Entrevista com
Prof.ª
Ana Paula de Oliveira Carvalho
(mestranda UERJ)
Bacharel e Licenciada em História (UFF),
mestranda em História (UERJ). Trabalha com os
temas:
escravidão, tráfico de escravos, História do
Brasil, História da África e História Social.
Currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4298257Z7
Há quantos anos exerce o magistério? Para quê
segmentos? Rede pública ou particular?
Resposta: Há 9 meses. Ensino Fundamental e
Médio. Rede Pública – Estado do Rio de Janeiro.
Você considera válida a criação da lei ?
Resposta: Sim. Eu considero válida. Quase
sempre ao se estudar a história, partimos de uma
ótica eurocêntrica. Como se todas as sociedades
só tivessem sentido a partir do momento em que
tiveram contato com os europeus. Perceber a
existência dessas sociedades antes de tal
contato é imprescindível para compreendê-las
melhor.
E no caso do Brasil essa necessidade se torna
ainda mais aguda, exatamente pelo nosso passado
de intenso contato com o continente africano
oriundo do tráfico negreiro. Muitas vezes,
minimiza-se a influência africana na nossa
sociedade,como se o legado deixado para o povo
brasileiro se restringisse a algumas palavras, à
musicalidade, às comidas típicas ou aos aspectos
religiosos. Considero que a criação da lei
venha a contribuir para corrigir esse equívoco e
proporcionar ao continente africano, e claro a
sua população, a devida importância que por
muito tempo lhe foi negada.
Em sua formação acadêmica, foi contemplado o
ensino de História da África?
Resposta: Sim. Não era ainda uma disciplina
obrigatória, mas tive a oportunidade de cursar
duas matérias. O interessante é que, no momento
em que fazia a graduação (2007-2011), teve
início na UFF - instituição pela qual me graduei
- os primeiros concursos para a cadeira de
África (apesar de já se ter um professor da
faculdade especialista em África contemporânea).
Era uma época na qual se dizia: o que está na
moda são os “africanistas”. Intrigas à parte, as
duas disciplinas foram muito importantes para
minha formação.
Quais as maiores dificuldades que você encontra
no Ensino
de História da África e dos africanos no Brasil
e Cultura afro-brasileira".
Resposta: Uma das maiores dificuldades que
verifico parte dos próprios alunos, os quais
muitas vezes consideram que estudar o continente
africano é estudar, exclusivamente, o culto aos
orixás. Romper com o preconceito é o primeiro
passo. Tentar mostrar aos alunos o quanto a
identidade negra é algo intrínseco a todo
brasileiro independente da cor da pele, é
indispensável para legitimar o ensino da
História da África e dos africanos.
Você considera que hoje há bibliografia e
materiais suficientes para auxiliar o professor
nesse trabalho?
Resposta: Acho que sim, após o advento da
Internet tudo ficou muito mais fácil. A própria
questão de livros publicados no Brasil voltados
para o estudo de África, considero ter melhorado
muito nos últimos anos. E aí, destaco o
excelente livro de Leila Hernandez: A África em
sala de aula. Hoje os livros didáticos são
avaliados levando em consideração se se adaptam
ou não a obrigatoriedade do ensino de África. No
início desse ano, tive uma grata surpresa: uma
das escolas em que leciono recebeu um livro
específico para se trabalhar a História e
cultura africana. É claro que não basta enviar
material específico, é importante contribuir
para estimular o professor a trabalhar o
conteúdo de forma adequada, até porque muitos se
graduaram quando ainda não havia essa
obrigatoriedade.
Pode nos falar sobre uma ou mais atividades que
você tenha realizado com os alunos e tenha
obtido êxito?
Resposta: Como leciono no Estado do Rio de
Janeiro, devemos cumprir um currículo
mínimo.Quase sempre me limito a falar de África
quando esse currículo pede. Sei que ainda não é
o ideal, mas já é um começo. No ano passado,
quando falávamos sobre o Imperialismo, trabalhei
com imagens. Trouxe imagens do Imperialismo no
Congo Belga, realizamos um debate enfatizando as
mazelas dessa política e foi bem produtivo.
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