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19/03/2013
Série Primeira
Guerra Mundial
Texto 2 - Entre tambores e
cavalarias, a Grande Guerra e o choque das mentalidades
de combate.
Cavalarias armadas com lanças, tambores napoleônicos
anunciando a chegada do exército, fardamentos com cores
chamativas: a Primeira Guerra começa no século XX, mas
suas táticas iniciais lembram combates do século XVIII e
XIX.
Prof. Pablo Michel
Magalhães
A GUERRA
"ROMÂNTICA"
Talvez tenha
sido a guerra com mais inovações tecnológicas até então
vista, e onde as táticas e estilos de combate se
modificaram com maior intensidade. Ao se prepararem para
o conflito, firmando alianças, reforçando seu exército,
marinha, e promovendo uma corrida armamentista, os
países europeus imaginavam uma guerra curta, gloriosa e,
acima de tudo, vitoriosa. Imaginavam, em meses, ver seus
soldados de volta, como campeões. Assim, também, o
acreditava a sociedade em geral, que, em sua maioria,
ansiava por este enfrentamento (imprensa, intelectuais,
povos nas ruas, políticos).
O estilo de
fazer guerra, até então, em muito se assemelhava com o
ideal "romântico" de batalha: em hora e espaço marcados
previamente, as divisões se enfrentavam. Com um número
de mortos reduzido, mais parecendo um jogo de xadrez,
cada general dispunha de suas estratégias no campo, a
fim de inutilizar seus oponentes. Em geral, os locais em
que as batalhas ocorriam eram afastados das cidades,
havendo uma clara distinção do espaço civil e do espaço
militar. Ao fim do dia, sentados à mesa, os generais
decidiam que rumos tomar (paz em acordo, rendição ou a
continuidade dos enfrentamentos).
Soldados franceses marcham com suas baionetas.
Algo muito
valorizado pelos exércitos era a marcha triunfal:
perfilados, em grupos, os soldados caminhavam no mesmo
compasso, seguidos por tambores, que acentuavam o peso
dos passos e, acreditava-se, causava temor nos
adversários. As infantarias e as cavalarias com lança
eram os principais mecanismos de ataque. A baioneta,
carinhosamente apelidada de Rosalie pelos
soldados franceses, era uma das armas mais utilizadas e
que melhor traduziam a ideia de combate corpo a corpo
(fuzil encabeçado com uma lâmina afiada).
Cavalaria inglesa (imagem/reprodução: filme Cavalo de
Guerra).
Em questão
de meses uma batalha estaria finda (lembrem-se da última
grande guerra europeia, a Franco-Prussiana, que durou de
19 de julho de 1870 a 10 de maio de 1871, com pouco mais
de 180 mil mortos).
Esse método
de guerra, que predominou na Idade Moderna até o início
de século XX, encontrou seu fim com a Primeira Guerra
Mundial e as transformações tecnológicas e de táticas de
batalha que surgiriam no período. Muitos generais
franceses e alemães em 1914 foram tenentes em 1871, e
buscavam, apesar de ter aprendido muito dos seus
antecessores, marcar os seus exércitos com seu próprio
estilo de guerra. O velho Otto Von Bismarck,
provavelmente, não teria espaço nesse novo contexto.
O CHOQUE
DAS MENTALIDADES E AS NOVAS TECNOLOGIAS DE GUERRA
Mentalidades
são modos de pensar e sentir, característicos de
determinada época. No nosso caso, as mentalidades de
batalha seriam maneiras de pensar e viver uma guerra. Os
países, no início da Primeira Guerra Mundial,
ingressaram no conflito com um ideal de batalha ao
estilo "romântico", que prevaleceu em vários combates no
século XIX.
Os soldados
franceses mais pareciam alvos ambulantes para os
soldados alemães. Vestidos com uma calça garance
vermelha, capote com abas dobradas, gorro de pano,
faixas de lona envolvendo as pernas e mochila pesando 50
kg, estes soldados se locomoviam lentamente, e estavam
mais preparados para perfilar e atirar, em campo aberto,
do que combater rapidamente; com uniforme chamativo,
destoando completamente do ambiente em que se
encontravam, as chances de camuflagem eram mínimas.
E por que
camuflar? Essa tática não era nada honrosa, na concepção
militar que existia até então. A glória da batalha
estava em enfrentar seu inimigo, cara a cara, às claras.
