, problemas de mobilidade e cicatrizes.

O tal “Milagre econômico”

O período de 1968 a 1973 ficou conhecido como o “Milagre Econômico”. Um aumento significativo no crescimento econômico do país, que atingiu uma média de 10% ao ano, marcou este momento. No entanto, essa suposta “fase dourada” da economia brasileira não passou de uma farsa, que trouxe consequências negativas para o país no longo prazo.

Inauguração da Ponte Rio-Niterói. REPRODUÇÃO: El País

O Milagre Econômico foi resultado de políticas econômicas implementadas pelo governo militar, como a abertura ao capital estrangeiro e o estímulo ao consumo. O regime promoveu grandes investimentos em infraestrutura, especialmente no setor de energia, o que possibilitou um aumento significativo na produção industrial. A exportação de matérias-primas, como minério de ferro e soja também impulsionou o crescimento econômico.

No entanto, por trás desse cenário aparentemente próspero, havia uma série de problemas econômicos ignorados pelo governo militar. Um dos principais problemas era o aumento da dívida externa do país, que cresceu de forma descontrolada durante o período do Milagre Econômico. O governo militar contraiu empréstimos externos a taxas de juros altas, com o objetivo de financiar os investimentos em infraestrutura e manter o alto nível de consumo.

Outro problema foi a falta de investimento em setores estratégicos da economia, como a educação e a saúde. O governo militar priorizou os investimentos em infraestrutura, mas negligenciou a importância de investir em capital humano. Isso resultou em uma população pouco qualificada e com baixo nível de escolaridade, o que prejudicou o desenvolvimento econômico do país no longo prazo.

Concentração de renda

Além disso, o Milagre Econômico gerou uma grande concentração de renda e uma desigualdade social ainda maior. O aumento do consumo favoreceu as classes mais abastadas, enquanto a maioria da população continuou vivendo em condições precárias, sem acesso a serviços básicos como saúde, educação e transporte público.

O fim do Milagre Econômico veio com a crise do petróleo em 1973, que provocou um aumento nos preços das commodities e dos juros internacionais. O Brasil se viu incapaz de pagar sua dívida externa e a economia entrou em colapso. A inflação disparou e o país entrou em uma das piores crises econômicas de sua história.

Resumindo: milagre pra quem?

Em resumo, o Milagre Econômico da Ditadura Militar foi uma farsa que trouxe consequências negativas para o país no longo prazo. O crescimento econômico foi baseado em políticas insustentáveis, como o endividamento externo e a negligência em investir em capital humano. A desigualdade social e a concentração de renda aumentaram, e a crise econômica que se seguiu deixou marcas profundas na economia brasileira.

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