Descobrimento ou invasão do Brasil?

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Quadro “Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500”, de Oscar Pereira da Silva. Esta obra integra o acervo do Museu Paulista da USP. Coleção Fundo Museu Paulista – FM

O uso do termo “descobrimento” é ainda muito utilizado para fazer referência à chegada da expedição portuguesa, liderada por Pedro Álvares Cabral, às terras que hoje fazem parte do Brasil.

Da redação

É inadequado e um erro usar a palavra “descobrimento”. O Brasil não era desconhecido até a chegada dos europeus. Além disso, havia muitas culturas e sociedades indígenas já estabelecidas aqui, e que foram colonizadas e subjugadas pelos europeus. O termo “descoberta” sugere uma perspectiva eurocêntrica e negligencia a existência de culturas indígenas anteriores à chegada dos europeus. Em vez disso, é mais apropriado usar termos como “invasão” ou “colonização”.

Os interesses portugueses na Era Moderna

Portugal estava desfrutando o auge do comércio de especiarias da Índia. A procura por uma nova rota para o Oriente era justamente para garantir o acesso a essas mercadorias. Nesta época, Portugal e o Reino de Castela (que formaria a futura Espanha) se lançaram ao mar em busca de novas terras e, principalmente, metais preciosos.

Depois que os espanhóis chegaram à América, em 1492, as terras “recém-descobertas” começaram a ser disputadas por portugueses e espanhóis. Foi dessa preocupação dos portugueses em conter a expansão espanhola que saíram dois acordos: a bula Inter Caetera (1493) e o Tratado de Tordesilhas (1494).”

A esquadra que chegou ao Brasil era bastante numerosa e composta por experientes navegadores.

Seu objetivo principal era alcançar as Índias para negociar tratados comerciais, após a bem-sucedida viagem feita por Vasco da Gama em 1498. No entanto, antes de seguir para Ásia, deveriam verificar as terras que existiam a oeste.

Foi com esse objetivo que, no dia 9 de março de 1500, treze embarcações partiram de Lisboa. No comando, estava o fidalgo Pedro Álvares Cabral. Aqui, eles encontraram um território já povoado, mas ignoravam sua estrutura e organização.

A localidade já era povoada por nações indígenas, que possuíam seu sistema cultural e político, possuíam uma estrutura social bem definida e estabeleciam entre si alianças ou dissidências. Povos com sua história e vivência, que tiveram que lidar com a invasão do europeu.

Resistências indígenas aos portugueses

Os indígenas estão longe de ser coadjuvantes nesse período. Não se engane: lutaram por sua existência.

A resistência indígena à chegada dos portugueses ao Brasil foi intensa e contínua. Os povos originários resistiram à invasão europeia através de diversos meios, incluindo a luta armada, alianças com outros povos indígenas, evasão e resistência cultural.

Foram utilizadas táticas como emboscadas, guerrilhas e ataques surpresa. Os povos indígenas também desenvolveram estratégias de sobrevivência, como a fuga para regiões isoladas ou o estabelecimento de alianças com outros povos que compartilhavam de objetivos semelhantes.

Além disso, a resistência cultural foi fundamental para a preservação de suas identidades e tradições. Eles resistiram à imposição da cultura e da religião dos colonizadores europeus, mantendo e transmitindo seus próprios costumes, línguas e crenças.

Apesar de toda essa resistência, os povos indígenas sofreram enormes perdas, incluindo a morte de muitos membros por doenças trazidas pelos europeus, além da perda de suas terras e a escravização.

Essa resistência foi e continua sendo uma parte importante da história do Brasil, sendo fundamental para a compreensão do país e de suas diversas culturas e tradições.

O que a historiografia diz sobre o “descobrimento”

Ronaldo Vainfas, historiador brasileiro e autor de diversos livros sobre a história do Brasil, incluindo “Trópico dos Pecados: Moral, Sexualidade e Inquisição no Brasil” (2002) e “Dicionário do Brasil Colonial” (2000), tem abordado o tema do “descobrimento” do Brasil pelos portugueses a partir de uma perspectiva crítica.

Vainfas argumenta que o termo “descobrimento” é inadequado para se referir à chegada dos portugueses ao Brasil, uma vez que o território já era habitado por povos indígenas há milhares de anos. Em vez disso, ele propõe o uso do termo “conquista” para descrever o processo de invasão e colonização que teve início em 1500.

Eduardo Viveiros de Castro, antropólogo brasileiro, destacou a importância da perspectiva indígena para a compreensão da história do Brasil. Viveiros de Castro argumentou que a visão eurocêntrica e colonialista que prevaleceu por muito tempo na historiografia brasileira negligencia as perspectivas e histórias dos povos indígenas que habitavam o Brasil antes da chegada dos europeus. Ele propôs uma abordagem mais crítica e consciente que valorize a diversidade cultural e étnica dos povos que formaram o Brasil.

Ailton Krenak, em seu livro “Ideias para adiar o fim do mundo”, critica a visão eurocêntrica que prevaleceu na historiografia brasileira por muito tempo, e propõe uma abordagem mais crítica e consciente que valorize a diversidade cultural e a perspectiva dos povos indígenas. Ele argumenta que a “descoberta” do Brasil pelos europeus foi um processo violento de invasão e colonização que teve graves consequências para os povos indígenas que já habitavam o território.

Krenak também destaca a importância de se repensar a relação entre humanos e natureza, a partir de uma perspectiva que valorize a interdependência e a reciprocidade entre todos os seres vivos. Ele critica a ideia de que os humanos são superiores e dominantes em relação aos outros seres, e propõe uma abordagem mais humilde e respeitosa em relação à natureza.

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No post: quadro “Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500”, de Oscar Pereira da Silva. Esta obra integra o acervo do Museu Paulista da USP. Coleção Fundo Museu Paulista – FM