Os soldados
alemães, entretanto, também usavam fardamentos bastante
característicos. Casacos cinza ou azuis escuros (ao modo
prussiano), com botas de couro ferradas, capacete de
couro com guarnição metálica e uma ponta de lança em
cima (utilizado desde 1842 pelos prussianos).
Soldado alemão
Ao longo dos
combates, esses uniformes foram se adequando a uma nova
lógica de guerra. Com a introdução de novos instrumentos
de batalha, como as metralhadoras Hotckiss (francesas) e
as Maxim (alemães), armas letais com grande capacidade
de tiros e automáticas, bem como a introdução dos carros
de combate (tanques de guerra) em 1917, primeiramente
pelos ingleses, seguido pelas demais nações em combate,
exigia-se que, cada vez mais, os soldados se camuflassem
e se escondessem em locais estratégicos (daí a
necessidade de se entrincheirar).
A metralhadora francesa Hotckiss
Os soldados
franceses passariam, assim, a utilizar um uniforme azul
claro, quase cinza, trocando o gorro ou o chapéu de pano
por capacetes metálicos. Os alemães passariam a utilizar
uma cobertura de lã escurecida sobre a ponta de lança
que utilizavam, bem como em todo o capacete, com a
intenção de camuflá-lo.
Além destas
novidades, o avião e os submarinos, enquanto
instrumentos de guerra, transferiram o campo de batalha
da terra firme para o mar e o ar. Apesar da desconfiança
de muitos generais, que consideravam o avião um ótimo
mecanismo para esporte e entretenimento, e não para a
guerra, este invento de Santos Dumont revelou-se uma das
ferramentas mais eficientes no campo de batalha. Além
deste, os zeppelins, dirigíveis lentos, porém eficazes,
eram responsáveis pelo bombardeamento aéreo à longa
distância.
Em pouco
tempo, durante a Grande Guerra, as frotas aéreas
aumentaram assombrosamente. A princípio, serviram como
transportadores de cargas e mantimentos; logo, com o
incremento de uma metralhadora, por parte do holandês
Anthony Fokker, trabalhando para a Alemanha, e do
pioneirismo do francês Roland Garros (sim, é o mesmo
nome de um torneio de tênis, que o Guga ganhou três
vezes), o avião passou a instrumento letal, responsável
por bombardeios sincronizados a pontos estratégicos.
É o período
em que os grandes pilotos se destacam, os chamados azes,
e adquirem fama por seus feitos. Um exemplo, talvez o
mais conhecido, é o do Barão Vermelho, Manfred Von
Richthofen. Tendo abatido 80 inimigos no ar, ele era
respeitado e temido pelos oponentes. Quando, finalmente,
foi derrotado, na Batalha de Somme, em 1916, foi tratado
como herói de guerra pelos ingleses, que o enterraram
com todas as honras militares.
No mar, os
navios britânicos artilhados e camuflados como velhos
cargueiros, os navios Q, eram a principal armadilha dos
Aliados contra os submarinos alemães. A Alemanha, por
sua vez, investiu pesado na construção de sua Esquadra
de Alto-Mar, além dos temíveis submarinos.
REVISANDO: DA LANÇA AO TANQUE DE GUERRA
Como pudemos
ver, as transformações ocorridas na Primeira Guerra
Mundial foram profundas. Da guerra "romântica" com
lanças e cavalarias, passou-se aos bombardeios aéreos e
ao uso de metralhadoras que, em instantes, poderiam dar
cabo de vários soldados inimigos ao mesmo tempo. Dos
uniformes chamativos, mais parecidos com alvos,
preferiu-se o uso de tons mais amenos, com maior
facilidade de camuflagem com o terreno do combate.
Por fim,
houve a destruição dos sonhos
daqueles que esperavam um conflito curto, glorioso e
heróico. Dos meses esperados vieram os anos, o tempo
corria mais e mais, o conflito não acabava, e mais
pessoas vinham a morrer no campo de batalha. Era o fim
da belle époque, a era de ouro da civilização
urbana e burguesa, diante de um dos quadros mais
terríveis da história da humanidade, a Grande Guerra.
Clique abaixo e confira o texto 3:
Trincheiras,
estratégias e a terra de ninguém: o desenrolar da
Grande Guerra.
(Texto do Prof. Pablo
Michel Magalhães, da redação d'O Historiante). |
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