A pecuária em Pernambuco e o povoamento do Agreste.

                                                                                                                                                  

  

 

24/08/2013

A pecuária em Pernambuco e o povoamento do Agreste.

 

 

Prof. Marcos Antônio Leite Lopes Filho

(Clique aqui e confira mais textos deste autor)

 

 

Após a colonização do Brasil, a criação de gado foi de certa forma uma atividade econômica que deu apoio à cana de açúcar. Mas, como aconteceu esta transformação e como a pecuária contribuiu para o povoamento do Estado de Pernambuco? Vamos ver abaixo uma breve explanação a respeito disto.

 

Em torno da pecuária, qual era a utilidade do gado nas fazendas? O gado era usado no transporte de cana e muitas atividades no Engenho, que dependiam de bois e cavalos em grandes números, além destas atribuições, o gado era bastante importante nas fazendas dos proprietários.  Os senhores de engenho criavam os gados distanciados dos canaviais, tendo como foco a preservação das plantações, uma vez que os senhores não dispunham de arame para cercar a localidade de seu interesse.

 

Moer a cana era uma das atividades do gado no Engenho

 

Como foi inserida a atividade da pecuária no cotidiano dos indivíduos?  No inicio, a criação de gado se deu com pessoas que se submeteram a uma nova realidade, com um espírito independente a hierarquia social rígida da civilização açucareira. Como o capital era pouco, dificultava a inserção de adquirir novos escravos e plantar canaviais. Muitos senhores procuravam estabelecer-se perto de rios navegáveis e próximos a costa, muitos criadores alagoanos e sergipanos subiram o rio São Francisco em direção ao sertão devido ao medo de perder seus bens por conta da guerra holandesa, pois corriam um sério risco dos invasores roubarem seus bens.

 

O Governo Português de Pernambuco montou várias emboscadas aos holandeses no Agreste. Usavam novas trilhas, caminhos de difícil acesso, destruindo vários canaviais onde existia o domínio holandês. Como consequência, houve uma exploração mais extensa da região devido a estas emboscadas, caminhos que nunca haviam sido trilhados entraram nas rotas, e tomaram conta das idas e vindas da região nordeste.

 

Cada vez mais os pecuaristas tomavam as terras dos índios Cariris, e ainda chamavam esta situação de guerra justa, tomando  consequência a esta situação, continuaram a povoar e desbravar o Agreste e parte do Sertão. Os índios que restaram recolheram-se às serras, aos brejos menos acessíveis e menos cobiçados pelos pecuaristas. Com grandes extensões de terras, os pecuaristas tinham muito espaço para criar o gado, onde era criado solto, e pouco precisava de cuidados.

 

Como funcionava a administração da fazenda?  Grande parte do tempo, a fazenda era administrada por um vaqueiro, que cuidava dos afazeres. O proprietário vivia geralmente na cidade ou em locais distantes da fazenda, sempre resolvendo algo, já o vaqueiro verificava, consertava e fazia provisões deixando a fazenda em ordem até a chegada do proprietário. Existia a organização em torno dos animais de cada proprietário, cada animal recebia um sinal ou uma ferra, facilitando a identificação dos animais. O gado era marcado em brasa com um ferro, com as iniciais do seu proprietário, já os caprinos e ovinos recebiam um corte na orelha, corte que cada proprietário fazia à sua maneira. Após cuidar e engordar o gado, chegava a hora de se reunir e apartar o gado, separando-o de propriedades diversas e ferrando os novos. Mas, uma vez ou outra, o gado fugia ao laço do vaqueiro, ficando muito tempo na caatinga. Como passava algum tempo afastado, sem contato com  humanos, o gado se tornava selvagem  e logo a fama de animal selvagem se espalhava pelas redondezas. Os vaqueiros de regiões vizinhas se reuniam, e quem conseguisse derrubar o boi ganhava, além de fama, o próprio boi ou dinheiro vivo. Uma característica interessante é o fato que a vaquejada, uma festa popular, certamente teve origem nas apartações.

