24/08/2013
Maranhão, meu tesouro, meu
torrão.
Prof.ª
Joyce Oliveira Pereira
(Clique aqui e confira mais
textos desta autora)
Um dos territórios mais difíceis de serem conquistados
durante o processo de colonização do Brasil foi o Estado
do Maranhão: as correntes marinhas permitiam contato
mais fácil com Portugal do que com o resto do “Brasil”,
a colonização feita por Portugal não adentrou o ‘sertão’,
e esta foi feita por cunho individual dos boiadeiros
que se deslocaram da Bahia e devassaram o sertão até
meados do século XVIII.
Estas diferenças de colonização foram primordiais para o
processo de adesão do Maranhão à independência do Brasil
(1822-1824) e, se você visitar o estado hoje, vai
perceber o quanto o ‘Sul’ é diferente do
‘Norte’, bem como o leste é diferente do oeste. Mas,
essas distinções só acentuam os tesouros históricos,
culturais e naturais que possuímos. Você pode tanto ir
às praias no litoral como escalar serras e banhar-se em
lindas cachoeiras no sul. Se viajar de carro, pode notar
a diferença dos biomas do litoral, mata dos cocais,
cerrado, floresta amazônica num mesmo território.
Encontramos resquícios dos primeiros homens, casarões,
sobrados, edificações, frutos do processo de colonização
portuguesa, casas do período da civilização do couro,
complexos industriais da época da euforia (final do
século XIX e início do XX) por todo o território
maranhense. Alguns desses locais tornaram-se lugares de
memória e história, mas, infelizmente, muito do que é
patrimônio está sendo perdido por falta de visão: falta
a pesquisa para impedir que as construções sejam
modificadas.
Culturalmente, temos várias manifestações que em geral
retratam o catolicismo popular. A mais famosa é o
bumba-meu-boi, mas temos a festa do divino espírito
santo, são bilibeu, procissões aos santos dos cultos
afro-brasileiros e aos santos protetores dos vaqueiros,
a festa das comitivas.
As constantes secas na maioria dos estados do nordeste
brasileiro suscitaram migrações maciças para o Maranhão
do final do século XIX e durante o século XX. Dessa
forma, podemos perceber essa presença na arquitetura, no
gosto pelo forró e no linguajar. Sim, nós temos sotaque!
Mas ele depende da região que o maranhense vem: se fala
“esse pequeno” é do litoral, se diz “armaria nãm!”, é
dos cocais, se xia em algumas palavras é da região
amazônica, se fala cantado (misturando o ‘piauiês’ com
‘tocantinês’) é do sul. A presença significativa de
sul-rio-grandenses na região sul do estado também tem
sua contribuição com a implantação de um Centro de
Tradições Gaúchas na cidade de Balsas.
Apesar de vivermos num território que têm diversas
possibilidades de aproveitamento e transformação social,
nosso povo ainda não possui o respeito e a cidadania que
merecem. Em muitos pontos, ainda estamos verossímeis ao
“Maranhão 66”, de Glauber Rocha.
O Maranhão é composto de muitos povos diferentes que
raramente mantém contatos, intercâmbios culturais. Por
isso, quem vai aos quatro extremos do território têm
um impacto político, social, cultural e culinário. Se
isso é ruim não sei, mas isso é o que faz do Maranhão meu
tesouro, meu torrão.
(Texto da
Prof.ª Joyce Oliveira Pereira, da redação d'O Historiante)
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mais
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