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05/04/2013
O Candomblé e as
práticas religiosas da identidade negra no Brasil.
A cultura negra, trazida
para a terra brasilis durante o período colonial,
influenciou ricamente a construção da nação brasileira,
e o Candomblé, religião que representa
significativamente essa herança afro, é uma das
principais manifestações desta cultura.
Prof.ª Josi Brandão
(Clique aqui e confira mais
textos desta autora)
O êxodo forçado dos africanos pelos europeus, a partir
do século XV, provocou profundas mudanças raciais e
culturais no continente americano. Numa longa viagem,
cruel e desgastante, os escravos trouxeram como bagagem
sua memória, sua cultura e espiritualidade.
Os primeiros escravos africanos chegaram ao Brasil no
século XVI. Apesar de todas as dificuldades que
enfrentaram, conseguiram preservar sua cultura milenar.
Durante quase quatro séculos, construíram a economia
brasileira e contribuíram para a formação cultural do
país. Dentre as diversas contribuições, a religiosa foi
uma das mais marcantes, pois foi por meio dos escravos
que os deuses africanos, os orixás, chegaram ao Brasil.
Tanto os bantos quanto os sudaneses, sobretudo os de
origem iorubá, criaram, no Brasil, diversas vertentes
religiosas que, com o tempo, passaram a conviver com a
religião oficial do Estado, o Catolicismo, assim como
outras denominações cristãs.
Quando chegaram ao país, assim como em outras regiões
das Américas, eles não falavam a língua local, e muitas
vezes nem conseguiam se comunicar entre eles, pois eram
provenientes de diversas regiões da África. A multidão
de escravos não falava a mesma língua e possuía hábitos
e religiões diferentes. No entanto, apesar de todas as
dificuldades que encontraram no regime da escravidão,
três fatores foram fundamentais para uma unificação:
a situação de escravo, a cor da pele e a religiosidade.
Dentre as contribuições dos africanos para a sociedade
brasileira, destacamos a religiosidade, com toda sua
diversidade. Destaque para o Candomblé, que é o culto
dos orixás, de origem totêmica e familiar, uma das
religiões afro-brasileiras praticadas principalmente no
Brasil, mas também em países adjacentes como Uruguai,
Argentina e Venezuela.
A palavra Candomblé é de origem banta, que significa um
complexo de crenças, rituais litúrgicos, cultos e
conhecimentos; tradições trazidas de vários cantos da
África, durante os tempos da escravidão.
As primeiras referências ao Candomblé no Brasil datam do
século XIX, onde esse culto resume-se na prática de
oferendas aos ancestrais e no processo de iniciação dos
participantes no ritual de possessão. Esses ancestrais,
relacionados à fundação das principais linhagens
africanas, são denominados orixás e voduns e se
comunicam com os devotos por meio da possessão. Desde
aquela época, esses devotos são conhecidos como pai e
mãe de santo e precisam passar por um processo de
iniciação para incorporarem os espíritos dos ancestrais.
Os candomblés na Bahia no século XIX eram liderados por
libertos, embora fosse muito comum a entrada de
escravos, servindo até mesmo de ajuda para aqueles que
vinham fugidos dos seus senhores. A participação de
pardos, crioulos, brancos, livres, escravos, libertos,
pobres e ricos era incentivada como uma estratégia para
a sua sobrevivência.
O candomblé recebeu uma maior influência das tradições
religiosas da região ocidental da África, que tinham
como prática o culto de imagens em pequenos altares e os
sacrifícios de animais em oferendas às divindades,
realizados em espaços especificamente destinados aos
rituais coletivos.
Dentre essas tradições africanas ocidentais, duas, em
especial, marcaram o Candomblé: a jeje ou daometana, dos
cultos voduns, e a iorubá ou nagô, dos cultos dos
orixás. No século XVIII, quando a maior parte dos
africanos desembarcados na Bahia eram originários de
Ajudá e Aladá, predominavam nesses reinos o culto dos
voduns. Em linhas gerais, esse culto resumia-se na
prática de oferendas às divindades e aos processos de
iniciação de devotos (vodúnsis), a maior parte,
mulheres. Essa forma de expressão religiosa era bastante
complexa na África, incluindo templos em homenagens às
divindades, uma hierarquia entre os sacerdotes e
rituais, como procissões e manifestações com toques de
tambor. O culto aos voduns daomeanos foi importante, por
exemplo, na concepção do tambor de mina do Maranhão.
O candomblé baseado no culto aos orixás dos povos
iorubás ou nagôs foi formado na Bahia, no século XIX,
quando o tráfico trouxe do continente africano um número
significativo de escravos originários de várias cidades
iorubás: Queto, Ijexá, Efá, entre outras. No Brasil,
estas acabaram emprestando o nome aos terreiros de sua
influência. Foram, sobretudo, os candomblés da nação
queto, cujos rituais e divindades serviram de exemplo
aos demais cultos dos orixás, que predominaram na Bahia.
No entanto, os candomblés iorubás com diferentes origens
expandiram-se por todo o Brasil. Em Pernambuco, por
exemplo, conhecido como Xangô, recebeu influência da
nação egba. No Rio Grande do Sul, por sua vez, chamado
de batuque, é de origem oió-ijexá.
Para os candomblecistas, os orixás são considerados
emanações do “Ser Supremo”, Olodumaré, que possuem
alguns dos seus atributos e qualidades, e têm como
objetivo servir a vontade divina em seu governo no
mundo. Essas emanações cobrem uma parcela da Criação de
Deus e ajudam a evolução dos seres segundo as leis
cósmicas. Dessa forma, eles podem ser considerados os
“braços” de Deus atuando em toda a criação.
Desde que foram criados, os orixás exerceram o papel de
intermediários entre o criador e a criatura.