 

Como já foi comentado, vimos às atividades do vaqueiro na fazenda, podemo-nos perguntar: Mais qual era o seu salário? Sua remuneração correspondia a um quarto da produção da fazenda, de cada quatro bezerros que nascia, um lhe pertencia e o restante era do proprietário. Em algumas fazendas grandes, por conta da produção elevada, o vaqueiro se tornava fazendeiro. Mas além do vaqueiro, existiam alguns mestiços na fazenda, estes faziam serviços auxiliares, recebendo uma pequena quantia. Seus serviços derivavam a tanger bois em pequenas áreas, até andar várias léguas acompanhando o trajeto do gado, estes eram chamados de tangedores ou tangeiros. Os tangedores nas suas longas caminhadas, perseguindo animais bravos, levavam consigo uma alimentação própria, que seguia: carne seca pisada no pilão, farinha, rapadura, e um saco de couro. Para levar a água, utilizavam a borracha, conservando e deixando a água fria e límpida.

 

Vaqueiro, peça importante da Pecuária e da História dos Sertões

 

Para prover a própria alimentação, os vaqueiros e agregados derrubavam trechos de matas nos brejos, desde que os índios não oferecessem séria resistência, com isso, estes faziam roçados onde cultivavam alimentos básicos, como: milho, feijão e mandioca. Os agricultores costumavam plantar perto de leitos de rios secos, pois eram úmidos e ajudavam na plantação, os agricultores não se fixavam nos brejos, eles abriam clareiras que serviam de abrigos em dias intensos de trabalho, estes abrigos, eram geralmente feitos de folhas de pindoba ou de catolé e em algumas vezes de sapé.

 

A população Agrestina cresceu consideravelmente em meados do Século XVII, a pecuária extensiva já não era capaz de absorver a mão de obra existente, aos poucos os índios que se refugiaram nos brejos mais altos, foram sendo aldeados e o clima muito seco, fez com que os habitantes se refugiassem em brejos mais úmidos coletando produtos agrícolas e florestais. Com essa concentração, a agricultura de mantimentos e á cultura da cana de açúcar que era transformada em açúcar e cachaça, dava origem a sítios e pequena vilas. Os agregados dos fazendeiros da caatinga e os foreiros, muitas vezes se tornavam: agricultores e rendeiros, que abasteciam o Agreste de gêneros alimentícios. Em torno da segunda metade do século XVIII, existiam na região Agrestina seis freguesias, com uma população no total de: 14.095 habitantes como podemos observar abaixo de uma maneira mais detalhada:

               

 Freguesias:

 

Capinha Grande

2.480

Cimbres

1.140

Bom Jardim

4.687

Limoeiro

272

Bezerros

1.838

Garanhuns

3.669

 

 

Observamos uma tendência  maior, uma grande concentração populacional nas áreas úmidas do brejo, onde estava localizado : Cimbres, Bom Jardim e Garanhuns, que em geral vivia da Agricultura de subsistência. As outras três vilas, estavam localizadas as margens dos caminhos de penetração - Campina Grande:  era o centro de comercio de gado, era a porta de penetração para o sertão paraibano, para o Cariri, Limoeiro e Bezerros, onde a localização era nos vales do Capibaribe do Recife.

 

Geralmente, a população Agrestina era pobre, limitava-se a cultivar algodão, produto cuja cultura se expandia desde o século XVIII, além do algodão, a agricultura se sustentava por meio do milho, feijão, a roça e a cana de açúcar, para fazer  mel e rapadura. A população pobre ganhava vida conforme a área em que residia, o trabalho funcionava da seguinte forma: o comercio do gado era em Campina Grande e Bom Jardim, apresentando o gado ao senhores de Engenho da região da mata ,  ou se alugando como tangedores de gado que ia para o Recife, Salvador, Garanhuns, Cimbres e Bezerros. Existia uma grande influencia destas duas cidades, dentro de uma área econômica muitas vezes contestada.

 

Podemos observar que dentre estas transições, a atividade pecuária desempenhou um papel importante dentro das entrelinhas da história de Pernambuco, e de todo o Nordeste. Com muitas dificuldades, vários atores participaram e contribuíram para a construção desta história. Não podemos generalizar e dizer que a pecuária foi o único fator que contribuiu para a História de Pernambuco, mas vale ressaltar que toda a trajetória foi de cunho importante para o povoamento e conhecimento de vastas terras até então povoadas por índios.

 

 

(Texto do Prof. Marcos Antônio Leite Lopes Filho, da redação d'O Historiante)

(Clique aqui e confira mais textos deste autor) 

 

 

 

 

 

 

Sugestões Leitura: 

 

- Formação do Brasil Contemporâneo (Caio Prado Júnior)

 

- Terra e o Homem do Nordeste ( Manuel Correia de Andrade)

 

 

 

 

 
© Copyright Desde 2011 O Historiante