|
06/03/2013
Data magna de
Pernambuco.
Prontos
para empunhar armas, os pernambucanos lutaram
aguerridamente pela
libertação da dominação portuguesa
Prof.ª Josi Brandão
O dia 06
de março é uma data importante para os pernambucanos,
quando se celebra a Data Magna do seu Estado, criada
em 2007 pelo governador Eduardo Campos, em
comemoração à Revolução Pernambucana de 1817, também
conhecida como a Revolução dos Padres, que teve
como um dos seus heróis o Frei Caneca. Curiosamente, é uma data desconhecida
pela maioria dos
pernambucanos, que a escolheram como a que deveria
representar o feriado estadual, mas, por pressão dos
comerciantes, que viam na ideia de que mais um
feriado no calendário traria prejuízos, a
comemoração foi transferida para o primeiro domingo
de março.
O
movimento, que foi liderado por Domingos José Martins
e com apoio de frei Caneca, demonstrou que os
pernambucanos estavam prontos para empunhar armas
contra seus inimigos todas as vezes em que fosse
necessário. Sua luta é histórica. Eles entraram em
guerra para assegurar sua liberdade e defender os
seus interesses. Logo se percebeu que Pernambuco
seria
uma terra difícil de ser dominada, motivo de orgulho
até hoje aos pernambucanos.
Mas afinal o que foi esse movimento tão importante
para Pernambuco (e para o Brasil também), e que, para
muitos, a história ficou no esquecimento?
Portugueses e brasileiros já se desentendiam
violentamente e havia conspirações contra o
governador lusitano de Pernambuco, Caetano Pinto de
Montenegro. A tensão aumentava a cada dia e, ao
tentar prender vários conspiradores brasileiros na
famosa manhã de 06 de março de 1817, devido ao
assassinato de um colega dentro do forte de Recife,
a insatisfação contra o domínio colonial foi
visível, os portugueses provocaram uma das mais
importantes revoltas do Brasil colonial.
Depois
do assassinato, a revolta se espalhou rapidamente
pelo Recife e, em poucos dias, já atingia regiões
próximas. O governador fugiu às pressas e os
rebeldes declararam Pernambuco livre de Portugal.
Grandes mudanças políticas
aconteceram. Pernambucanos
proclamaram a república e formaram um governo
provisório que combatia a tirania e a garantia de
liberdade aos indivíduos. Alem disso uma nova
bandeira foi criada, novas leis estabelecidas e a
causa recebeu o
apoio de outros estados brasileiros como Paraíba,
Rio Grande do Norte e Ceará (a Bahia ficou de fora,
um Estado que naquela época ainda tinha grande prestigio
colonial e poderia ter sido de grande valia nessa
aliança). Também se reuniram para formar uma assembleia constituinte, com representantes eleitos
de todas as comarcas, ficando estabelecida a
separação entre os poderes Legislativo, Executivo e
Judiciário. O catolicismo foi mantido como religião
oficial, porém havia liberdade de culto e liberdade
de imprensa. Marcos para a historia não só de
Pernambuco mas também do Brasil (muito embora tenham
mantido a escravidão e o latifúndio).
A medida
que o calor das discussões e da revolta contra a
opressão portuguesa aumentava, crescia também o
sentimento de patriotismo dos pernambucanos, ao ponto
de passarem a usar nas missas a aguardente em lugar
do vinho e a hóstia feita de mandioca em lugar do
trigo, como forma de marcar sua identidade, algo que Pernambuco valoriza até hoje.
Tentaram
conseguir o apoio de outros países, mas era
arriscado comprar briga com Portugal, já que era um
país com várias colônias, espalhadas pelo mundo. Antonio Gonçalves da Cruz, mais conhecido pelos
pernambucanos como o Cabugá, chegou a fazer uma
viagem em busca de apoio dos EUA, um país já livre
do domínio europeu e simpatizante do regime
republicano, e que apoiava a ideia de garantir a
liberdade dos indivíduos. Mas acharam melhor não
apoiar o movimento, não viram como Pernambuco iria
resistir a repressão ordenada por D. João VI.
Além da
falta de apoio, os pernambucanos começaram a se
desentender entre si, o principal motivo da
discórdia foi a escravidão. Alguns rebeldes
defendiam o fim da escravidão mas os fazendeiros não
aceitavam perder seus escravos, fonte de lucro
gratuito. O governo provisório declarou que a
escravidão seria abolida aos poucos e sem nenhum
desrespeito aos donos de escravos. Os rebeldes
radicais não apoiaram essa decisão e os fazendeiros
insatisfeitos com a possível perda dos escravos,
passaram a abandonar o movimento.
Divididos e sem apoio, os rebeldes não puderam
resistir à repressão. Um bloqueio naval impedia que
a província recebesse qualquer auxilio pelo mar. As
tropas reais marchavam em direção ao Recife, mas ao
chegar lá, os rebeldes já haviam fugido. A repressão
continuou derrotando os rebeldes nos demais estados
que participaram.
Pernambuco teve um castigo doloroso, alguns levaram
muitas chibatadas, outros foram executados, com
partes de seus corpos expostos em praça pública (ato
comum naquela época, conhecidos como castigos
exemplares), perdeu a comarca de Rio Grande, atual
Rio Grande do Norte), tornando-se província
autônoma. Também a comarca de Alagoas, cujos
proprietários rurais haviam se mantido fieis a
Coroa e que, como recompensa, puderam formar uma província
independente.
Apesar
de terem recebido castigos cruéis, muitos pernambucanos
estavam dispostos a continuar lutando contra seus
inimigos. Os ideais de justiça haviam sofrido uma
derrota, mas permaneciam vivos. Sete anos depois,
seria contra o filho de D. João, D. Pedro, que pernambucanos
voltariam a se revoltar.
(Texto da Prof.ª Josi
Brandão, da redação d'O Historiante). |
|