Detalhe da obra representando o Carnaval / Crédito: Pieter Bruegel, o Velho/ Domínio Público/ Creative Commons
Quaresma, segundo o cristianismo, é um período de reflexão e transformação. São 44 dias para jejuar, orar e praticar a caridade, buscando uma renovação espiritual.
Da redação
A Quaresma, período de 44 dias na tradição cristã, marca a preparação para a Páscoa. Este tempo, que se inicia na Quarta-feira de Cinzas e culmina na Quinta-feira Santa, é um convite à reflexão, arrependimento e renovação espiritual.
Com raízes profundas na história e simbolismo religioso, a Quaresma se consolidou no século IV d.C. e se caracteriza por práticas como o jejum, a oração e a caridade.
Neste contexto, a obra “A Luta entre Carnaval e Quaresma”, de Pieter Bruegel, o Velho, emerge como uma sátira social, retratando a dualidade entre o hedonismo do Carnaval e a austeridade da Quaresma.
Através da análise desta pintura, podemos explorar as contradições da natureza humana e as tensões presentes na sociedade da época, além de refletir sobre o significado da Quaresma nos dias de hoje.
O período antes da páscoa
A Quaresma, período de 44 dias na tradição cristã, marca a preparação para a Páscoa. Iniciando na Quarta-feira de Cinzas e culminando na Quinta-feira Santa, este tempo é um convite à reflexão, arrependimento e renovação espiritual.
O número 40, presente na Bíblia, simboliza períodos de provação e transformação. Segundo este livro sagrado para o Cristianismo, Moisés jejuou 40 dias no Monte Sinai, Elias caminhou 40 dias até o Horebe e Jesus jejuou 40 dias no deserto antes de iniciar seu ministério.
A prática da Quaresma se consolidou no século IV d.C., durante o Concílio de Niceia (325 d.C.). Este concílio definiu a data da Páscoa, formulou o Credo Niceno e mencionou a prática do jejum quaresmal.
Tradicionalmente, a Quaresma era um período de 40 dias, mas desde o pontificado de Paulo VI, sua duração foi estendida para 44 dias, encerrando na Quinta-feira Santa.
Jejuar, orar e praticar a caridade são pilares deste período. Abster-se de alimentos específicos, como carne vermelha, doces e frituras, é uma prática tradicional, além de momentos de oração individual e comunitária.
O carnaval contra a quaresma
Pieter Bruegel ascende como um dos principais pintores flamengos do século XVI. Nasceu em 1525 em Breda, Holanda, onde iniciou seus estudos de pintura sob a tutela de Pieter Coecke van Aelst. Em 1551, alcançou a maestria na Guilda dos Pintores de Antuérpia, sendo denominado Pieter Bruegel, o Velho, para distingui-lo de seu filho homônimo.
Apesar de ter absorvido influências da técnica renascentista durante suas viagens à Itália, Bruegel trilhou um caminho singular, marcado por sua originalidade. Especializado na pintura de paisagens, também dedicou-se à representação detalhada da vida e dos costumes dos camponeses.
Inspirado por Hieronymus Bosch, pintor holandês dos séculos XV e XVI, Bruegel explorou temas religiosos e moralistas, buscando expor os absurdos e as contradições dos costumes de sua época.
Por meio da sátira, o artista produziu algumas das primeiras obras de protesto social na história da arte. Uma delas é “A Luta entre Carnaval e Quaresma”, onde satiriza os conflitos da Reforma Protestante.
Esta emblemática pintura retrata um festival popular no sul da Holanda, ocorrido entre os últimos dias de Carnaval e o início da Quaresma, revelando as contradições humanas entre o prazer e a castidade religiosa.
A cena mostra uma pousada à esquerda, simbolizando a diversão do Carnaval, com pessoas se deleitando em bebidas e comida. O líder do festival, representando o Carnaval, montado em um barril de cerveja com uma torta como chapéu, empunha um espeto de carne de porco. À direita, uma igreja representa a Quaresma, cercada por religiosos e crianças bem comportadas, enquanto uma senhora magra, personificando a Quaresma, é retratada em uma carroça puxada por um monge e uma freira, segurando peixes em abstinência de carne vermelha.