Relacionados com todas as forças da natureza, eles regem
a existência do homem. Alguns orixás participaram da
criação do mundo e são conhecidos como seres
primordiais. Outros são ancestrais, divinizados por suas
vidas exemplares. Há também aqueles que personificam
forças e fenômenos da natureza.
Longe de se parecerem com os santos católicos, os orixás
revelam características humanas, com emoções, vontades e
tendências diversas. As divindades são simultaneamente
boas e más, podendo trazer felicidade ou infortúnio aos
homens. Na Africa, cada orixá estava ligado a uma cidade
ou nação, e os seus cultos eram regionais. Quando o
africano era transportado para o Brasil, o orixá assumia
um caráter individual ligado à sorte do escravo que se
encontrava separado do seu grupo familiar de origem.
Para os iorubás, os orixás são arquétipos universais,
personificam virtudes e valores fundamentais dessa
tradição. Para compreender a hierarquia dos orixás e a
sua organização, é importante observar algumas
concepções dos iorubás. Para eles, a existência acontece
de forma simultânea em dois planos: no aiye (mundo
material onde vivem os seres naturais) e no orum (mundo
imaterial onde vivem os seres sobrenaturais). Olodumaré
habita o orum e rege toda a existência, tanto no orum
como no aiye. Os seus poderes foram transmitidos para os
irunmalés, que se dividem em dois grupos: os
quatrocentos irunmalés da direita e os duzentos da
esquerda.
Os da direita são conhecidos como orixás funfun ou
orixás do branco, divindades relacionadas à criação do
mundo. Em todas as cidades iorubás, independentemente do
irunmalé padroeiro, existem templos para os orixás
funfun. Eles são reconhecidos como pais da humanidade,
os senhores do mundo, os pais dos duzentos irunmalés da
esquerda e representam o poder fecundador masculino.
Seus pertences são marcados com pintas brancas e eles só
se vestem de branco. Geralmente se apresentam como
velhos, lentos e sábios.
Os duzentos irunmalés da esquerda, chamados de eborás,
são todas as outras divindades cultuadas pelos iorubás
como Ogum, Oiá, Xangô, Oxumaré e Egum.
A grande maioria dos orixás está intimamente ligada à
noção de família. O orixá seria em principio um
ancestral divinizado que, em vida, estabelecera vínculos
que lhe garantiam um controle sobre determinadas forças
da natureza ou domínio sobre atividades como o trabalho
com metais, caça, ou ainda, o conhecimento das
propriedades e uso das plantas.
O conhecimento dos orixás, suas energias e rituais
sempre foram transmitidos pela tradição oral, não
existindo tipo de registro escrito. Os seus mitos
oferecem uma formação ético-moral importante, que
movimenta o mundo, como uma referencia de valores para a
vida.
Os orixás estão presentes no cotidiano de seus fieis.
Cada um tem sua cor, égide, pedra, dia da semana, dança,
canto, saudação, animal sagrado, comida, objetos de
oferendas, filiação, função e lugar de poder.
Para os iorubás, todo ser vivo deve ser respeitado como
uma criação divina. O iorubá, antes de se alimentar,
deveria primeiro devolver aos orixás o axé, a energia
divina. Dessa forma, ao consumir a carne do animal ele
estaria em comunhão com o próprio deus. Eles agiam da
mesma forma com os vegetais, pois a terra era
considerada sagrada. Os homens poderiam usá-la, mas não
possuí-la.
No Brasil, os principais orixás são:
Exu ou Elegbara –
é considerado o mensageiro entre os orixás. Tem a função
de atender aos pedidos feitos aos orixás e punir as
pessoas que não cumprem suas obrigações. É simbolizado
com um tridente. As cores que representam esse orixá são
o vermelho e o preto e o dia da semana é segunda-feira.
Iansã –
é um orixá feminino, considerada uma guerreira. Seu
símbolo é um raio, possuindo o domínio dos ventos e das
tempestades. Suas cores são o branco e o vermelho e o
dia da semana é quarta-feira.
Iemanjá –
é outro orixá feminino, considerada a mãe de todos os
orixás. Ela representa as águas, por isso seu símbolo é
um colar de contas cristalinas. Sua cor é azul e o dia
da semana é o sábado.
Ogum –
é o orixá das guerras. Criou as montanhas e os minerais.
Tem o poder de abrir os caminhos para a evolução do
mundo usando a sua espada. As cores que o representam
são o vermelho ou o anil e o dia da semana é a
quinta-feira.
Oxalá ou Obatalá –
é o orixá criador da humanidade,
é também divindade do pensamento, do silêncio, do frio e
dos defeitos físicos. Seu símbolo é o cajado, sua cor o
branco, e o dia da semana é sexta-feira.
Oxóssi –
é o orixá da caça e junto com Ogum desbrava os caminhos
e remove os obstáculos da vida. É representado pelo arco
e a flecha, pela cor verde e seu dia é quinta-feira.
Oxum –
é um orixá feminino que representa a beleza e o amor.
Seus símbolos são os seixos rolados e a sua cor é o
amarelo. O dia da semana é sábado.
Xangô –
é o orixá do poder e da justiça. Domina os raios e os
trovões. Seu símbolo é o machado de duas lâminas e as
cores são o branco e o vermelho. O dia da semana é a
quarta-feira.
Nanã - é
a mais velha dos orixás femininos e por isso é muito
respeitada. Associada à lama, às águas paradas e aos
pântanos, e como estes é lenta, perseverante e tranquila.
Nanã dança com a dignidade duma pessoa anciã, segurando
nas mãos o seu símbolo, ibirí. Suas cores são lilás e
branco e seu dia da semana é o sábado.
(Texto da Prof.ª Josi
Brandão, da redação d'O Historiante).
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