Entrevistas com professores e educadores - Ensino de História da África e africanidades

 

                                                                                                                                                       

     

 

Entrevista com

Prof. Esp. Rafael Aguiar dos Santos

 

Filiação Teórica: Materialismo Histórico e Dialético

Local de Trabalho: Colégio Aprovação (2010-2012)

Colégio Pitágoras (2012)

Instituto Albert Einstein (Pré-Vestibular) Regime: Dedicação Exclusiva. (atual)

 

 

Em sua opinião, qual a importância da Lei 10.639/03 para o ensino escolar no Brasil?

 

Resposta: A obrigatoriedade do ensino da história da África e Cultura afro-brasileira e africana, após a aprovação da Lei 10.639/03, é hoje de fundamental importância dentro da prática do ensino de História, tendo um importante papel no processo da luta contra o preconceito e a discriminação racial, uma vez que a inclusão do debate das questões étnicas e raciais é de fundamental importância para a promoção da igualdade racial e ao mesmo tempo garantindo uma ressignificação e valorização cultural das matrizes africanas que formam a diversidade cultural brasileira e o complexo jogo ligado as teias sociais que permeiam a realidade no qual nós estamos inseridos. Sendo que professores tem um papel fundamental nesse processo, repassando o conteúdo de modo critico e reflexivo, permitindo aos discentes reconhecerem-se enquanto agentes históricos e sociais construtores da realidade no qual estão inseridos.

 

Você teve na sua formação universitária conteúdos previstos na Lei 10.639/03?

 

Resposta: Sim, mas os mesmos vieram condensados e de modo muito superficial dentro de algumas cadeiras, especificamente as ligadas às temáticas de Brasil, Antropologia Nacional e Maranhão, não obstante tive apenas uma cadeira de História da África na UFMA (Universidade Federal do Maranhão), sendo a mesma de 60 horas, no qual o conteúdo foi abordado de modo relativamente critico e reflexivo, porém a mesma era eletiva para a Licenciatura em História. E dentro das duas pós-graduações que realizei, uma em Geo-História e a outra em Docência do Ensino Superior, não fizemos nenhum estudo aprofundado relativo aos conteúdos ligados a Lei 10.639/03.

 

Percebe alguma falha na abordagem proposta pela Lei 10.639/03?

 

Resposta: Não. Apenas vejo que se faz imprescindível a criação de programas visando a formação de educadores conscientes e preparados para o desenvolvimento da temática em sala de aula através de cursos de formação nas universidades, com disciplinas que trabalhem o tema, com o desenvolvimento de ações que suscitem debates e reflexões dentro das instituições de ensino básico para aqueles profissionais que já estão atuando, visando que a lei possa ser cumprida na prática.

 

Na sua escola, trabalha-se com os conteúdos da lei 10.639/03? Existe alguma resistência? De quem?

 

Resposta: Atualmente trabalho em curso pré-vestibular visando à preparação para o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), com as disciplinas de História Geral e Sociologia, sendo que há uma preocupação e incentivo por parte da Direção pedagógica, visando ao trabalho junto aos alunos dos conteúdos ligados a lei 10.639/03, dando liberdade total ao professor para trabalhá-los e incentivando o mesmo a fazê-lo. Anteriormente, até dezembro de 2012 trabalhei em duas Instituições de Ensino Rede Particular da Cidade de São Luís, com os ensinos fundamental e médio da educação básica. Sendo que as mesmas escolas adotavam metodologias nacionais de ensino, ligados a um sistema com materiais e recursos específicos para que o professor trabalha-se com os mesmos em sala de aula. Porém embora abordado de modo muito superficial, os conteúdos ligados ao ensino da história e cultura afro-brasileira e africana no Brasil estavam presentes no material didático trabalhado, e o professor tinha liberdade total para desenvolver o conteúdo e trazer novas abordagens ou recursos extras em uma das instituições de ensino. Já em outra devido a uma maior fixidez na estrutura do sistema de ensino adotado havia uma menor liberdade de ação, porém ainda assim, era possível desenvolver junto aos discentes de modo critico e analítico o conteúdo ligado a ensino da história e cultura afro-brasileira e africana.

 

Há material didático específico para os conteúdos? Existe material didático que aborde as especificidades regionais?

 

Resposta: Meus alunos geralmente demonstram um interesse muito grande quanto a sugestões de Livros, sites, filmes sobre a temática, uma coleção muito interessante é a coleção História Geral da África, distribuída em oito volumes. Criada e reeditada por iniciativa da (UNESCO), a coleção aborda desde a pré-história do continente africano até os anos 1980, e está disponível para download gratuito no site do domínio público: http://www.dominiopublico.gov.br. Outor site interessante que reúne um grande volume de material é o site casa das Áfricas: http://www.casadasafricas.org.br/. Com Livros, fotos, palestras em video, informações etc. Quanto a materiais didáticos que abordem conteúdos ligados a temática regional os mesmos são mais escassos e difíceis de encontrar.

 

 

Esses conteúdos são trabalhados durante o ano todo ou só em dias específicos como ‘Abolição da Escravidão” e “Dia da Consciência Negra”?

 

Resposta: O ano todo, mas o mesmo é trabalhado de forma condensada dentro do conteúdo ligados a Historia Geral ou do Brasil ou mesmo a Sociologia Brasileira.

 

Que melhorias você poderia sugerir para um ensino efetivo acerca de História da África, escravidão e cultura afro-brasileira?

 

Resposta: Hoje faz-se nescessário ampliar as visões culturais e vencer as lacunas dos livros didáticos quanto a ênfase na cultura negra e formar multiplicadores de conhecimento que venham a trabalhar com os educandos a diversidade cultural. Nesse sentido a níveis de graduações e pós-graduações devem ser realizados um trabalho mais intenso quanto ao currículo visando formar professores preparados para trabalhar com temáticas ligadas a Culturas Africanas e Afro Brasileira. Colocando a lei em prática. Promovendo cursos junto a profissionais da área que não tiveram uma formação especifica para trabalhar com a temática, aumentado e incentivando a inserção de um maior numero de cadeiras nas Universidades que abordem a temática, fomentando ainda a criação de grupos de pesquisa e estudo sobre a temática e junto as escolas de educação básica vislumbrando ainda a criação de grupos de estudo envolvendo professores, alunos, funcionários e pais, que tenham interesse em estudar e conhecer a cultura afro-brasileira. Também deve haver um maior incentivo governamental quanto à questão da pesquisa ligada a Historia da África e Cultura Afro-brasileira, o que geraria um maior volume de material didático especifico que poderia ser trabalhado concretamente sem sala de aula, principalmente ligado a temáticas regionais. Desse modo teremos uma formação de um número cada vez maior de multiplicadores de conhecimento relativos à temática.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 

 

 

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